Debora
17/07/2015Vango: Entre o Céu e a Terra - Timothée De Fombelle
Vango - Entre o Céu e a Terra é um livro que mistura fatos históricos com ficção. O livro se passa entre o período das duas Grandes Guerras mundiais, em um clima repleto de mistérios, segredos, medo e desconfianças. Vango pode ser considerado um personagem onipresente na trama, mesmo quando ele não está lá a vida e acontecimentos dos outros personagens giram em torno de algo que Vango tenha feito. O fio da trama que costura a história durante todo o livro e durante cada capítulo se desenvolve graças ao mistério ambulante que é Vango e seu passado.
Vango cresceu em uma ilha com sua babá, Mademoiselle, sem saber nada sobre sua vida ou origem. Em sua viagem pelo mundo abordo do Graf Zeppelin, enquanto realizava seu sonho de se tornar padre uma sensação de que estava sendo observado e perseguido sempre lhe acompanhou. Até que um dia a polícia o acusa de assassinato e Vango precisa fugir não só da polícia, mas daqueles que querem lhe ver morto enquanto tenta descobrir o que o faz ser um grande alvo.
"Ele olhava a multidão: tantas histórias numa plataforma. E já sentia uma janelinha se abrir dentro dele (...) Nesse instante, compreendeu o que o padre lhe tinha dito. Antes de tudo era preciso ver o mundo, Ele sentiu o poder de um rápido encontro. Vidas que se afetam com apenas um esbarrão, por que passam pela outra com mais ímpeto." pág. 86
O mais fascinante em todo o livro é a capacidade do autor em misturar história real com fatos ficcionais. Escrever personagens reais, com suas convicções e atitudes e ligá-los a personagens inventados, misturando-os na trama e fazendo-os trabalhar a favor da história que está sendo contada. A pesquisa e cuidado em ser fiel aos fatos estão claros durante a trama, em cada detalhe e em cada descrição apurada e bem colocada.
Porém, apesar de ter amado o ritmo do livro, o modo como a trama se desenrola indo e vindo entre passado e presente, alternando os capítulos entre os personagens em cada local diferente, tive alguns problemas com a escrita do autor. Até me adaptar a leitura parecia travada e difícil, então me acostumei, mas ainda assim parecia faltar algo. Tudo parece muito frio e clínico, objetivo demais, simples e refinado, sem aquela sutileza e ardor que nos fazem virar as páginas ferozmente. Mas, claro, isso não tira o mérito e beleza de toda a magnífica história contada. Além disso, pode ser apenas um problema de gosto pessoal que tive, não quer dizer que você vá achar o mesmo!
"Existem portas tão fechadas que nem as vemos mais, tal é o medo que temos de abri-las. Colocamos móveis na frente delas, tapamos totalmente a fechadura. Talvez só as crianças possam ver, agachadas, a réstia de luz vermelha na fresta da porta e perguntem o que haveria por trás dela." pág. 259
Os personagens foram sem dúvida o ponto alto da história, são eles que a fazem acontecer e se desenvolver. Hugo Eckener com seu Graf Zeppelin, Mazetta com seu burro, Ethel com sua inteligência, coragem e paixão por Vango, a Gata com sua habilidade de escalar, o russo misterioso e perigoso que persegue Vango, o delegado Boulard que pode não parecer, mas é muito esperto, entre muitos outros. O modo como cada um deles tem seu lugar na história, tem algo a adicionar e contribuir para o andamento da trama, além de ser fascinante o modo com cada plot individual complementa o plot de outro personagem, não deixando nem uma ponta solta ou desnecessária durante a história.
Em suma, Vango - Entre o Céu e a Terra é um livro para aqueles, que como eu, curtem não só história, mas história misturada com ficção. Que gostam de livros com personagens interessantes, de personalidades fortes e bem desenvolvidas e uma trama bem montada, calculada e desenvolvida.
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