Aione 31/03/2015Sabe aquele típico livro do qual é praticamente impossível desgrudar enquanto não virar a última página? O Voo da Libélula é um excelente exemplo, e configurou em uma das minhas melhores leituras de 2015, até então.
É inegável que Michel Bussi domine completamente a arte de envolver o leitor. Alterando pontos de vista na narrativa, traz uma maior abordagem dos eventos, ao mesmo tempo em que esconde muito bem cada uma das pistas deixadas pela trama. Outra de suas técnicas é a de revelar, previamente, a existência de alguma informação chave para o caso, mas demorando a dizer seu conteúdo, de forma a elevar ao máximo a curiosidade do leitor. Eu quase não conseguia conter minha ansiedade em descobrir as verdades sobre o misterioso caso e sobre as atuais situações vivenciadas pelos personagens.
As informações sobre o passado e a investigação sobre a identidade de Lylie, a Libélula, única sobrevivente do acidente áereo ocorrido em 1980, são dadas ao leitor através das palavras escritas pelo detetive Crédule Grand-Duc em seu diário, cuja leitura é entrecortada pelas ações presentes, no ano de 1998. Ao mesmo tempo em que eu tinha interesse em conhecer todos os detalhes dos últimos 18 anos, também me interessava pelo que estava acontecendo às personagens nos dias que abrangem a história.
“Ainda não conseguia acreditar no que estava vendo. Suas mãos tremiam. Um forte calafrio o percorreu, da nuca à base das costas.
Tinha conseguido!
A solução estava ali, desde o princípio, à espera, sem pressa: era impossível encontrá-la na época, dezoito anos antes. Todo mundo tinha lido aquele jornal, todo mundo o tinha esmiuçado e analisado mil vezes, mas ninguém poderia ter adivinhado, nem em 1980 nem durante todos os anos que haviam se seguido.
A solução saltava aos olhos… com uma condição.
Uma única condição, totalmente absurda.
Abrir aquele jornal dezoito anos depois!”
página 19
Apesar de o ponto forte do livro estar contido em sua capacidade de envolvimento e na trama magistralmente bem desenvolvida, o autor também inseriu, em um segundo plano, temáticas atraentes, capazes de tornar a obra ainda mais completa. Foi bastante interessante acompanhar os sentimentos conflituosos de cada personagem e a maneira de como cada vida foi afetada desde o acidente. Michel Bussi não criou personagens idealizadas, mas sim deu vida a pessoas verossímeis e contraditórias como somente o homem sabe ser.
Formulei várias teorias durante a leitura e, quase ao final dela, pude chegar próxima à verdade. Contudo, só pude realmente compreender toda a situação quando ela já estava sendo revelada, e fiquei extremamente satisfeita com o desfecho.
“Um pensamento louco e insistente brotava em sua mente. E se aquele avião fosse apenas um engodo, uma encenação para deixá-lo impressionado? Lylie não tinha lhe dito tudo.
(…) E se Lylie nunca houvesse tido a oportunidade de ir embora para longe, para outro lugar? E se tivesse ficado ali, bem perto, e seu objetivo fosse totalmente diferente…
Afastá-lo.
Afastá-lo porque o que ela queria fazer era arriscado, perigoso.
Afastá-lo porque ele não teria concordado.
(…) E se Lylie tivesse descoberto a verdade e simplesmente tentasse se vingar?”
página 86
É preciso dizer, entretanto, que alguns pontos pareceram terem ficado em aberto, a meu ver, mesmo que nenhum deles tenha sido essencial ao caso em si. Nada sobre a investigação deixou de ser respondido, mas alguns passos e acontecimentos transcorridos durante as ações dos personagens acabaram não tendo uma consequência narrada ao leitor, e eu gostaria de descobrir o que acabou por acontecer nesses momentos. De qualquer maneira, nada disso alterou o impacto que o livro teve em mim.
O Voo da Libélula cumpriu com excelência seu papel de thriller, causando todas as sensações que uma boa obra do gênero deve conter em si, além de ter me proporcionado excelentes e prazerosos momentos de leitura; afinal, foi como se o mundo ao meu redor deixasse de existir conforme eu imergia nas páginas. Agora só me resta aguardar pela adaptação cinematográfica e torcer para que ela faça jus à obra.
site:
http://minhavidaliteraria.com.br/2015/03/31/resenha-o-voo-da-libelula-michel-bussi/