Flores da ruína

Flores da ruína Patrick Modiano




Resenhas - Flores da Ruína


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Ster 24/04/2022

"Sob a luz do entardecer, tive a sensação de que os anos se confundiam e o tempo se tornava transparente".

Flores da Ruína, segundo livro da Triologia Essencial, de Patrick Modiano.

Me sinto até mal em colocar uma nota tão baixa, mas infelizmente para o agora é o que temos. ??

Neste segundo volume nos são apresentadas diversas lembranças do autor, que passam por sua infância até a vida adulta, de pessoas e lugares, que de alguma maneira são relacionadas (por mera suposição ou coincidência) a uma tragédia ocorrida anos antes. Os relatos são curiosos, mas a narrativa é muito cansativa; é como uma espécie de conversa informal, sobre coisas que parecem interessantes, mas que são contadas de maneira desinteressante e sem pretensão de serem compreendidas.

É como o trecho citado, os anos se confundem e tudo começa a ficar transparente num emaranhado de lembranças.
DANILÃO1505 06/06/2022minha estante
Parabéns, ótimo livro

Livro de Artista

Resenha de Artista!




luizhenrique.dourado.1 11/04/2022

Recortes desconexos
Embora seja apresentada uma ideia de trama no início do livro, o misterioso suicídio de um casal, depois se revela uma espécie de armadilha, pois é absolutamente esquecida. O livro, então, não tem trama, é um apanhado de recortes desconexos. O problema não são os recortes desconexos, há livros que utilizam bem esse estilo. Contudo, aqui, não há nada que se extraía, nenhuma frase vale o destaque, pelo contrário, em momentos assemelha-se a um guia de turismo “desci na rua tal, andei cinco minutos pela rua y, parei no café x, peguei a condução w, pelas margens…” São infinitas as citações de ruas, que se tornam cansativas até provavelmente para quem mora em Paris. O protagonista, em primeira pessoa, não gera empatia em algum momento, pois ele pouco aparece também no meio de tantos recortes e citações de ruas sem sentido. Não tenho problema com livros “difíceis”, não exijo na leitura a existência de uma linearidade, ou estrutura narrativa clássica, mas aqui não há nada além de confusão e enfado. Um dos piores livros que li, ironicamente escrito por um prêmio Nobel.
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Marcos 26/03/2015

Uma tragédia acontece na Paris dos anos 30. Um casal, conhecido pela alta sociedade da época, acaba cometendo um duplo suicídio. Antes de morrer, enquanto agoniza, a mulher dá pistas do que fez com que eles tomasse essa atitude. Tal situação escandaliza a todos, uma vez que ninguém imaginaria que isso acontecesse com eles dois. Durante a investigação, muitas perguntas ficam no ar e o caso acaba sendo arquivado sem uma solução.

30 anos depois, um investigador, cujo nome não é citado, resolve reabrir o caso. Estamos e 1967, o undo passa por uma série de mudanças de cunho político e social. Através dos olhos do narrador sem identidade, que voltaremos ao caso inicial, revisitando pelos últimos lugares em que o casal T. passou em vida. No meio disso, teremos momentos de nostalgia do narrador perante locais e pessoas de Paris, enaltecendo seu passado pessoal, sua infância e memórias que lhe vem à mente.

Flores da Ruína é o segundo livro de uma trilogia escrita por Patrick Modiano, escritor francês que recebeu o Nobel de Literatura do ano passado. As histórias dos três livros são independentes, não havendo a necessidade de ter lido o anterior para que se entenda esse. Nele temos uma forte mescla de uma narrativa ficcional com descrições autobiográficas do autor. Boa parte dos fatos e lugares citados no livro são elementos presentes na história de Modiano, em suas infância e adolescência, ou de parentes seus próximos, como seu irmão mais velho e seu pai.

Quando comecei a ler esse livro, tinha boas expectativas tanto por se tratar do vencedor de um dos maiores, senão o maior, prêmios da literatura mundial quanto por esse ser o tipo de leitura que foge da minha zona de conforto, uma vez que o autor era, até então, completamente desconhecido para mim. Porém, a leitura não foi nem um pouco agradável nesse sentido.

O fato de se misturarem as narrativas biográficas e ficcionais não foi algo feliz nessa história. A princípio, tem-se uma mistura de fatos sem uma justificativa para que isso acontecesse. Em alguns momentos, no meio do desenrolar da cena, memórias do narrador eram jogadas sem que houvesse qualquer relação com o plot inicial. Isso tudo deixou a leitura muito confusa e o livro sem uma linha de raciocínio que pudesse orientar o leitor.

Acredito que, se o leitor não conhecer o passado do autor, o livro não passará de uma massaroca de memórias mescladas com cenas de uma breve trama ficcional. O suspense principal do livro não tem uma resolução final e, em determinado momento, perde-se completamente a relação com esse mote, ficando apenas fatos da vida de Modiano e sua família. Ha muitos fatos históricos da França inseridos na narrativa o que me fez recorrer a pesquisas na internet o tempo todo para conseguir me situar no espaço-tempo do livro.

Definitivamente essa foi uma leitura que não me agradou. Flores da Ruína foi uma grande decepção para mim, em todos os sentidos. Não sei se daria uma nova chance ao autor, acredito que não, e, caso isso aconteça, não será com essa trilogia autobiográfica/ficcional.

site: http://www.capaetitulo.com.br/2015/03/resenha-flores-da-ruina-de-patrick.html
Anacarolina 17/03/2018minha estante
Esse é mesmo o mais chato dos 3. Confuso, interessante às vezes, confuso de novo... Os outros 2 da trilogia são bem mais legais. Valem a leitura! ;)


antuan_reloaded 22/01/2021minha estante
Eu abandonei




Edson Medeiros 14/03/2021

Expectativas arruinadas
O livro “Flores da ruína” é o segundo volume de uma trilogia de obras ficcionais, carregadas de elementos autobiográficos, escritas pelo francês Patrick Modiano, laureado Nobel de Literatura em 2014. Trata-se de uma obra que transita entre um caderno de memórias e uma investigação policial, por isso o constante fluxo temporal, dividido entre passado e presente, onde o suspeito duplo suicídio de um casal, em Paris, é apenas um pretexto para que um escritor de meia-idade (ater ego de Patrick Modiano) inicie uma busca por si mesmo.

Em meio a essa busca, a cidade de Paris é apresentada como testemunha silente do misterioso suicídio, da ocupação nazista e do desenvolvimento do escritor – cheguei a pensar em “Flores da ruína” como uma espécie de romance de formação tardio, mas não cheguei a uma resolução. Fato é que Modiano coloca Paris no papel principal deste livro, é como se cada monumento, edifico histórico, ou mesmo cada beco periférico da cidade nos aguardassem para revelar os segredos dos quais são concretos guardiões.

Em “Flores da ruína”, a história principal é apenas um pretexto para contar diversas outras histórias que tem como pano de fundo a Cidade Luz. Essas histórias são narradas a partir de fragmentos, conectando personagens e fatos em décadas diferentes, mas essas histórias nunca são reveladas por inteiro. A sensação é de que sempre está faltando algo, uma peça essencial para juntar todos os mosaicos montados pelo autor.

Confesso que senti grande dificuldade em continuar a leitura, simplesmente não consegui me conectar com os personagens, o mistério sobre o suicídio e sobre as pessoas que passam pela vida do escritor são realmente interessantes, mas o estilo narrativo de Modiano me deixava constantemente desconectado.

No final, ter em mãos um livro com o famigerado selo Nobel na capa, costuma criar demasiada expectativa. Decerto, nem sempre essa expectativa será correspondida, o que não quer dizer que não exista valor na obra ou que possamos condenar o autor.

Para não ser leviano e afastar a tentação de questionar os méritos observados pela Academia para decidir premiar Modiano, especialmente por ser minha primeira experiência com o autor, deixarei em aberto minha opinião geral. Mas, depois de “Flores da ruína”, certamente não voltarei a lê-lo tão cedo.
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Paulo Sousa 27/03/2022

Leituras de 2022

Flores da ruína [1991]
Orig. Fleurs de ruine
Patrick Modiano (??, 1945-)
Record, 2015, 144p
Trad. Maria de Fátima Oliva do Coutto
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?No instante em que chegamos à Rive droite, após ter atravessado a pont du Carrousel e os arcos do Louvre, dou um suspiro de alívio. Nada mais tenho a temer. Deixamos para trás a zona perigosa. Sei bem que se trata apenas de uma trégua. Um dia terei de prestar contas. Experimento um sentimento de culpa cujo motivo permanece vago: um crime do qual participei na qualidade de cúmplice ou de testemunha, não saberia dizer com exatidão? (Posição Kindle 810).
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?Flores da ruína? é o segundo volume da chamada Trilogia Essencial, do escritor francês Patrick Modiano, prêmio Nobel de 2014. É o terceiro livro dele que leio (os outros foram o muito bom ?Para você não se perder no bairro? e o bom ?Remissão da pena?, justamente o primeiro da trilogia), mas a mesma temática segue o estilo do autor, acostumado a lidar em seus romances com memórias antigas, reconstruídas graças ao referencial geográfico da cidade de Paris, onde os livros são ambientados.
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Neste volume, Modiano busca reconstruir um evento trágico no distante ano de 1933, quando ocorreu o duplo suicídio de um jovem casal na periferia parisiense. É uma tarefa hercúlea, tendo em vista terem passado cerca de 30 anos do acontecido, halo temporal suficientemente grande até mesmo para a memória, essa pregadora de peças.
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Narrado em primeira pessoa, Modiano utiliza a técnica da pergunta para ir reconstruindo aquele evento onde o autor entremeia as próprias memórias, que se misturam àquela em particular, sendo muitas delas ligadas a andanças aleatórias pelos ?arrondissement? da Paris dos anos 30, levando o leitor a círculos e mais círculos (uma alusão à forma de caracol de Paris?) cujas camadas vão rejuvenescendo a tinta da memória.
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Modiano demonstra sua habilidade narrativa com o conhecimento de fato da cidade. Você como que se vê errando por Paris, flanando pelas margens do Sena, pelos boulevards, pelas places, absorvendo a atmosfera local. E nessas andanças, ele busca exorcizar os fantasmas que inevitavelmente levam-no a recobrar a culpa por, de alguma forma, ter sido cúmplice daquele crime do qual jamais se esqueceu, fazendo uma espécie de registro memorialístico misturado com romance policial.
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Olhando os comentários no Skoob sobre este livro, me chamou a atenção pela quantidade de leitores frustrados com a leitura de ?Flores da ruína?. Bem, não os culpo. De fato, a escrita de Modiano pode não ser uma boa para os leitores que preferem estórias mais dinâmicas, com mais cores e entreveros. Isso porque, à semelhança de um John Banville ou um Julian Barnes, Patrick Modiano tem uma escrita lúgubre, monotemática, saudosista, características que não agradam a todos. Eu não posso dizer que seus livros sejam maravilhosos e marcantes, mas há neles um quê de beleza suficientemente grande para instigar a caminhada por Paris e as muitas memórias encravadas por suas ruas. Vale!
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Candace 29/06/2020

Maçante
A quantidade de nomes e descrições de ruas, lugares e trajetos de Paris tornam esse livro extremamente maçante e chato de ler. E a proposta da sinopse de investigar o suicídio misterioso de um casal não se cumpre... Você inicia a leitura pensando se tratar de uma investigação e cai em memórias e divagações... Decepcionante
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Natália 29/02/2020

O livro é o segundo de uma trilogia de Modiano, que pode ser lido de forma independente, embora repita a exposição entrecortada de memórias, expostas de forma descontínua e não linear do primeiro volume ?Remissão da Pena?. Em uma passagem, o autor confessa que sua motivação em escrever está em buscar respostas. Com efeito, o livro, cujo ponto de partida é uma notícia de jornal e uma tentativa do autor de apurar, por conta própria, o que havia efetivamente ocorrido, reflete, em todo momento, o esforço do autor em buscar soluções e respostas para atar as pontas soltas do passado, que se revela muito fragmentado. Pra mim, o resultado não foi tão proveitoso, as memórias se mostram tão difusas que criam um mosaico de investigações com linhas temporais distintas, desencontradas e todas sem amarração. Acredito que seja proposital, mas não consegui mergulhar em nada na leitura. Outro ponto cansativo, pra mim, é que o autor é excessivamente geográfico, há muitas menções de endereços, descrição minuciosa de trajetos com o percurso de ruas e distritos de Paris. Acredito que para quem conheça a cidade seja até interessante, pois é um recurso recorrente do autor e deve ser interessante visualizar os locais ele descreve com precisão, mas ainda assim, achei excessivo.
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Lusia.Nicolino 27/02/2021

Há na escrita de Modiano uma mistura de elementos autobiográficos e ficcionais. Quando estamos quase confortáveis com as coincidências: aniversário, a perda do irmão que tinha apenas dez anos, o pai judeu, os caminhos percorridos na Paris apagada pela ocupação durante a guerra, tropeçamos em elementos ficcionais. E é aí que está a graça de uma leitura de poucas horas. A incompletude, a descoberta, a tranquilidade para seguir o narrador que, em primeira pessoa, vai reagrupando suas memórias.
Flores da ruína começa com o suicídio de um jovem casal. Entre o momento do fato e os trinta anos depois em que o narrador persegue suas lembranças, sem más intenções, damos um passeio pelos cafés, parques, fachadas de prédios. A leitura é um enxergar de fotogramas em um carrossel de slides. Acomode-se, depois desse ainda haverá Primavera de cão e então, a trilogia estará completa.

Quote: "...ele me convidou ao cinema para assistir a Lola, a flor proibida e Adeus, Philippine, que deixaram uma bela lembrança... Tenho a sensação de que as nuvens, o sol e as sombras de meus vinte anos continuam vivos, por milagre, nesses filmes. Em geral, só conversávamos sobre livros e filmes, mas naquela noite fiz alusão a meu pai e suas aventuras durante o período da Ocupação: o armazém do cais da estação de trem, Pagnon, o bando da rue Lauriston..."


site: https://www.facebook.com/lunicolinole
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juuuwidy 17/12/2022

"De que adiantava tentar resolver mistérios insolúveis e perseguir fantasmas,
quando a vida estava ali, em toda sua simplicidade, sob o sol?"
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Marcos Nandi 15/03/2021

Péssimo!
Deus do céu que livro ruim. Um dos piores que já li.

Não é o primeiro livro que leio do autor e até então, não entendi como ele levou o Nobel da literatura.

O livro faz parte da trilogia essencial (são livros independentes entre si), mas é um livro muito chato.

O livro vai dar conta de um casal que comete suicídio no ano de 1933. Trinta anos depois o narrador tenta recontar a história para descobrir os verdadeiros motivos do suicídio. Legal né?. Sim, ótimo. Mas fica só na premissa.

Não há nada solucionado. É verborragico ao ponto de me lembrar Umberto Eco em " número zero" (outra bomba).

Além dos personagens jogados no meio da história, apáticos e sem nenhuma narrativa, o livro peca em descrever as belas ruas de Paris.

Apesar do livro ser fino, custei para terminar pelo fato de ser mal escrito e chato.
Edson Medeiros 21/03/2021minha estante
Incrível como é quase unanime a decepção com este livro. Ainda não li outros livros de Modiano, mas realmente faz questionar os méritos a respeito do Nobel. Premissa interessante, livro chatíssimo, desenvolvimento truncado, não consegue chegar em lugar nenhum, não é capaz nem de nos fazer conjecturar conclusões porque está tudo solto.




anoca 22/01/2021

?????????????????
fluxos de pensamentos que não chegam a lugar algum, não respondem nada, apenas deixam mais pontas soltas que espero serem esclarecidas no próximo volume pois este serviu exclusivamente para me deixar impaciente
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Higor 04/06/2016

Sobre uma caminhada enfadonha com Modiano
Depois de acompanhar e se emocionar com a infância difícil de Patrick Modiano em 'Remissão da pena', é impossível não querer ler 'Flores da ruína', a continuação da autobiografia, que aborda a adolescência do autor. E por adolescência, entendemos momentos conturbados, cheios de conflitos e novas experiências, então é de se esperar que as coisas fiquem tão aflitivas e tensas quanto os eventos anteriores. Mas não é o que acontece.

Partindo da premissa de um casal que se suicida há 30 anos, e o autor decide desvendar tal mistério, afinal, o casal não tinha antecedentes e nem aparentava passar por problemas. O típico casal perfeito. O problema é que algum dos últimos momentos da vida destas pessoas são similares a alguns da vida do próprio Patrick, que passa a ficar imerso em pensamentos.

Eu já li todos os livros do Modiano publicados no Brasil e posso dizer sem medo que esse é o mais fraco ou desnecessário deles, tudo porque começa do nada e não vai a lugar algum. A adolescência dele foi chata, com algumas fugas do colégio que resultaram em expulsão, e então ele ficava na casa de pessoas aleatórias, já que os pais eram ausentes.

Lido unicamente, ou como a porta de entrada para o autor, 'Flores da ruína' vai trazer muita decepção; caso seja apenas mais um livro do autor a ser lido, ele será considerado um capítulo que tem coisas boas, sim, mas que deveria ter sido melhor trabalhado, pois já é típico do autor não ter ação, só que o possível mistério também é deixado de lado.

Muitos que leram, até explicam que esse livro é como uma caminhada despretensiosa por Paris, o que não é mentira, mas a caminhada é daquelas que a gente começa a andar e já quer chegar ao destino final ou voltar, não andar e andar sem um rumo. Os pensamentos que o protagonista/autor têm são bons e que certamente já tivemos em algum momento, mas não são nada arrebatadores ou que marcarão nossa vida.

Diferente do anterior, com uma infância dolorida e que machuca o leitor, 'Flores da ruína' é um livro até desnecessário, que não acrescenta em nada. Vemos apenas um adolescente chato com problemas bobos, que não tem uma família e se vira da maneira que pode.

É interessante, no entanto, ver que, apesar de todos os percalços, Modiano se tornou em um homem íntegro, não se deixando levar pelas mágoas da vida, mas tentando se estabelecer em meio ao caos. Eu apenas questiono, infelizmente, após sete livros lidos, o merecimento do Nobel.

Este livro faz parte do projeto 'Lendo Nobel'. Mais em:

site: leiturasedesafios.blogspot.com
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Oz 26/09/2018

É difícil entender o que há de bom ou de interessante em “Flores da Ruína”. A principal tragédia para o leitor começa quando se coloca uma expectativa elevada no momento pré-leitura. Afinal, trata-se de um autor Prêmio Nobel. O livro até começa com um ponto interessante, no qual o narrador nos relata alguns acontecimentos do passado que viraram notícia na época: um casal sai de casa, vai até a casa peculiar de um sujeito desconhecido, depois vão todos até uma boate, em seguida o casal leva alguns indivíduos para a casa deles - sabe-se lá por qual motivo -, os indivíduos vão embora e, finalmente, o casal se mata ou se suicida - também sabe-se lá por qual razão. O mistério está lançado: o que ocorreu naquele dia? Mais do que isso, por que o narrador está lembrando dessa história enquanto vaga pelas ruas de Paris? Será que, apesar de ter ocorrido em um passado tão longínquo, essa história tem algo a ver com a sua própria?

Enfim, temos todos os elementos para um belo livro detetivesco ou de memórias. Modiano escolhe a última opção, infelizmente. Não que uma história que se desenrole pelos relatos do passado não possa ser excelente, longe disso, mas a forma como o narrador nos conta o que vai lembrando é extremamente enfadonha. Duas coisas concorrem para esse efeito. Primeiro, os relatos são confusos – até aí tudo bem, porque isso pode se justificar pela memória ser, por si só, um recurso falho e enganador -, mas confusos no sentido de que os acontecimentos lembrados parecem ser coisas completamente desconexas e que não levam a lugar algum ou a nenhum tipo de conclusão e desfecho. O mistério da morte do casal? Aí vai um rápido spoiler, talvez necessário para o bem-estar de quem pretenda ler: esqueça. Além de não ser resolvido, ele simplesmente some com o passar do livro e passa a ser irrelevante para a história. Em certos momentos, é sugerido que esse mistério tem algo a ver com o próprio passado do narrador e sua namorada, que vivem juntos com uma certa rebeldia por Paris, embora isso ocorra décadas depois desse caso de suicídio/assassinato. Alguns personagens esquisitos também são relembrados pelo narrador ao revisitar seu passado, mas não se sabe ao certo qual é a relevância deles para a história e para o próprio narrador.

Além dessa confusão estrutural, o segundo ponto que torna o livro uma experiência de amarga decepção literária é o número de ruas e endereços de Paris que são citados por página. Sem brincadeira, são muitas, inúmeras. Suspeito que o objetivo todo da história seja simplesmente descrever a geografia de Paris através de memórias aleatórias. Isso é muito, muito chato. É algo do tipo: “então, estava caminhando pela rua X e decidi ir para Y, mas, para isso, tive que pegar o metrô na estação A, fazer uma baldeação em B e, enfim, chegar em C para ir caminhando 5 minutos a pé até Y”. Acredito que até para um carteiro ou para um motorista de táxi de Paris essas descrições se tornem maçantes.

O resumo da ópera é uma leitura decepcionante, chatíssima. O lado bom é que o livro é curto. Posso ter deixado passar conexões que dariam explicações e sentido para o que está sendo narrado? Certamente há essa possibilidade, mas eu não posso assumir que ela existe e me auto ludibriar em uma pretensa obra-prima que está ali, escondida. Não sei por quais trabalhos Modiano recebeu a principal condecoração literária, mas, se essa for considerada uma de suas principais obras – e imagino que sim, dado que compõe o que se conhece por “Trilogia Essencial” do autor -, quero ficar bem longe das outras.

Site de resenhas e afins: www.26letrasresenhas.wordpress.com
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Thiago Felício 20/06/2015

Um livro melancólico de uma viagem pelo passado
Muito além de nostalgia e viagem interior, Modiano se veste na pele de outros personagens para narrar.
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O filósofo francês Michel Onfray divide em duas categorias a pessoa que se desloca: viajante e turista. O turista é “militante de seu próprio enraizamento", segue quase que de modo alienante o roteiro turístico das agencias de viagens, enquanto que o viajante é quase um mergulhador da cultura local, pois ele recusa os clichês e “os instrumentos comparativos que imponham a leitura de um lugar com os referenciais de um outro”. Para Onfray, o viajante deve “deixar-se preencher pelo líquido local, à maneira dos vasos comunicantes".


Pois bem, iniciei esta resenha citando Onfray apenas para dizer que o personagem principal de Flores da ruína (Patrick Modiano, Record, 2015, 144 páginas) trata-se de um viajante que vai alem do deslocamento físico ate uma viagem interior. Um viajante que mergulha na história local, nas histórias alheias e se preenche com melancólicas memórias ate transbordar.
Narrado em primeira pessoa, há, nas primeiras páginas, um "quê" de suspense, onde cheguei a acreditar que eu estava lendo o livro errado, que não era o Modiano, o ganhador do prestigiado premio Nobel de Literatura 2014. Mas era ele mesmo, com todo o seu lirismo nas construções gramaticais, com o uso constante de recordações da memória que marcaram os seus anos na cidade de Paris. Daí o livro ter um caráter autobiográfico e elementos que nos remetem as suas informações familiares.

O ponto de partida é o excêntrico suicídio de um casal num apartamento de Paris, no dia 24 de abril de 1933. Após uma noite regada a álcool, companhias de pessoas pândegas e suspeitas, as únicas pistas que a polícia encontra para iniciar a investigação do caso são as últimas palavras de Gisele (a mulher do suicida) antes de morrer:

"- Meu marido! Meu marido! Morto!"

Ao lado do marido morto, um bilhete mais enigmático ainda:
"Minha mulher se matou. Estávamos bêbados. Eu me matei. Não procurem..."

Mas procurar quem?

Buscando responder perguntas origininadas com este suicídio que virou caso policial, o narrador do livro volta à Paris 30 anos depois para caminhar por vielas, bares e outros lugares da cidade a fim de encontrar motivos, pistas ou respostas que possam explicar o porquê do suicídio do jovem casal.

Voltar a lugares que fazem parte do nosso passado pode ser um pouco perigoso para quem tem a alma um tanto melancólica. O personagem principal do livro tem esta aura de se resvalar nas lembranças por meio da história do casal. Mas que o leitor não se engane: é Modiano quem está regendo toda esta estrutura, logo sua vida se vincula e se mescla àquela dos personagens.

Quando em 1964, o narrador resolve voltar à Paris dos anos 30 para analisar o caso, ele encontra um personagem peculiar com características dissimuladas, pois ele adota, ao longo da narrativa, três nomes: Pacheco, Philippe de Bellune e Charles Lombard, já que o narrador nos dá pistas de que ele tenha colaborado com a oposição durante o Nazismo. Além da narração do encontro com esse icônico personagem, o narrador nos relata também como fugiu de um orfanato, seu relacionamento meio frustrado com Jacqueline, assim como sua relação com o pai e sua vida no meio acadêmico.

O suspense inicial do jovem casal fica em aberto. Demorei a entender que, na verdade, essa história trata-se de um plano de fundo para que o autor, Patrick Modiano, exprima suas recordações e seu tom de nostalgia pela Paris dos anos 30. Pois o que Modiano faz é inserir fatos de sua vida, de sua família na ficção dos personagens.

Enquanto o personagem caminha por lugares bonitos e curiosos de Paris, Modiano vai, por meio do narrador personagem, imprimindo suas lembranças que fazem de Flores da Ruína um livro poético, lírico, mas nem por isso menos melancólico. Talvez resida no título do livro tudo o que acontece nas 144 páginas que lemos: Nossa vida passa, quando voltamos para investigar algo, o que quer que seja, fica esse vazio, como se as flores brotassem, mas não mais embelezassem o ambiente. Porém, mesmo em meio à existência dos fatos da ruína, elas existem e estão alí, no drama da vida, nas histórias, nas pessoas e nos lugares que andamos.

Apesar do livro pertencer a Trilogia Essencial (I - Remissão da Pena; II - Flores da Ruína e III - Primavera de Cão), o livro pode ser lido separadamente, embora eu não recomende muito. Pois ainda que se tratem de histórias independentes, a clareza da trilogia fica mais firme quando feita a leitura de todos os 3, já que o livro tem um uma linguagem fácil de ser lida, mas uma narrativa não tão "mastigável". Dificilmente eu ainda leia algo de Modiano. Mas tá indicado para quem quer acompanhar, viajar pela vida do autor entremeada com as experiências metafóricas das personagens num tom lírico, melancólico e saudoso.

site: paposliterarios.blogspot.com.br/2015/06/um-livro-melancolico-para-quem-quer.html
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Gustavogl 17/06/2021

É uma investigação? É uma autoficção? É um city tour? Não. Não é nenhum dos três. E nem sei se tentou ser. Penso que foi alguma experiência que não me apeteceu. O livro começou bem com uma cena do crime instigante porque aparentava ser algo passional depois de uma farra entre casais. Depois ele vira uma visita guiada por Paris.
O Modiano deve ter tentado criar alguma coisa: sabe aquela ideia que você executa e ninguém entende?
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