Valéria Cristina 06/11/2023
Um país devastado pela guerra
Mais um livro de um autor para mim desconhecido e que me surpreendeu positivamente. Desta vez, escolhi um escritor de Serra Leoa, Ishmael Beah.
A primeira coisa que se destaca da leitura são as palavras que formam a narrativa. Elas não apenas relatam fatos, elas tocam a alma do leitor.
A história se passa na cidade de Imperi e começa quando, depois de anos de guerra, as pessoas começam a retornar ao seu local de origem para tentar ajustar novamente a vida.
A volta delas, que se encontravam espalhadas pelo país (escondidas ou em campos de refugiados), proporciona reencontros, mas também tristeza pela falta que fazem aqueles que não retornam, pois a guerra civil dizimou centenas. Entre os que retornam, muitos estão mutilados. A cidade está destruída e o recomeço não é fácil. O medo do passado se repetir é constante. A visão da cidade devastada e repleta de esqueletos humanos exige força e determinação.
Mais tarde, com a volta da vida à quase normalidade, acompanhamos a chegada da empresa mineradora estrangeira e como a cidade é abalada por esse fato. Vemos o esgarçamento das tradições, a desconsideração pela experiência dos anciãos, a exploração dos trabalhadores, as mortes não veiculadas, os acidentes de trabalho ignorados, a depredação do meio ambiente. Assim, a vida novamente se deteriora. Agora não mais pela guerra, mas pela opressão estrangeira.
A corrupção nos serviços públicos, principalmente dos chefes de aldeias e da polícia, a falta de incentivo à educação, o aumento da prostituição, os crimes, bem como a dependência do capital estrangeiro faz com que alguns partam para a capital do país em busca de melhores condições de vida.
Essa opção que parecia promissora não se mostra tão positiva, uma vez que na capital a vida é ainda mais complexa, considerando-se as dificuldades em uma cidade grande, o abuso do poder, a corrupção desenfreada. A única coisa que mantém acesa a chama da coragem é a presença daqueles que se ama.
De forma poética e inspirada, Beah nos fala da realidade de um país devastado pela guerra que tenta sobreviver diante da imensa desigualdade social e da exploração de suas riquezas pelos detentores do poder e pelas empresas internacionais.
Ishmael Beah é uma ex-criança soldado Serra-leonese, autor do livro de memórias "A Long Way Gone: Memoirs of a Boy Soldier".
Chegou aos Estados Unidos em 1998. Concluiu o ensino médio na United Nations International School em Nova Iorque. Em 2004, graduou-se em Ciência política. É membro do Human Rights Watch Children's Rights Division Advisory Committee, falou várias vezes na ONU, para o Council on Foreign Relations e para o Center for Emerging Threats and Opportunities. Vive em Nova Iorque.