Olhos d

Olhos d'água Conceição Evaristo




Resenhas - Olhos d'água


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Alane.Sthefany 14/04/2022

Olhos D'água - Conceição Evaristo
No conto de abertura, ?Olhos d?água?, acompanha-se as memórias de uma filha que recordar-se de sua história com a mãe, mas que não consegue lembrar qual era a cor dos olhos dela e isso atormenta suas reflexões. Em ?Ana Davenga?, segue-se a história de Ana, que, apreensiva, espera a chegada do marido em casa em uma noite em que tudo parece ter dado errado.
?Duzu-Querança? trata sobre uma avó que observa os netos e reflete sobre seu passado marcado por vivências que a fazem desejar algo melhor para as crianças a sua frente.
Em ?Maria? acompanhamos uma mulher que reencontra o pai de seu filho em um assalto ao ônibus.
?Quantos filhos Natalina teve?? é um difícil conto que segue Natalina desde sua primeira indesejada gravidez e a acompanha na reflexão sobre todas as crianças que ela já odiou ter e na única que ela realmente queria.
?Beijo na face? segue Salinda, uma mulher que sabe que seu marido descobriu sua traição e que, junto ao leitor, aguarda o próximo passo da tensa e silenciosa briga entre eles.
?Luamanda? acompanha as memórias dos diversos encontros sexuais vividos pela personagem idosa, mostrando a sua sexualidade na velhice.
"O cooper de Cida" conta a história de Cida, que era uma moça que vivia correndo, mas que um dia, em uma das suas corridas matinais na praia, ela parou, tirou os tênis, afundou os pés na areia e admirou o mar, admirou tudo ao seu redor, o rosto das pessoas, na qual ela passava todos os dias, mas nunca havia olhado direito, perdeu tanto tempo nisso, em vez de correr, e voltou devagar para casa, seu amigo Pedro estava esperando ela assustado, como ela estava tão atrasada para ir trabalhar? Ele falava, falava, falava, Cida não estava prestando atenção, no final apenas disse, pode ir, não vou trabalhar hoje, vou dar um tempo para mim.
Em ?Zaíta esqueceu de guardar os brinquedos? temos uma criança que procura pela figurinha de um álbum e desce o morro sozinha bem na hora que um tiroteio começa.
?Dí Lixão? tem um narrador masculino que em meio a um delírio causado por uma infecção, pensa no ódio que ele sentia pela mãe.
?Lumbiá? segue os passos de mais uma criança que vende bala e flores nas ruas e que, ao deparar-se com a imagem de Jesus nos presépios de natal, vê naquele menino um reflexo de si mesmo.
?Os amores de Kimbá? é outro dos contos que apresenta um personagem adulto, que envolve-se num relacionamento triplo com Beth e Gustavo, dois personagens de classe alta que lhe prometem o mundo, e cabe a Kimbá decidir qual deles o terá.
?Ei, Ardoca? acompanha um depressivo protagonista que reflexe sobre sua relação com os trens e as estações que lhe acompanharam durante toda a vida.
?A gente combinamos de não morrer?, o conto mais longo da coletânea, segue diversos relatos de uma vida coberta por ações, medos e segredos.
E, por fim, ?Ayoluwa, a alegria de nosso povo? apresenta uma analogia mitológica que relaciona o nascimento de uma criança com a chance de redenção de um povo cuja terra padeceu em agonia.

[...]

Eu estava com bastante expectativa sobre esse livro, muitos indicando, dizendo que choraram horrores (e eu como uma boa masoquista literária, já coloquei na minha lista de leitura), que tinham muitos aprendizados, críticas, que esse livro teria o potencial de se tornar um clássico...

E quando eu li, tiveram muitos contos que eu gostei, principalmente os primeiros: Olhos d?água, Ana Davenga; O cooper de Cida, Lumbiá; Maria e Ei, Ardoca.

No entanto, os outros não me cativaram, e foram bem cansativos, principalmente: Luamanda e o maior deles, A gente combinamos de não morrer.

Por menor que o livro seja, eu demorei bastante para finalizá-lo.
Foi uma leitura boa, mas não arrebatadora, como muitos fazem parecer.
Marcelo 15/04/2022minha estante
Belo relato dos contos. Percebi nos primeiros contos, uma correlação com situações de vida de diferentes mulheres em diferentes etapas da vida, mas isso não continua depois, perdendo uma unidade que poderia ser interessante para a obra.


Alane.Sthefany 15/04/2022minha estante
Marcelo,

Não tinha percebido isso durante a leitura, mas eu realmente gostei mais do início, em relação ao meio para o final.

Estava muito bom, acho que os 2 primeiros, foram os que mais me encantaram.

Depois os contos foram decaindo, sem mencionar os palavrões, palavras de alto calão no decorrer da leitura, e uma linguagem muito explícita para algumas coisas, que me incomodaram...

Nem vou mencionar, porque depois vem a militância aqui nos comentários ??


Marcelo 15/04/2022minha estante
Entendi. Deve ter sido uma involução da autora. Não tenho problema com palavrões, mas veja que alguns autores usam apenas por usar


Canoff 17/04/2022minha estante
Eu tive uma boa experiência com o livro. Não sei se o fato de eu ter lido rapidamente ajudou, mas esse livro me deixou dias e dias, pensando nele.


Alane.Sthefany 17/04/2022minha estante
Robson,

Eu não sei, até porque sou acostumada a ler mais de 100 pág por dia, sem muito problema, mas os contos (tirando os primeiros), não me prenderam.

De 15, os que mais gostei foram 6.

A autora também usa muitas palavras de alto calão, que me incomodam bastante (em qualquer leitura), e um livro que deveria abordar somente problemas que estão presentes em nossa sociedade, a autora a todo instante colocava um cunho sexual no meio, sem necessidade, eu como cristã, me incomodou várias cenas, como o ato de se deitar com três pessoas (trisal), dois homens e uma mulher; mulheres tendo relações com vários homens e também com mulheres, tanto que o que menos gostei foi de Luamanda.

Estava esperando algo inovador, com o tanto de pessoas que falam da importância desse livro, que pelo conteúdo, teria o potencial de se tornar até mesmo um Clássico.

Só criei expectativas, e com certeza, qualquer leitura quando se cria muita expectativa, tem grandes chances de se tornarem decepcionantes, quando não faz jus o que as pessoas diziam sobre.

Estou enumerando somente algumas coisas que me incomodaram, que pesaram na hora da avaliação, mas existe militância para tudo, e hoje em um mundo, em que as feministas lutam para uma Revolução Sexual, em que todos podemos sair com vários, sem compromisso, comprometimento, mas tudo casualmente, em busca do próprio prazer e contentamento egoísta, sem que ninguém possa julgar, ou ao menos achar um ato que não é nobre e grandioso, mas que chega ao ápice da superficialidade de uma vida miserável, sem sentido, e mais próximo a vida de um animal irracional, no cio, controlado pelos seus prazeres e impulsos animalescos; logo, tenho que medir minhas palavras e ter o cuidado para não ferir o ego de alguém que vive dessa maneira, já que não estou afim de responder xingamentos de ninguém aqui nos comentários, já que todos ultimamente, não podem expressar o que pensa, pois já é automaticamente um discurso de ódio, e que tal pessoa mereça e deva ser linchada.

Ou seja, nunca que esse livro seria 5 estrelas para mim, ou algo revolucionário, como a maioria fazem parecer.


Canoff 17/04/2022minha estante
É, você fez uma análise bem crítica da obra, e isso é bom. Os fatos que a senhorita apontou como: os palavrões e a sexualização, eu não me prendi muito, pelo fato de que(infelizmente), acabamos nos acostumando com essas práticas. Por mais que não tenha me incomodado, essas características para uma mulher, devem ser extremamente incômodas. Bom, para mulheres que possuem valores, serem submetidas a esses escárnios, deve ser muito maçante.


E pensar que muitos concursos públicos utilizam dessa obra para relatar a desigualdade social, no país. Com certeza o fato dessas obras serem referências de estudo, se dá pela escolha intransigente de grupos progressistas e anti cristãos.

Infelizmente vocês [mulheres] têm que lutar contra essa sexualização e também, combaterem as "modernetes" que se renderam a padrões vexatórios e dizem defender as mulheres da sexualização.

Fico feliz que em meio a tantas mulheres com pensamentos feministas e "revolucionários", ainda seja possível encontrar mulheres como a senhorita que ainda prioriza a moral e os bons costumes.

Claro que em algo, nossas opiniões irão divergir, mas isso é extremamente normal e saudável. O que importa no fim, é que os princípios basilares e inegociáveis, estão presentes, e com isso, a conta fecha.

Saudações, Lannêh!


Alane.Sthefany 17/04/2022minha estante
Vivemos em um mundo com pluralidade de ideias, com certeza, muitas vão convergirem.
?


Canoff 17/04/2022minha estante
É, nós até vivemos em uma pluralidade. O problema são as pessoas fazerem jus a isso. ?


Alane.Sthefany 17/04/2022minha estante
Hoje em dia, quando as pessoas se dão conta disso, é quase um crime para elas ???


Canoff 17/04/2022minha estante
Já pensou ter que ficar em silêncio quando uma pessoa está dando a opinião dela? Ouvir alguém por mais de 5 minutos, sem contestar? Parece utopia, mas não...


Alane.Sthefany 17/04/2022minha estante
Triste realidade em que vivemos, só fico imaginando a próxima geração...


Vinicius.maris 12/06/2023minha estante
A forma com que a Conceição Evaristo descreve o ato de amor é tão bonita e tão poética. Talvez ao descrever essas cenas e o uso de palavrões, seja realmente para mostrar como é a vivência das pessoas negras na sociedade brasileira, sendo que boa parte delas se encontra em favelas, como a própria autora tenta demonstrar no livro. Isso não significa que elas tendem de ser assim, mas pelo o convívio com a violência e até mesmo a desinformação em relação a muitas coisas explicar essas questões. Ela mostra como é a vivência delas em sociedades, uma vez que ela descreve figuras femininas, solteiras, tendo vários filhos, crianças no mundo do crime, sofrendo maus-tratos e principalmente vítima de racismo e preconceito. Esse livro é ótimo e não deve ser lido rápido, mas com calma para poder entender o que cada conto quer nos trazer. O livro é escrito de forma poética, por isso deve se ler com um devido cuidado para entender a mensagem que os contos tentam relatar.




rfalessandra 21/05/2023

Olhos D'água são os meus, ao final de cada conto.
O que mais me impactou foi a forma como as mortes eram retratadas, como o caminho até elas era preparado.

Algumas mortes chegavam tão silenciosamente que eu só percebia que a pessoa havia realmente morrido quando o conto acabava. A vida é tão frágil, e depois que acaba é só isso, não tem mais nada além.
Fernanda 01/06/2023minha estante
??


TaAs7 20/08/2023minha estante
Foi um livro e tanto. ???


Izamara Ferreira 21/08/2023minha estante
Os meu tbm?




Tainateixeira92 22/08/2023

Uma leitura impactante e crua
Essa obra magistral é um mergulho na complexidade da vida e na experiência humana, em que a escritora retrata a vida de pessoas silenciadas com uma narrativa impactante daqueles que habitam as margens da sociedade. Os contos desse livro transcendem as fronteiras e barreiras do cotidiano, trazendo à tona as vozes que há muito tempo são suprimidas. A escrita de Evaristo é sensível, poética e crua, levando o leitor a mergulhar nas emoções e experiências dos personagens, permitindo que se identifique e conecte profundamente com os relatos.

Cada conto é um fragmento vívido e autêntico da vida de pessoas negras e de suas lutas para encontrar significado e identidade em meio às adversidades. Os contos abordam temas como racismo, pobreza, violência doméstica e desigualdade de gênero, mas também celebram a resiliência, a conexão entre as pessoas e a capacidade de superar obstáculos aparentemente intransponíveis. Todos os contos desafiam os estereótipos e preconceitos da sociedade, ao dar voz aos protagonistas, os apresentando como seres completos e multifacetados, e não apenas como vítimas de suas circunstâncias.

Este livro é uma luz sobre a invisibilidade e o silenciamento das vozes marginalizadas, revisitando questões fundamentais sobre justiça social, identidade e pertencimento. Recomendo a todos que gostam de leituras humanizadas.
Juu 23/08/2023minha estante
Conceição Evaristo é perfeita!!!


Daniel1841 25/08/2023minha estante
Meu livro contemporâneo preferido. Conceição não erra.




Nado 29/11/2020

Incrível como a autora conseguiu reunir em 15 contos a realidade de tantas pessoas. São fatos tristes que estão estampados frequentemente nas páginas dos jornais e que, apesar de promessas políticas e de uma sociedade que diz que está mudando, essas histórias continuam se repetindo dia após dia.
O último conto me deixou com uma sensação de que ainda temos a esperança de que uma nova realidade está se formando.
Recomendo vivamente a leitura!
Marcelo.Roberto 30/11/2020minha estante
Coloquei na minha lista!


Flá Costa 26/12/2020minha estante
Gostei muito do último conto, mas não amei a leitura!


Camila.Brito 04/04/2021minha estante
Não só nos jornais, como no nosso dia a dia.




Bookster Pedro Pacifico 26/02/2020

Olhos d’água, de Conceição Evaristo – Nota 9,5/10
Qual a porcentagem de livros escritos por mulheres na lista da suas últimas leituras? Qual foi a última obra nacional que você leu? E a última escrita por alguma autora ou autor negro? Hoje eu presto muita atenção na hora de escolher minhas leituras. Tento fazer minha parte para garantir uma diversidade e representatividade dos autores e das temáticas lidas. Comece a prestar atenção nisso também!

De origem periférica e pobre, Conceição Evaristo é mestre e doutora em Literatura e, na minha opinião (e de muita gente), é um dos principais nomes da literatura contemporânea nacional. Mas, acima de tudo, Conceição Evaristo é um símbolo de representatividade na literatura. É porta-voz de questões sociais que, apesar de serem muito presentes no dia a dia das classes menos privilegiadas, são pouco faladas e, menos ainda, compreendidas. Quando me perguntam qual o principal benefício da leitura, eu não tenho dúvidas na hora de responder: com os livros eu consigo me colocar no lugar do outro; enxergar problemas e situações a partir da perspectiva de alguém que vive em circunstâncias completamente diferentes das minhas. Aprendo a respeitar o diferente, ser mais empático e ter mais compaixão.

A leitura de “Olhos d’água” confirmou mais uma vez essa minha opinião. Essa coletânea de contos me despertou reflexões sobre a condição do ser humano, sobre as tristezas diárias que passam despercebidas ao nosso redor. Conceição Evaristo consegue transmitir ao leitor de forma sensível e perfurante a realidade do ser humano silenciado. “Estão presentes mães, muitas mães. E também filhas, avós, amantes, homens e mulheres” em sua condição mais vulnerável.

Com contos curtos, a autora também revela um domínio incrível sobre as emoções e as dificuldades presentes na miséria e marginalização. A escrita também se destaca pela sua oralidade e crueza, servindo como uma ferramenta mais eficaz para atingir a nós leitores. Uma leitura que não apenas recomendo, mas que entendo ser necessária!

site: https://www.instagram.com/book.ster/
Ricardo.Silvestre 29/01/2022minha estante
Já passou para a estante dos livros que quero ler.




Rosangela Max 08/12/2021

Melancolia pura.
Adorei a escrita da autora! Transmite tanto sentimento.
Durante a leitura, os mais presentes eram: tristeza, solidão e desesperança.
São contos sombrios e, ao mesmo tempo, tão belos.
Todos os contos são maravilhosos, mas o meu preferido é ?O Cooper de Cida? que, de todos, é o menos sombrio.
Me identifiquei com a história.
Quero conhecer mais o trabalho da autora.
Recomendo muito!
emillebraga 09/12/2021minha estante
a escrita dela é fantástica mesmo!!! recomendo "insubmissas lágrimas de mulheres", é excelente!




Paloma 16/02/2020

Leitura marcante, envolvente e muito comovente.

Chorei horrores! Kkkk
A narrativa da Conceição é maravilhosa, crua, real.

Super indico!

Contos favoritos:
- Olhos D'água.
- Ana Davenga.
- Maria.
- Luamanda.
- Zaíta esqueceu de guardar os brinquedos.
- Lumbiá.
Clara 29/06/2020minha estante
"Zaíta" acabou comigo... Eu fiquei tanto tempo pensando nela, tanto!!!! Nela e em tantas outras crianças que morreram em situação parecida.


Paloma 02/08/2020minha estante
Siiiim, Clara!!
É de dilacerar o coração. ?




Ju_allencar 06/02/2024

Contos cruéis
Confesso que fui pega de surpresa porque não sabia que era um livro de contos pois não leio sinopse de livros, porém, de cara a autora já te conquista pois a escrita é muito boa e fluida. Com relação aos contos, os mesmos são bem pesados, acontece muita coisa triste mas há sempre uma poesia na escrita que deixa as coisas com um toque mais sensível. Amei a escrita da Conceição e já quero ler mais obras dela. ???
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oz. 21/03/2024

"A gente combinamos de não morrer"
Olhos D'água é um livro de contos que acompanha a trajetória de personagens periféricos ou inseridos no cotidiano das favelas. O retrato da vida de personas diferentes interligadas pela tristeza, vida e morte.

Eu não sei como explicar em palavras o que senti ouvindo esse audiobook, mas vou tentar. Apenas quero dizer que o pessoal que reproduziu esse livro em áudio deu alma pela arte. Simplesmente mudou a forma de como se ouvir um audiobook, pelo menos para mim. A narradora foi fenomenal, o eco que fazia entre as breves pausas da narração me fez sentir como se eu estivesse em uma declamação de poesia. Foi lindo.

Sem mais delongas, vamos à resenha.

A morte proposta por Conceição Evaristo, pode ser encontrada como morte material e morte espiritual, às vezes uma dependendo da outra.

Já no primeiro conto, a personagem acorda com uma dor quase insuportável que lhe perguntava "qual a cor dos olhos de minha mãe".

Desde então, segue-se um devaneio em que ela revisita o passado em busca da lembrança do olhar de sua mãe, mas ela só encontra o brilho de água em seus olhos (característica que não é dita, mas está presente em todos os personagens dessa narrativa: os olhos d'água).

Entendi isso como primeiro exemplo de morte espiritual, a protagonista do conto primeiro teve que vivenciar a tragédia de não se lembrar da cor dos olhos de sua mãe para tomar a iniciativa de voltar a sua terra natal e olhar para sua mãe mais uma vez. Reconciliação com o lar, é uma forma de renascer.

Teve outros exemplos disso, como no conto de "O cooper de Cida", em que a personagem corria contra o tempo para não perder a vida e acabou se perdendo de si.

Uma frase no conto de Ana Davenga me pegou muito: "Ana sabia bem qual era a atividade de seu homem. Sabia dos riscos que corria ao lado dele. Mas achava também que qualquer vida era um risco e o risco maior era o de não tentar viver."

Cida quase sucumbiu ao risco de sempre correr contra o tempo querendo mais da vida sem ao menos ter descobrido o que era. Já Ana Davenga, foi destruída pelo risco de tentar amar.

O que eu mais gostei desse livro foi como Conceição Evaristo retratou as realidades das favelas. Sempre que alguém escreve sobre a criminalidade, geralmente tem aquela romantização de que o criminoso não teve outra opção a não ser o crime.

Isso pode até ser verdade. Na maioria das vezes sempre tem a escolha. Porém, a escolha que a autora nos mostra, é entre morrer de trabalhar para tentar sobreviver (o que literalmente acontece em um conto) ou pegar um caminho mais fácil já tendo a certeza da morte. É isso, ela não passou a mão na cabeça ao escancarar uma realidade.

Ao mesmo tempo que Evaristo dá perspectiva a quem optou pelo caminho fácil, ela mostra como o crime afeta a vida dos que escolheram a primeira opção. Como no conto de "Maria", no qual a personagem é linchada pelos passageiros de um ônibus após um arrastão, sendo acusada de conhecer os assaltantes por ser poupada no ato.

"Ela precisava chegar em casa para transmitir o recado. Estavam todos armados com facas a laser que cortam até a vida. Quando o ônibus esvaziou, quando chegou a polícia, o corpo da mulher estava todo dilacerado, todo pisoteado."

É isso. O livro tem várias outras camadas; explorando crenças e amores e esperanças - tudo o que a vida representa.

Vou listar alguns gatilhos para quem tiver interesse em ler: violência; menção a estupro; homicídio; suicídio.
Regis 21/03/2024minha estante
Gostei da resenha, Ossi! ?


oz. 21/03/2024minha estante
que bom que gostou ?




B.norte 22/03/2023

Recomendo!
O trabalho de Conceição Evaristo é muito bom! Nos toca de alguma maneira e é muito bem escrito e elaborad. Durante os históricos de leitura fui comentando cada um dos contos que li. Acho que faltou só o último, talvez por estar doente, não consegui compreender muito bem sua temática (vou ler novamente com mais calma, quem quiser explicar colocando um comentário fique a vontade).

Faz alguns dias que finalizei a leitura, porém esperei um pouco para fazer a resenha dele. Gostei de todos os contos, todos tem o seu valor, porém houve uma coisa que não curti muito, que foi o uso de palavrões no corpo do texto. Mesmo que eu compreenda o porquê deles terem sido utilizados, ainda sim me incomodou. Há quem goste, há quem não se importa, porém eu não acho legal, isso é uma particularidade minha.

Outro ponto que me incomoda, porém não tem haver com o texto, é a ideia de que isso as narrativas podem ser levadas para a sala de aula do ensino básico (fundamental e médio). Talvez um ou dois contos, porém a grande maioria não. Em uma sala de universidade, ok, todos são maiores de 18 anos (em teoria adultos) e os debates sobre o texto são super válidas, ou seja, ele é uma produção para ser analisado no ensino superior.

Lido pelo Biblion (indicação de um colega de skoob, achei muito bacana).
Vanessa.Castilhos 22/03/2023minha estante
Doente? Melhoras p vc ?


B.norte 23/03/2023minha estante
Obrigada! Espero melhorar logo! ?


mpettrus 23/03/2023minha estante
Lorena, minha linda, melhoras pra você ????

Adorei a resenha. Gostei da sua observação quanto ao uso dos palavrões no corpo dos textos. Sempre tive curiosidade de ler ?Olhos d?água?. Sua resenha me deixou mais curioso pra embarcar na literatura da Evaristo.


Katia Rodrigues 23/03/2023minha estante
Melhoras! ??


B.norte 24/03/2023minha estante
Pettrus, eu aconselho muito. Acho que você irá gostar, ela tem uma escrita muito boa, fluída e os contos são de rápida leitura.


B.norte 24/03/2023minha estante
Obrigada Katia!


Lisiane 24/03/2023minha estante
Fica bem, menina ?


B.norte 24/03/2023minha estante
Obrigada ?


Pandiz Moon 13/04/2023minha estante
Yo Sensei! Adorei seu ponto sobre trabalhar o livro em sala de aula, talvez seja interessante como um projeto de leitura a parte (penso nos anos finais do ensino médio), mas reconheço que vá depender da maturidade do adolescente ? Apesar disso, ainda acho que possa ser citado e/ou trabalhado o texto introdutório, na época em que o li, a autora me conquistou logo nos primeiros paragráfos por sua abordagem. (Eu me senti uma boba chorando ?)
A senhora irá ler outros livros da autora? ?


B.norte 16/04/2023minha estante
Oi Ste-chan, tudo bom? Pretendo ler outros livros da autora sim, mas não no momento, pois estou terminando meu trabalho de mestrado. Ano que vem, já deixei "insubmissas lágrimas de mulher" na lista de compras da Amazon. ? Estou com saudades viu? E o japonês? Manda uma mensagem pelo Instagram pra gente conversar!




Nah 13/02/2024

Uma leitura dolorosa
Cru, visceral e poético são palavras que podem definir muito bem o livro de contos da autora mineira Conceição Evaristo. Mas ele também pode ser definido como um soco no estômago.

A autora tem como foco a população afro-brasileira e ao longo de 15 contos, todos narrativas curtas e incríveis, aborda temas como pobreza, violência urbana, sexualidade e a vida nas favelas ao retratar situações corriqueiras que se desenrolam de forma trágica na maioria das vezes.

A maioria dos contos é protagonizada por mulheres e trazem histórias dolorosas que evidenciam muito a triste realidade de uma grande parcela da população.

Os contos que mais me impactaram foram:
. Ana Davenga;
. Maria;
. Zaíta esqueceu de guardar os brinquedos;
. Lumbiá;
. Os Amores de Kimbá; e
. Ayoluwa, a alegria de nosso povo (um conto que traz certa dose de esperança depois de tanta dureza).

Eu ainda não conhecia a escrita da Conceição Evaristo e me surpreendi ao ler histórias tão cruéis e dolorosas, que falam sobre violência e morte, mas narradas de forma poética e até bela.

Talvez o tamanho do livro passe a impressão de ser uma leitura fácil e rápida, mas já adianto que não o é. É um livro que pode trazer gatilhos imensos, então é importante que casa um avalie se está em condições de ler.

Mas talvez seja justamente a dureza do livro que o torne a obra prima tão necessária que é.

Me tornei fã da autora e definitivamente vou procurar mais obras dela a partir de agora.
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Ana Júlia 21/11/2023

116 páginas de olhos d'água
É inexplicável o impacto desta leitura e a potência da escrita de Conceição Evaristo. Apesar dos contos serem curtos, a conexão com cada personagem é gigantesca dada a marginalidade imposta aos negros e negras transmitida com tamanha veracidade. Este livro é, na minha opinião, o retrato da escrevivência no mais alto nível, o que provoca necessários nós na garganta de quem o lê. Difícil escolher meus contos favoritos mas fico com: Olhos d'água, Maria e O Cooper de Cida. Definitivamente uma leitura obrigatória.
Dona Erica 21/11/2023minha estante
Que legal, Ana!


Vania.Cristina 22/11/2023minha estante
Logo logo chego nesse


Estephane 22/11/2023minha estante
Estou tão feliz de você ter gostado ??? esse livro é perfeito




Letícia 19/07/2023

Ao que nossos olhos se fecham
Eu nunca tinha lido Conceição Evaristo e não sabia o que esperar. O engraçado é que, a cada conto, eu também não sabia o que esperar. Na verdade sabia, sim: tristeza e angústia.

Em "Olhos D'água", estão realidades próximas e distantes às nossas, e que muitas vezes fechamos os olhos para seguir nossa vida sem culpa.

A pobreza, o racismo, a miséria são realidades diárias de muitas pessoas, muitas mesmo, em todos os lugares. Cada uma se vira como pode para sobreviver, em caminhos que muitas vezes não entendemos.

Este é um livro forte com histórias fortes, em que muitas vezes precisamos pausar e respirar, mesmo que os contos sejam curtíssimos. Vale muito a pena a leitura e entrou na minha lista de favoritos.
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Adonai 29/03/2021

E os olhos? Escoando rio de lágrima.
Talvez "Olhos d'água" resume o estado emocional pós-leitura. A composição de cada conto carrega potência literária que pulsa de um jeito Conceição de ser.

São textos ágeis com poucos rodeios de enredo e uma escrita extremamente sensível, poeticamente enxarcada de suor, lágrima.

Olhos que leem, vazam e fazem calar a boca, Conceição segue repetindo o afeto em mim.
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Fabio Shiva 30/04/2023

Sangue, suor e lágrimas das negras tragédias invisibilizadas
Há tempos que eu queria ler um livro inteiro de Conceição Evaristo, que cheguei a homenagear no espetáculo “Cecília no Planeta Poesia”, compondo a tríade derradeira das “Poetas com C maiúsculo”:

“Conceição, Carolina, Cecília!”

Então pensem na minha alegria ao encontrar na Mansão dos Livros (espaço para doação e troca de livros em Itapuã) um exemplar novinho em folha de “Olhos d’água”, justamente uma de suas obras mais comentadas, que rendeu a Conceição o Prêmio Jabuti! E também outras obras interessantíssimas, dentre as quais outra que queria muito ler (e que já comecei): “O Que É Lugar de Fala?”, de Djamila Ribeiro, que inclusive cita “Olhos d’água”. E a surpresa foi completa quando encontrei um de meus próprios livros em tão prestigiosa companhia, um exemplar de “Favela Gótica” (https://youtu.be/FjoydccxJGA), cuja dedicatória solucionou o enigma: o doador daqueles livros foi o querido irmão de Poesia e Capoeira, Tanderson Gangoji! Gratidão, meu malungo, por proporcionar a mim e à minha esposa Fabíola Alfazema essas gratas leituras (e também por possibilitar que outras pessoas leiam o meu livro)!

“Olhos d’água” é um livro pesado, apesar de fininho (114 páginas). É doloroso de se ler, não obstante as tramas envolventes. Chega a ser asfixiante, mesmo sendo permeado pelo perfume de lindas imagens poéticas. Não espere finais felizes: as dores afloram em tragédias a cada conto, evocando com minucioso lirismo cortes profundos na carne, que sangram em abundância. Até o denso sentimentalismo que emana de algumas das histórias serve ao mesmo e inexorável propósito de Conceição: sua ficção é tão pungente porque nasce das banais tragédias que atingem tantas vidas negras em nosso Brasil e no mundo. Tragédias tão comuns que na maioria das vezes nem chegam a merecer a reles dignidade de uma matéria jornalística. Conceição Evaristo é a cronista das tragédias invisibilizadas.

O próprio título “Olhos d’água” não poderia ter sido melhor escolhido. Esse é o nome também da história que abre o livro, na qual a narradora repetidamente se pergunta:

“De que cor eram os olhos de minha mãe?”

São os labores e dissabores constantes que fazem a mulher negra que é a mãe da narradora ter esses olhos “de cor tão úmida”, em uma metáfora poderosa que gruda na alma da gente. As injustiças e desigualdades invisibilizam e desumanizam a pessoa preta: seus olhos constantemente banhados em lágrimas não nos permitem vislumbrar sua cor. Mas esse mesmo sofrimento é gerador da beleza que transcende e liberta, que nos empodera a sonhar com um mundo mais justo. Tocados por essa emoção, nossos olhos também adquirem essa cor das águas.

Um louvor à parte deve ser feito à primorosa edição da Pallas, com todo o texto impresso em azul, evocando de forma inspirada essa cor dos “olhos d’água”.

Bravíssimo!

https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2023/04/sangue-suor-e-lagrimas-das-negras.html


site: https://www.instagram.com/prosaepoesiadefabioshiva/
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