Tamirez | @resenhandosonhos 21/08/2018AS PERGUNTAS QUE NÃO QUERO FAZEREsse foi um daqueles livros que me conquistou pelo título e pela capa, mas, acima de tudo, saber que era narrado por uma criança, ajudou ainda mais para que eu desse o start na leitura. Em 2016 eu li alguns livros com narradores infantis e sempre foram experiências muito interessantes, principalmente quando o conceito do livro vive fora de um universo fantástico.
A voz da criança é sempre mais sensível e pura em todos os aspectos, a forma como enxergam o mundo é mais simples, e isso ajuda a conduzir a a história com outros olhos. Frankie, nosso protagonista, não é diferente.
Logo no começo do livro é possível ver como ele se preocupa com coisas peculiares, como por exemplo se há pilhas nos detectores de fumaça, se está tudo certo com o abrigo que eles mantém recheado de mantimentos e como é terrível não haver maçãs ou moedas no pode de dinheiro. Parece logo de cara que ele toma para si a responsabilidade de cuidar de todas as pequenas coisas.
“Ele planejou não ver aquilo nunca mais em sua vida.”
Apesar de ele ter apenas 12 anos, sua fala é séria e ele realmente parece muito comprometido com tudo ao seu redor. Não vai demorar ao leitor então descobrir o porque disso. A mãe de Frankie não sai de casa a 9 anos e nunca ninguém conversou sobre isso, portanto o garoto sequer sabe o que aconteceu para desencadear isso, ou quais são os motivos que a mantém presa no mesmo lugar.
É através de conversas que ele tem com a mãe e que intercalam os capítulos, que nos é possível compreender um pouco mais sobre como a relação dos dois funciona, e de como ela é um porto seguro para o garoto. Mas Frankie, ao mesmo tempo em que se abre e se refugia com a mãe, também a toma como sua responsabilidade, querendo estar sempre perto para ajudar.
Suas relações são apenas com a irmã e o irmão mais velho, Tio George, as três tias, o melhor amigo Gigs onde a amizade juvenil é representada no melhor estilo de cumplicidade possível e, da estranha Sydney, que entra na vida de todos sem pedir licença. Quando ela aparece com sua personalidade marcante e sem papas na língua, Frankie é obrigado a parar e se questionar sobre certas coisas, pois ela o está questionando. E, é a partir daí que o leitor também começa a compreender o propósito do livro.
“Ele sempre soube disso, supôs. Sempre esteve lá, junto com a vozinha corrosiva.”
Quando nos proibimos de perguntar, nos escondemos das respostas e do que elas podem significar para nossa vida, e é isso que Frankie faz. Ele apenas aceita a condição da mãe e seu próprio momento, sua mente inquietante e todas as coisas que o fascinam e incomodam. Mas quando isso é quebrado, algo nele passa a buscar soluções e respostas mais avidamente, e o resultado disso pode vir de várias formas. Boas e ruins.
Apesar de Frankie ser um bom narrador senti falta das listas que a sinopse diz que ele fazia, além de que o propósito acaba por demorar um pouco para ficar claro, deixando a trama um pouco sem rumo em alguns momentos. Sydney acaba por tirar o brilho de Gigs da história, já que ela ganha mais espaço conforme há o andamento da trama, e as tias são figuras engraçadas e intrigantes, além de toda uma pesquisa que eles estão fazendo com a ajuda da gata Miss Caloria, para saber sobre a influência dos animais no humor das pessoas.
As Perguntas Que Não Quero Fazer é um livro com sensibilidade e que ganhou o prêmio de melhor livro do ano em 2008, na categoria Jovem Adulto na Nova Zelândia. Para tanto, quem gosta de leituras simples porém com aquele objetivo final de encontrar algo a mais em toda a sua construção, como Passarinha e Claros Sinais de Loucura, esse parece ser uma boa indicação.
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