Thaisdv 20/03/2024
Resenha Previsivelmente Irracional — Dan Ariely
Cada pessoa tem uma forma de ver o mundo, e esse livro nos traz uma reflexão buscando entender o que de fato influencia as nossas decisões na vida, fazendo um balanço entre o que acreditamos com o que de fato molda o nosso comportamento.
As pessoas raramente escolhem as coisas em termos absolutos, sempre comparamos a vantagem de alguma coisa em detrimento de outra, levando em consideração o valor que estimamos. Geralmente as pessoas não sabem o que querem, a não ser que haja um contexto, pois tudo é relativo, e este pensamento nos ajuda a tomar decisões.
O conhecido comportamento de manada, é quando supomos que algo é bom ou ruim baseado na decisão de outras pessoas. O chamado comportamento de auto-manada é quando acreditamos que algo é bom ou ruim com base no nosso próprio comportamento anterior. Ou seja, quando temos alguma experiência, sabemos como nos sentimos em relação a ela, e assim passamos a repeti-la, essa decisão já foi tomada tantas vezes que acaba virando um hábito. De acordo com a teoria econômica, baseamos nossas decisões em nossos valores fundamentais.
Porque algo grátis é tão sedutor? Grande parte das transações tem seu lado positivo e negativo, mas quando algo é grátis, esquecemos o lado negativo, pois nos dá tamanha carga emocional que percebemos o que está sendo ofertado como imensamente mais valioso, porque o ser humano é muito sensível a perdas, e quando algo é grátis, não há essa possibilidade. Esse conceito do zero, também se aplica ao tempo gasto em uma atividade, pois é o tempo retirado de outra, como por exemplo, ficar em uma longa fila esperando certo benefício grátis. A forma como somos atraídos pelo grátis pode gerar como consequência decisões que não atendam os nossos interesses.
Vivemos simultaneamente em dois mundos, um regido pelas normas sociais e outro onde as normas de mercado prevalecem. As normas sociais incluem pedidos amigáveis que uma pessoa possa fazer a outra, estão envolvidas na nossa natureza social e espírito comunitário. Já as normas de mercado as trocas são bem definidas: salários, preços, juros, etc, ou seja, você obtém o que paga. Quando separamos estas normas a vida flui perfeitamente. Agora, quando as normas sociais e de mercado colidem é onde surgem os problemas, e a dificuldade de restabelecer o relacionamento. Quando oferecemos a alguém um pagamento financeiro em uma situação governada pelas normas sociais, a oferta pode reduzir a motivação delas em se envolver e ajudar. Somos animais sociais atenciosos, mas, quando as regras do jogo envolvem dinheiro, a tendência é arrefecida. A principal lição é que quando envolvemos trocas baseadas em esforço, conseguimos conservar as normas sociais.
As três idiossincrasias irracionais da natureza humana. Primeiro: nos apaixonamos pelo que já temos. Segundo: enfocamos o que podemos perder, e não o que podemos ganhar. Terceiro: presumimos que as outras pessoas verão as transações da mesma perspectiva que nós. A propriedade modifica de maneira fundamental a nossa perspectiva. Nós temos a propensão de supervalorizar o que possuímos, isso é um viés humano básico que reflete a tendência geral de nos apaixonamos por tudo que está ligado a nós mesmos e sermos excessivamente otimistas a esse respeito.
Por que as opções nos desviam de nosso objetivo? E por que nos sentimos compelidos a manter portas abertas, mesmo a um alto custo? Manter as portas abertas geram uma alta carga emocional e também financeira, para isso é necessário que, de maneira consciente, fechemos algumas destas. As pequenas, são mais fáceis, pois é simples riscar alguns nomes de uma lista de cartões de natal, por exemplo. Agora, as portas grandes, aquelas mais difíceis de fechar, são aquelas que poderiam levar a uma carreira nova ou a um emprego melhor, são aquelas ligadas aos nossos sonhos. Somos irracionalmente compulsivos em manter portas abertas, é assim que estamos programados. Deveríamos fechar as que roubam a nossa energia, por que a questão não é só mantê-las abertas por tempo demais, mas também pagar o preço pela indecisão.
Quando acreditamos que algo será bom, geralmente é bom, e quando achamos que será ruim, geralmente é. Em outras palavras, o conhecimento prévio pode mesmo modificar a atividade neural subjacente ao próprio paladar, por exemplo, de modo que quando esperamos que algo tenha gosto bom ou ruim, realmente terá. As expectativas podem influenciar quase todos os aspectos da nossa vida. O nosso comportamento pode ser influenciado por estereótipos e que a ativação destes pode depender de nosso estado mental atual e de como nos vemos no momento. As expectativas são mera antecipação dos estímulos.
Quando todos cooperamos, a confiança que temos uns nos outros é alta, e o valor para a sociedade é máximo. Mas a desconfiança é contagiante, pois quando vemos alguém mentindo em anúncios, passamos a agir de forma semelhante, e assim a confiança se deteriora e todos saem perdendo. Quando as pessoas se distanciam de parâmetros do pensamento ético, elas tendem a desonestidade, mas se somos lembrados da moralidade em um momento de tentação, somos mais propensos à honestidade.
Nossos comportamentos irracionais não são aleatórios nem sem sentido, são sistemáticos e previsíveis. Todos nós cometemos os mesmos tipos de erros repetidamente, por causa da estrutura básica do nosso cérebro. A economia faria muito mais sentido se fosse baseada em como as pessoas de fato se comportam, e não em como deveriam se comportar. Essa ideia é a base da economia comportamental, que foca na ideia de que as pessoas nem sempre se comportam racionalmente e com frequência cometem erros em suas decisões.
Somos peões em um jogo cujas forças em grande parte não entendemos. Costumamos imaginar que temos o supremo controle sobre as decisões e o rumo de nossa vida, mas infelizmente essa percepção está mais ligada a nossos desejos, a como queremos nos ver, do que a realidade.
Este livro descreve diversas forças (emoções, relatividade, normas sociais…) que influenciam o nosso comportamento. Embora elas exerçam grande influência em nosso comportamento, a tendência natural é que subestimemos ou ignoramos esse poder por completo. Isso acontece, não por falta de conhecimento, e sim por falta de prática ou fraqueza mental. Os erros resultantes são como agimos na vida, como desempenhamos nossas atividades. Fazem parte de nós. No momento que compreendemos e digerimos as informações, elas já não são mais reflexos fiéis à realidade. Em essência, somos limitados às ferramentas que a natureza nos concedeu, e a forma natural como tomamos decisões é limitada pela qualidade e pela precisão dessas ferramentas. Embora a irracionalidade seja corriqueira, isso não significa necessariamente que estejamos indefesos. Uma vez que entendemos quando e onde podemos nos equivocar em nossas decisões, podemos tentar ser mais vigilantes, nos forçar a pensar de maneira diferente ou usar a tecnologia para superar nossas deficiências.
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