Claire Scorzi 21/03/2011
Um dos meus favoritos no Brasil
Embora conhecesse o poeta baiano, só o "conheci" de fato há sete anos atrás, conduzida a ele por um professor de Literatura Brasileira. Não foi a primeira vez que devi uma descoberta literária a professores - devo os românticos a uma outra, no ensino médio.
Gregório de Matos Guerra (1623 ou 1633- 1696) escreveu poesia de toda espécie: amorosa, religiosa, satírica, de circunstância... sua produção de crítica às autoridades de sua terra, sempre recorrendo à ironia (daí a alcunha: "Boca do Inferno") é geralmente mais valorizada. Contudo, um passeio pelos diversos gêneros aos quais se dedicou deixa claro que Gregório brilhou em todos.
Nasce o sol, e não dura mais que um dia,/Depois da Luz se segue a noite escura,/Em tristes sombras morre a formosura,/Em contínuas tristezas a alegria... - Soneto que é misto de revolta com a transitoriedade das coisas, e a resignação filosófica com isso - dicotomia típica do Barroco, estilo de época cuja marca é o conflito constante entre Céu/Terra, Alegria/Tristeza, Vida religiosa/Vida profana...
Como Jó, como os salmistas, também o poeta se interrogou a respeito da injustiça e da prosperidade dos maus: Mas se faz tudo a alta Providência/De Deus, como reparte justamente/À culpa bens, e males à inocência?
E filosoficamente, num pessimismo que soa contemporâneo, observou que a vida no mundo é mais fácil para os corruptos e os tolos: Carregado de mim ando no mundo,/E o grande peso embarga-me as passadas... / O remédio será seguir o imundo/ Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,/Que as bestas andam juntas mais ornadas,/Do que anda só o engenho mais profundo...
Em seus versos religiosos, nota-se um sentimento de reverência sincero - ainda que, parece-me, o grande problema de Gregório de Matos tenha sido com a igreja-instituição, e não com o Fundador do cristianismo (ele não seria o primeiro e nem o último nesta situação, aliás...)
Mui grande é vosso amor e meu delito,/ Porém pode ter fim todo o pecar,/ E não o vosso amor,que é infinito. / Esta razão me obriga a confiar, / Que, por mais que pequei, neste conflito,/Espero em vosso amor de me salvar.
Para falar de um grande poeta, só reproduzindo seus versos. Mas penso que esses exemplos já bastam. E há muito mais para descobrir em Gregório de Matos.