Márcia 26/01/2024
Transformando suor em ouro - Bernardo Rocha De Rezende
Bernardo Rezende é um carioca de classe média alta que cresceu jogando vôlei nas areias de Copacabana. Deu suas primeiras cortadas no infantil do Fluminense, pelas mãos de seu primeiro treinador – o sábio Bené. Aprendeu então que se deve exigir mais de quem tem
mais a dar. Talvez por isso, sempre foi muito exigido.
O jovem Bernardo dividia-se entre o vôlei amador, o inglês e a faculdade. Tentou engenharia, mas transferiu-se para o curso de Economia, onde sairia graduado pela PUC. Como ele mesmo gosta de brincar em suas palestras, era um curso perfeito para um jogador que vivia
no banco. Ledo engano. Exatamente no banco de reservas que ele se tornou um ídolo nacional, agora como treinador.
Construiu sua carreira com muita disciplina pois acreditava que mesmo sem ser um jogador excepcional, conseguiria superar suas limitações. Com uma dedicação extrema durante os
treinos, apoiada por hábitos saudáveis, ele empenhava-se ao extremo para ter a certeza de que era merecedor das suas conquistas. Já tinha consciência do seu temperamento explosivo e tentava usá-lo a seu favor.
O treinador e amigo Bebeto de Freitas usava sua sensibilidade para que Bernardinho o ajudasse a construir a transição do vôlei. A convivência com Bernardo, Montanaro, Renan, Willian e Amaury mostrou o equilíbrio entre a competição e o espírito de equipe. Mas aquela geração havia caído na armadilha do sucesso e a diferença entre o ouro e a prata ficou nos detalhes. E a aposentadoria como jogador não tardou a desafiá-lo.
Surgiu a primeira experiência com treinador. Uma aventura na Itália, sem muitas cobranças e sem muitos recursos.
Nem loucura, nem coragem, Bernardinho agarrou a oportunidade pois era a chance de não voltar para a Economia e seguir seu caminho. O sucesso no time feminino do Perugia, que saiu da lanterna para o vice-campeonato, lhe deu o reconhecimento e o trouxe de volta para o Brasil.
Carlos Alberto Nuzman viu uma oportunidade perfeita de renovação e Bernardinho mais uma vez estava no lugar certo e na hora certa. Aceitou o desafio para dirigir as Meninas do Brasil em uma trajetória que culminou com a conquista de duas medalhas olímpicas de bronze inéditas para o Brasil.
O sucesso no comando da seleção feminina o transformou em um cobiçado palestrante. A busca da excelência que ele aplicava no dia-a-dia com as jogadoras era o exemplo perfeito para um novo modelo de liderança e gestão de pessoas. Bernardinho desenvolveu sua primeira metodologia, a Roda da Excelência, que apoiava o planejamento em conceitos como
equipe, liderança, perseverança e ética.
Esse modelo evoluiu e passou a ser chamado de Escala de Valores, complementado por novas seis etapas: escolha de talentos, espírito de equipe, definição e fomento de lideranças, treinamento extremo, fatores externos e o sucesso e suas armadilhas.
O caminho natural seria o seu ponto de partida nessa jornada, ou seja, a seleção masculina de vôlei. Após a conquista da medalha de ouro olímpica em 1992, infelizmente o time masculino não manteve o ritmo de vitórias.
Em 2000, Bernardinho aceitou o desafio e implantou uma nova filosofia: aos campeões, o desconforto! Ele sabia que era preciso renovar o grupo e convencê-los de que a vontade de se preparar precisava ser maior que a vontade de vencer. Mesclou experiência com juventude, desapego com dedicação e trouxe uma medalha de ouro com a geração de Atenas.
O modelo estava consagrado, com apoio incondicional na crença de que o sucesso vem pelo trabalho e pela dedicação ao objetivo do grupo. Bernardinho é um verdadeiro símbolo da
liderança pelo exemplo. Perseverante e exigente, ele consegue combinar a franqueza com o esforço, a disciplina e a obstinação.