Tamirez | @resenhandosonhos 22/08/2018Estrela da ManhãSe tem algo que eu estava com relação a esse livro era apreensiva. Terminar uma trilogia é sempre algo amedrontador para o leitor, principalmente quando é uma história que é realmente boa e exibe um nível de complexidade alto. Mas, para minha felicidade, Estrela da Manhã entregou o que precisava e até um pouquinho a mais em seu último momento.
Todo o leitor de Filho Dourado sabe que a história a se desenrolar nesse livro não será simples e que Darrow provavelmente passará por maus bocados. É inevitável que ele seja torturado ou coisa pior, devido ao fato de ele ter sido capturado e é exatamente esse o cenário em que começamos o livro. Pela primeira vez temos um Darrow completamente quebrado. Ele até pode estar segurando tudo psicologicamente da melhor maneira possível, mas é impossível que tudo o que ele está passando no o marque.
Além disso, temos a tortura física. Ele vai ficar quase um ano enclausurado e grande parte desse período ele ficará em uma caixa, encolhido, onde não é possível se esticar ou levantar. Seus músculos estão atrofiados, sua massa muscular desapareceu e ele é apenas uma sombra do homem que era. Isso dá a seus inimigos um prazer enorme e faz com que o sentimento de vitória esteja com eles.
“Como foi que cheguei aqui? Um menino das minas, agora um senhor da guerra derrotado e trêmulo, mirando uma cidade escurecida abaixo, esperando, contra tudo e contra todos, poder voltar para casa.”
Mas mesmo quando estava sozinho, Darrow fez amigos, e eles não desistiram de procurar. Logo nas primeiras 50 páginas já vemos uma tentativa de tirar ele da posse dos inimigos e, quando ele retorna para perto dos seus, todo esse tempo depois, o mundo que o espera está ainda mais caótico. Além de toda a recuperação que é necessária para que ele volte a ter sua força, um possível novo entalhe e a recuperação psicológica, o Ceifeiro também ficará cara a cara com sua família e verá de perto a nova realidade dos vermelhos.
Muitos se levantaram junto com a rebelião, montando uma nova cidade. Porém tudo é escasso e eles vivem na miséria absoluta. Por mais que os Filhos de Ares tentem, é impossível fornecer uma situação confortável a todos. E, estando Sevro no comando, a estratégia não foi exatamente o elemento mais bem pensado. O jovem é bélico, ele gosta da guerra de do clamor que vem com ela, só que essa não é a forma correta de resolver a situação e Darrow sabe disso. Quanto mais as opiniões e pensamentos deles divergem, mais é fácil perceber que algo talvez não tão bacana saia daquilo. Em algum momento os dois amigos vão se chocar pela forma como veem o mundo e o futuro e isso pode mudar tudo.
E, por ser a primeira vez que temos Darrow fora do controle, a forma como ele vai aos poucos vendo e se situando nesse novo mundo é diferente. Não basta apenas ele tomar uma decisão. Por mais que todos olhem pra ele como um líder, fica claro que há dúvidas tanto dele quanto de quem avalia a situação. Primeiro o Ceifeiro precisa se reerguer, pra depois liderar.
Cassius é um personagem super importante aqui. Ele não tinha tido tanto destaque no segundo livro, mas acaba por ser uma peça super importante em Estrela da Manhã. Ele está ao lado da Soberana e como inimigo de Darow é claro que seus caminhos vão se cruzar. Mustang também dará as caras em algum momento do livro. Ela pra mim é a personagem que eu mais tive dúvidas. Será que foi ela quem entregou Darrow? Onde ela estava e qual a posição dela agora que sabe que ele é um Vermelho?
Eu gosto muito da personagem. Ela é sagaz, altiva, corajosa, confiante, inteligente e sabe muito bem pensar à frente. E, mais do que qualquer coisa ela quer e precisa proteger a ela e ao seu povo. Resta apenas descobrir de qual lado isso se torna mais fácil de acontecer, quando o momento se fizer oportuno e, é essa decisão que esperamos para o momento em que eles se encontram novamente.
Sevro é o meu personagem favorito, ele é completamente louco e descontrolado, mas tem as melhores tiradas. Para aqueles que já leram, ou para quem vai ler, meu momento preferido é a hora que rola a conversa e revelação sobre o “olho”. Nossa, eu gargalhei com aquilo. Extremamente aleatório a história central, mas completamente coerente com a personalidade desse personagem que certamente entrou pro meu hall de favoritos. Outra que eu não dei muito, mas que acabou conquistando sua posição entre os melhor do livro foi a Victra. Ela é sensacional e a forma como o destino dela converge com o de outro personagem é muito legal.
Assim como nos livros anteriores temos a presença de duas coisas aqui. A primeira é a mudança constante da história, com novas inserções, novos problemas e conflitos. Essa não é uma trama fácil de resolver e não é somente matar o Chacal para tudo ficar bem, há uma gama infinita de coisas que podem dar errado e de inimigos que já existem ou podem surgir. A quantidade de dificuldades é compreensível e precisava existir. A segunda é o fato de jamais sabermos exatamente tudo que o personagem está pensando ou planejando. Há sempre algo que ele não nos conta, para que venha a nos surpreender no futuro. Essa artimanha foi muito utilizada nos outros livros, e ajuda bastante a fazer o leitor de trouxa por acreditar em algo e logo ali na frente descobrir que está tudo indo conforme o personagem planejava. Mas é um trouxismo bom pra cacete, viu?
“O governo nunca é a solução, mas é quase sempre o problema.”
E o final não vem entregue numa bandeja de prata trazendo todas as soluções para todos os problemas do mundo. Fica claro que foi dado somente uma primeiro passo em direção a algo e que há tanto a ser feito à frente. E, algo que achei super importante nesse livro, foi ver o quanto o olhar de Darrow mudou sobre tudo isso. Quando Eo morreu e ele se juntou aos Filhos de Ares o que ele queria era vingança. Porém, com o tempo isso mudou e ele compreendeu que vingar Eo não é o mais importante e sim proporcionar um mundo melhor para aqueles que estão vivos. Quando isso o toca, ele também percebe que é impossível salvar a todos. Não será uma guerra limpa ou sem fatalidades e é preciso aceitar isso para que a situação não lhe arranque um pedaço.
Eu terminei Estrela da Manhã e meu pensamento era: que livro foda, que série foda! E isso é extremamente gratificante. Eu tenho um mau hábito de adivinhar o final dos livros de fantasia, não porque eu quero, mas porque como leio bastante, muitas histórias trabalham os mesmos ângulos ou clichês, e acaba ficando fácil de “supor”. Com esse livro faltavam 50 páginas para o fim e eu ainda não tinha certeza sobre o que iria acontecer e isso é tão legal. Principalmente porque tenho certeza que ninguém adivinhou o “final, final”.
Para quem ainda não começou a ler esse livro ou até a própria série, eu só tenho recomendações a fazer. A escrita do Pierce Brown está mais fluida nesse livro, mas não é leve de nenhuma forma. Está a todo o momento acontecendo alguma coisa e é preciso estar de olhos abertos. Fúria Vermelha, Filho Dourado e agora Estrela da Manhã foram livros ótimos que certamente marcaram o meu ano como uma das melhores trilogias que já li.
“Nossos mundo nos fizeram ser como somos, e toda essa dor que sentimos é para consertar a loucura daqueles que vieram antes, que formaram o mundo de acordo com a sua imagem e nos deixaram a ruína do seu banquete.”
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