Polly 11/12/2022
Cacau: um autor em construção (#181)
Quem me acompanha aqui, sabe que Jorge Amado está entre os meus autores queridos. Perdoem-me os machadianos - eu também amo a ironia do Machado -, mas para mim, Amado é o melhor do Brasil. Em sua obra, encontro uma latinidade mágica que faz eu me encontrar e encontrar aos meus também.
No entanto, Cacau não me pareceu ser o melhor que Amadinho pode nos dar. A história é forte, uma tanto violenta e selvagem, é verdade (o que pode ter feito eu me distanciar emocionalmente da obra, é certo), toca em um tema atual, ainda que com uma roupagem diferente, afinal, a servidão nunca deixou de existir nesse país desigual em que vivemos. E ela crua, assim, do jeito que aparece aqui, é cruel demais para se lhe dar. Mas o fato é que a escrita parece um pouco panfletária e com certo receio de ser desenvolvida.
Parece-me que ela teve um pouco de pressa de acabar. A gente termina e parece que ficou faltando algo, sabe? E não, eu não tenho problemas com finais em aberto. Sei que a história de José Cordeiro termina com lacunas que cabe ao leitor completar, mas o que eu sinto falta é do que faltou no meio. Das histórias que ficaram nas entrelinhas. Queria mais um pouco delas.
Posso estar sendo uma tremenda ignorante? Posso. Daqui a alguns anos posso voltar aqui e pensar: "nossa, que patética" (como aliás faço sempre), mas o Jorge Amado de Cacau não me parece o mesmo de Tenda dos Milagres, de Capitães da Areia, de Mar Morto. É algo semelhante, mas é incompleto. Ele ainda não havia chegado "lá". Cacau me parece mesmo um prenúncio do quão grande Amado viria a se tornar.
Ainda assim a leitura vale a pena. É o registro de um Brasil do passado que ainda não acabou. Amado nos faz lembrar que as opressões nunca se acabam, e que ainda há muito - ou tudo - a se consertar.