danilo_barbosa 21/06/2012Sangue e perfumeConfira mais resenhas minhas no Literatura de Cabeça:
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O que nos fascina nos temas vampíricos?
Não são os amores que parecem superar o tempo ou o romantismo exacerbado, que parecem rondar os nossos livros atuais.
O vampiro seduz por aquilo que desejamos e não podemos ter. É a inversão dos valores, onde cedemos ao nosso lado mais negro e só ganhamos com isso. Ler um verdadeiro livro de vampiro é se perder em sexo e sangue, luxuria, desejo e fome. Ter beleza e sensualidade à flor da pele por toda a eternidade, sem ficar doente ou velho, sempre foi a antítese de nossa derradeira humanidade.
E Kaori, nossa amada vampira oriental, é tudo isso e muito mais... Criada no Japão Feudal, a heroína de Perfume de Vampira de Giulia Moon (Giz Editorial, 371 páginas), com cara de anjo e desejos insaciáveis, é a perfeita realização da criatura da noite que gostaríamos de ter ao nosso lado.
Bela, fogosa e mortal, ela transcende através dos séculos entre alegrias, vinganças e desilusões, tentando abafar os poucos resquícios de humanidade que ainda insistem em habitar sua alma (se ela existir).
Desde cedo, Kaori (Perfume, em japonês) sempre chamou a atenção, pelo seu rosto de boneca e seu aroma natural, carregado de desejos incontidos. Vítima da ganância de Missora, a cruel dona do prostíbulo que a queria para si a todo custo, a jovem perde o pai e é obrigada a trabalhar como cortesã da maléfica mulher.
O destino, porém, dá muitas voltas. E os desejos também... Cega por vingança, Kaori se transforma em uma vampira sedenta por vingança. E isso é apenas o começo da sua trama de loucura e redenção.
E olha que Kaori, com todos esses nuances é a mocinha da história. Missora, a cruel cortesã, é o sumo da maldade, correndo pelos nossos olhos tanta depravação e devassidão que nossos olhos não conseguem simplesmente se desgrudar das letras...
Sempre tinha ouvido falar de Giulia Moon e conversar com ela, mesmo que pelas redes sociais é conversar carinhosamente com uma mulher aparentemente calma e gentil. Por isso, Kaori me surpreendeu tanto. Ela sabe brincar com os verdadeiros vampiros que habitam o nosso cerne. Aquele, que a nos morder, transmite dor e prazer na mesma intensidade. Os seres que adentram a nossa mente e libertam aquilo que verdadeiramente desejamos.
A trama desse primeiro volume ocorre em duas etapas: no Japão Feudal, na era dos grandes xogunatos e em São Paulo, na atualidade. Nessa era moderna que surge a veia mais light e cômica da história, com Samuel Jouza, um vampwatcher da IBEEF, a Instituição para assuntos paranormais. O trabalho dele é observar a vida dos vampiros e catalogá-los, sem interferir em suas atividades. Mas é lógico que ele vai fazer merda. E com certeza, cruzar o caminho da nossa sexy vampira.
Kaori tem todos os ingredientes essenciais de um bom livro de terror, sem perder a brasilidade. O sexo não tem subterfúgios e nos encanta pela sua crueza e veracidade. Assim como todas as cenas da trama. Outra coisa que encanta é o universo de criaturas fantásticas que Giulia desfila pelos olhos do leitor, criando um rol de criaturas inesquecíveis.
Você nunca mais vai ver a noite com os mesmo olhos. E se um ser imortal aparecer diante de você, feche os olhos e aspire o ar. Se o perfume for tão doce ao olfato como a voz é para os seus ouvidos, com certeza sua sorte é imensa... Poucos têm a honra de serem visitados por Kaori.