Manuella_3 08/08/2016
Estava precisando de uma leitura leve, que me conduzisse para longe dos problemas da vida real e vi na bela capa e sinopse de Uma loja em Paris (Essência, 256 páginas) uma boa possibilidade. Arrumei as malas e parti.
Teresa vive em Madri, é uma mulher rica, solitária e seus sonhos estão adormecidos. Muito cedo perdeu a mãe e foi criada pela rígida e insensível tia Brígida.
Dividida entre o trabalho e as aulas de pintura, Teresa reflete sobre a falta de cor em sua vida e a saudade de Laurent, um grande amor do passado. Um diálogo entre Teresa e o velho (83 anos) professor de pintura era o empurrãozinho que faltava:
“- Nós, os homens, somos em geral seres que vivem paralisados pelo medo. Essa é a principal barreira que nos impede de ser felizes. (...) O que você quer? Cor?
- Sim - balbuciei.
- E o que a impede? Os únicos limites são aqueles que impomos a nós mesmos. (...) Ninguém vai andar por você. Deixe de andar em círculos e suba até onde queira ir, Teresa... Marche! Voe!"
Guiada pelo destino, Teresa encontra uma tabuleta em um antiquário e a atração pelo objeto é irresistível... Trata-se da placa de uma antiga loja de tecidos parisiense da década de 1920, de uma tal Alice Humbert. Coisas estranhas passam a acontecer na casa de Teresa, que a levam a crer estejam ligadas ao passado de Alice. Resolvida a mudar os rumos de sua previsível e monótona vidinha em Madri, segue o conselho do professor e muda-se para Paris.
E é na nova vida na capital francesa que tudo começa a ganhar as cores que tanto Teresa desejava. Ela compra a loja que pertencera a Alice e lá descobre fotos antigas, quando então a narrativa passa a ser alternada entre o presente e o passado, em vozes intercaladas das duas personagens. Bisbilhotando cada vez mais a vida da ex-proprietária, nasce em Teresa uma vontade de agarrar as rédeas da própria vida, de dar intensidade aos dias, como nunca arriscara, e como Alice parece ter feito no passado.
Mas estaria Teresa idealizando uma Alice perfeita e segura, como desejaria ser? A vida da misteriosa personagem não foi fácil, leitor, muito pelo contrário, a belíssima Alice surge em flasbacks para contar as dores de sua estreia como modelo de pintores famosos (e reais), como Moïse Kisling e Amedeo Modigliani, em Montparnasse, reduto da vida cultural parisiense da época. Inserindo personagens reais à ficção, o autor Màxim Huerta transporta o leitor para a Cidade das Luzes, detalhando lugares famosos, trazendo um irresistível ar francês para dentro de nossa casa e essa imersão é uma das grandes delícias do livro!
"Eu caminhava assim por Paris naqueles dias, como uma criança com o sorriso da estreia. Como pude demorar tanto para começar a viver? Como pude deixar passar tantos anos vazios? O que eu tinha feito durante tanto tempo? Tanta preguiça, tantos medos, tantas inseguranças. Estava anestesiada e despertei...”
Há momentos tristes contados por Alice, mas também situações muito gostosas nas descobertas de ambas as personagens. Enquanto uma se deslumbra com o comportamento boêmio, convivendo com famosos como Coco Chanel e vários artistas dos anos 20, também Teresa renasce ao descobrir detalhes do percurso dessa mulher. Suas vidas, de maneira surpreendente, se cruzam. Quando Teresa está definitivamente instalada na loja de Alice, tentando viver como os franceses, (re)escrevendo promissores capítulos para sua nova vida, percebemos o quanto Alice foi uma influência decisiva:
"Porque o que precisava fazer era viver, depois de tanto existir."
A leitura é prazerosa, as personagens são cativantes, os dramas são humanos. Alguns leitores poderão até implicar com a passividade de Teresa, mas também haverá quem se identifique. Algumas atitudes de Alice me inquietaram. Apesar do bom ritmo do livro, senti um pouco de pressa na conclusão de situações importantes, tanto para Alice quanto para Teresa. As questões de cada uma pediriam mais profundidade na resolução. Essa falta de densidade me fez tirar uma estrelinha da avaliação.
(...)
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