Mentiras de verão

Mentiras de verão Bernhard Schlink




Resenhas - Meia-Noite na Austenlândia


4 encontrados | exibindo 1 a 4


Matheus656 14/01/2022

Excelente livro de contos
Bernhard virou um dos meus escritores favoritos! Então fica meio difícil não rasgar elogios para com esse livro de contos do autor. Nesse temos mais 7 contos inéditos, todos envolvendo uma forma de mentira, o que faz alusão ao seu título "mentiras de verão". Apesar de ter alguns contos que eu gostei mais e outros que gostei menos, esse é um tipo de livro raro do gênero que me fez gostar de todos os contos, e que com certeza em algum momento da vida eu pretendo reler alguns deles. Recomendo muito esse escritor alemão!
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jota 03/10/2020

MUITO BOM (sete interessantes histórias do mesmo autor de O LEITOR)
É curioso que nenhum dos textos de Mentiras de Verão (Sommerlügen, no original) tenha esse mesmo título; não se sabe se eles foram publicados separadamente antes ou se foram escritos especialmente para que formassem um volume unido por algumas características comuns. Quanto a isso, infelizmente, a Record nada informa na edição, a editora não é nem um pouco pródiga em suas publicações. As sete histórias de Schlink têm mais ou menos o mesmo número de páginas (quarenta em média), todas se passam durante o verão europeu ou americano e em todas elas os personagens mentem para os outros ou não contam toda a verdade a eles, ou ainda mentem para si próprios e assim acabam também iludindo os outros.

Nesse formato, o livro de Bernhard Schlink agradou bastante o Der Spiegel (O Espelho), veículo semanal de informações, que escreveu: “A prosa fluente de Bernhard Schlink faz acreditar que seus personagens não são criações da ficção, mas passantes que lhe contaram suas histórias.” Parece que é assim mesmo. Uma das histórias do autor alemão, não deste volume, o romance O Leitor, obteve grande sucesso literário e depois também quando foi adaptado para o cinema. Da mesma forma, alguns contos de Mentiras de Verão poderiam virar filmes, especialmente o terceiro deles, A Casa na Floresta, que como os restantes, pela extensão, tendem mais para pequenas novelas do que propriamente para contos. Além do que, reunidas, são suficientemente interessantes, valem o preço pago pelo exemplar.

O primeiro desses contos, Baixa Estação, narra a história de um músico alemão vivendo nos EUA e que, no final do verão em Cape - provavelmente Cape Cod, na costa leste - conhece uma jovem mulher da costa oeste, também em férias. Aos poucos eles se enamoram mas ela não lhe revela, de início, que é muito rica. Depois, mais envolvido no romance, ele passa a pensar que estaria disposto a mudar de vida, que poderia apreciar o novo mundo para o qual se mudará na Califórnia ao juntar-se à mulher. Mas ao mesmo tempo algumas descobertas farão com que relute entre mudar-se imediatamente para Los Angeles e abandonar todas as coisas simples que aprecia em sua vida em Nova York. O que ele fará? MUITO BOM

O segundo conto, A Noite em Baden-Baden, traz como personagens um tipo mulherengo, porém sincero até certo ponto, e sua namorada ciumenta e bisbilhoteira. Tanto, que ela chega a descobrir com quem ele se encontrou em sua ausência, ligar para as mulheres que talvez tenham passado uma noite com o namorado para então descobrir ou confirmar coisas que ele teria feito ou deixado de fazer longe dela. Numa ocasião recente descobre que se ele não havia lhe mentido, ao menos lhe ocultara certos fatos. Será que um casal como esse tem futuro, já que ele acaba de vir de um encontro sexual com outra mulher e se sente disposto a revelar tudo à namorada ciumenta, contar a verdade para evitar o fim do relacionamento? BOM

Em seguida temos A Casa na Floresta, em que um casal de escritores e a filha pequena se mudam de Nova York para uma propriedade rural distante da metrópole cerca de cinco horas de carro. A mulher faz sucesso, é conhecida no mundo literário, o marido nem tanto, mas isso não impede que sejam felizes por um tempo, vivendo quase que totalmente isolados em sua casa na floresta. Quando a mulher está perto de terminar um novo livro, ele, preocupado com o retorno à atribulada vida antiga que ela levava, tenta de todas as formas fazer com que sua família não volte a viver na cidade grande, a ponto de cortar todos os contatos com outras pessoas. Com suas mentiras chega a colocar em risco a vida das pessoas que diz amar... A mulher o perdoará? ÓTIMO

A quarta história, Um Estranho na Noite, é a mais curiosa ou diferente de todas as demais; não se passa entre familiares, conhecidos ou enamorados, mas entre estranhos. Tem certo mistério ou toque policial, que se inicia quando, durante um vôo entre Nova York e Frankfurt, um passageiro ouve a confissão de seu vizinho de assento, um completo desconhecido: elas seriam verdadeiras ou apenas mentiras? Mais curioso ainda é quando o passageiro pede ao narrador que lhe empreste seu passaporte, já que ambos são fisicamente parecidos, e ele corre o risco de ser preso no controle de desembarque alemão. Mas as coisas não terminam aí com esse pedido inusitado, estão apenas começando: o desconhecido ainda se fará presente na vida do narrador outras vezes... BOM

O Último Verão, a história na sequência, é sobre um professor de filosofia acometido por uma doença terminal. Reúne a família em sua ampla casa de verão à beira de um idílico lago para o que ele imagina que serão seus últimos dias de vida: mulher, filhos e cinco encantadores netos. Como as dores aumentaram muito obteve de um médico amigo um coquetel para tomar quando não puder mais resistir a elas, que lhe trará a morte indolor, dormindo. Porém, esconde o fato da família, especialmente da mulher, assim como mente para ela, quando num dia ela lhe pergunta se ele já havia tido uma amante (anos antes, o professor passava temporadas fora da Alemanha, lecionando em Nova York). São felizes dias de verão para todos, mas suas dores estão ficando insuportáveis; ele tem de simular que está tudo bem. Só que não, as coisas não irão correr exatamente como ele havia planejado... ÓTIMO

Johann Sebastian Bach em Rügen, sexto texto, começa com homem vendo um filme que o deixa comovido: nas cenas finais pai e filha estão extremamente unidos para enfrentar qualquer problema que vier. Algo muito diferente da relação que sempre tivera com seu pai, hoje um octogenário. Quer imitar a arte e, desejando conhecê-lo melhor, convida-o para um festival de música clássica numa pequena cidade a beira-mar. Serão três noites em que ouvirão diversas peças de Bach, o compositor favorito do pai. Durante a estadia no hotel e nos passeios pela cidade o filho consegue arrancar algumas confissões do idoso, mas é só na volta para casa, por um pequeno momento, que ele parece ter a resposta para o motivo de se sentirem tão distantes um do outro. BOM

O último conto, A Viagem Para o Sul, é sobre uma senhora idosa, divorciada há tempos (o marido a traia com a assistente, com quem acabou se casando depois), que num dia descobre que deixou de amar sua família, que os parentes a importunam, ela não era feliz com eles por perto. Mas, adoentada, passa a ser cuidada por uma neta e aos poucos a ela revela fatos passados de sua vida, até mesmo um tanto de sua vida amorosa quando estudava numa cidade do sul da Alemanha. A neta a convence a viajarem para lá e a muito custo, depois de localizar o homem por quem a avó se apaixonara então, que ela se encontrasse com ele, agora um viúvo. A avó lhe contara que o romance havia terminado porque o rapaz a abandonara depois de uma viagem a Budapeste e ela então preferiu casar-se com outro (o que depois a trairia). Mas será que as coisas haviam se passado exatamente como ela contara à neta? ÓTIMO

Lido entre 25/09 e 01/10/2020.
Alê | @alexandrejjr 03/03/2021minha estante
Adicionei o livro graças ao teu texto, muito bem detalhado e cativante. Valeu, Jota!


jota 16/04/2021minha estante
Obrigado, espero que goste do livro.




ViagensdePapel 29/08/2017

Lançado em 2010 e publicado recentemente pela Editora Record, Mentiras de verão é um livro de contos escrito pelo autor alemão Bernhard Schlink. Quando vi que a obra estava entre os lançamentos, não hesitei em solicitar para resenha, pois O Leitor, romance muito aclamado do autor, é um dos meus livros favoritos. O romance foi adaptado para os cinemas e estrelado por Kate Winslet, que levou o Oscar de melhor atriz por sua excelente atuação, e Ralph Fiennes.

Diferente de “O leitor“, Mentiras de verão é um livro de contos. São sete histórias, de aproximadamente 40 páginas cada, que apresentam variados personagens e também diversos tipos de mentiras. Além disso, as histórias se passam durante a estação mais quente do ano. Apesar de terem o mesmo fio condutor, os contos são bem diferentes um do outro. Em “Baixa Estação”, por exemplo, conto que abre o livro, conhecemos um homem que é arrebatado por um amor que se desenvolve em suas férias. Depois de fazer inúmeros planos com a mulher amada, que mora em outra cidade, ele volta para casa e não consegue se desfazer de sua rotina, de seu cotidiano.

No conto que se segue, intitulado “A noite em Baden-Baden”, um casal se vê prejudicado pelas mentiras que permeiam a relação e que impedem que o relacionamento siga adiante. Nos outros, há um homem que mente para a esposa e para a filha e deixa que sua obsessão tome grandes proporções; um senhor que está no fim de sua vida e toma uma grande decisão sem comunicar à família; um filho que faz uma viagem com o pai idoso em busca de respostas; e uma senhora, que deixou de amar os filhos e os netos, e não para de se perguntar como sua vida teria sido se tivesse seguido outros caminhos.

A narrativa fluída do autor e os capítulos curtos que dividem cada conto fazem com que a leitura seja bem envolvente e rápida. Além disso, ainda que em poucas páginas, as histórias e os personagens são tão bem construídos que dão a sensação de que os fatos estão se desenrolando diante de nossos olhos. Os personagens são muito reais. Os contos expõem o interior de cada um, revelando seus medos e preocupações, intrínsecos à nossa realidade. Outro ponto positivo da obra é que o autor surpreende a cada história, já que não é possível decifrar o que irá acontecer no fim de cada conto.




Leia a continuação da resenha, acesse o link abaixo:

site: http://www.viagensdepapel.com/2015/06/13/resenha-mentiras-de-verao-de-bernhard-schlink/
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@fabio_entre.livros 03/09/2016

De Pilatos a Raskólnikov

Bernhard Schlink entrou para a minha lista de escritores contemporâneos prediletos logo que li “O leitor” – seu romance mais conhecido, e também um dos meus livros mais queridos. O estilo elegante e sóbrio do autor, que alia uma linguagem enxuta e direta com sutis delineamentos psicológicos dos personagens, é de uma beleza literária notável. Minha admiração por Schlink apenas cresceu à medida que eu lia os demais livros dele, até que me deparei com o recente “Mentiras de verão”, obra de contos que evidencia o talento narrativo do autor também em textos relativamente curtos.
Como nos romances, os contos de Schlink são impregnados de questionamentos existenciais e individuais que dão às ações dos personagens uma dimensão mais complexa do que aparentam superficialmente. Em “Mentiras de verão”, especificamente, os personagens têm de lidar não apenas com suas mentiras, mas com a delicada rede de ilusões – conscientes ou não – resultantes de suas escolhas. Invariavelmente, essas tentativas de manter tais ilusões acabam envolvendo e magoando outras pessoas e são os desdobramentos decorrentes disso que tornam cada um dos sete contos deste livro tão únicos e, talvez por isso mesmo, inquietantes.
Em “Baixa estação”, conto que abre o livro, um músico em férias, parece encontrar o grande amor de sua vida, mas aos poucos é confrontado com as diferenças entre seu mundo e o da mulher que ama. Posteriormente, defrontado com a necessidade imperativa de optar por uma mudança em sua vida (a vida pacata e parcimoniosa com a qual se adaptou) para se enquadrar no novo universo que se descortina à sua frente, ele começa a construir uma frágil rede de omissões e mentiras, na tentativa de alcançar alguma estabilidade entre as vidas contrastantes que se lhe apresentam.
“A noite em Baden-Baden” apresenta um conflito aparentemente simples acerca de fidelidade e confiança. De modo paradoxal, este conto me fez lembrar do seriado “Tell me you love me”, da HBO, no qual um casal está em constante atrito porque o homem é, por assim dizer, bastante sincero em relação às suas tendências à infidelidade, o que continuamente exaspera a mulher. No caso do conto, ocorre algo quase inverso: o homem deixa de se explicar para a namorada, deixa/esquece de compartilhar com ela a sua vida (uma vez que estão sempre viajando, separados pelas circunstâncias) e, somado a isso, há a evidente instabilidade emocional do casal, tanto acerca dos próprios sentimentos quanto nas perspectivas para o futuro alimentadas por cada um.
“A casa na floresta” é meu conto predileto deste livro: por si só ele já garantiria a inserção do livro entre meus favoritos. Aqui um homem amoroso (escritor, marido e pai) decide passar uma longa temporada com a esposa e a filha na tranquilidade de uma casa longe dos rebuliços urbanos. Embora a família, a princípio, se adapte bem àquele novo estilo de vida, o homem passa a criar a ilusão de que deve manter sua família ali, em segurança, sem as preocupações e tumultos da vida moderna. Deseja manter a filha – ainda criança – longe das drogas e da violência da cidade; deseja igualmente manter a esposa – que também é escritora, e de grande reconhecimento junto ao público – longe das pressões e do assédio da imprensa. Ele passa, então, a elaborar pequenos e engenhosos embustes, a fim de manter sua família ali, isolada do resto do mundo, dos vizinhos e dos amigos. Embora se possa dizer que ele faz isso com as melhores intenções possíveis, o corrobora o dito de que de boas intenções o andar de baixo está cheio: prova disso é que o homem acaba perdendo o controle sobre suas próprias mentiras, resultando no desfecho imprevisível e triste da história.
“O estranho na noite” tem um quê de thriller: durante um voo, um passageiro ouve de um companheiro de viagem uma história mirabolante sobre amor, viagens exóticas, máfia, perseguição policial, prisões e assassinatos. A vida do narrador (que conta a história em 1ª pessoa) e a desse passageiro cruzam-se algumas vezes depois disso ao longo dos anos e a dúvida sobre a inocência ou culpa do estranho passageiro nos eventos que contou acompanha o narrador até que eles se reencontram pela última vez.
“O último verão” é, a meu ver, o conto mais melancólico do livro. Nele, um senhor com câncer em estado terminal tomou a decisão de suicidar-se com um “coquetel médico” em breve, tendo em vista que as dores que sente estão cada vez mais insuportáveis. Entretanto, ele deseja viver um último verão com sua família amorosa (que desconhece a gravidade do seu estado e sua decisão), dedicando-se a tarefas agradáveis e amenas junto dos filhos, esposa e netos (algo que ele considera “os ingredientes da felicidade”). Neste caso, as mentiras se constroem através da omissão, até que as coisas fogem do planejado e ele sente o peso esmagador de suas mentiras e as mágoas suscitadas por elas.
“Johann Sebastian Bach em Rügen” aborda o melindroso relacionamento entre um filho e seu pai. Já adulto, o filho deseja “conhecer” seu pai, o qual embora presente fisicamente, sempre foi uma figura ausente e distante em termos de comunicação e diálogo. Para tentar sanar esse vácuo entre eles, o filho convida o pai para uma viagem na qual passa a ter um vislumbre mais profundo da figura paterna, de seus sonhos, planos e ilusões ao longo da vida.
“A viagem para o sul” é o conto que encerra o livro. Nele, uma senhora idosa desperta, certo dia e se dá conta de que deixou de amar sua família. O amor simplesmente passa a ser um conceito estranho para ela. Contudo, ciente do amor – agora unilateral – dos filhos e dos netos por ela, a senhora passa a mentir, a fingir que os ama, embora não consiga sustentar isso por muito tempo. Uma de suas netas a convence a fazer uma viagem, tanto literal quanto figurativa, a seu passado, no qual ela não apenas lança um novo olhar sobre eventos dolorosos vivenciados na juventude como também se livra das amarras de suas próprias ilusões amargas.
Depois de me estender tanto, vejo que ainda assim não consegui abarcar todo o fascínio proporcionado por essa antologia. De Pilatos a Raskólnikov... escolhi este título para a resenha por “sugestão” de um personagem que menciona tais ícones da dualidade verdade/mentira. E de fato, os personagens de Schlink se veem presos constantemente no dilema de encararas verdades (a começar por uma forma de defini-la) ou viver no comodismo inerte da mentira. Entretanto, se os mesmos personagens desejam lavar as mãos de sua culpa, suas consciências frágeis e perturbadas exercem proporcional peso nas decisões deles, ainda que sem o radicalismo do machado ensanguentado e incriminador.
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