Rub.88 21/10/2016Os Adornados e A Terra Sem MalesA busca de uma identidade ancestral e uma relação direta com a mítica origem dos instintos primitivos. Um mundo exótico e idealizado, romântico e simples, que desaba diante do caos de um país em guerra, onde costumes antigos e tradições novas se chocam e se anulam. O que sobra é o vazio cultural.
O Rastro do Jaguar, lançado em 2009, é o romance de estreia do mineiro Murilo Carvalho. Este livro narrando em forma de memorias transcritas e crônicas, entremeado com algumas cartas fictícias, e a aventura de um velho jornalista português, que também é ex-soldado francês, quando ele cobriu a Guerra do Paraguai.
Logo depois de assistir a uma opera em Paris, o protagonista da estória junto a um amigo de poucas feições europeias, caminham mergulhados em pensamentos. O que fazer da vida? A carreira militar acabou e dinheiro será um problema em breve. Mas são jovens e as preocupações somem assim que encontram alguma diversão fugais. E numa dessas brincadeiras para desviar os pensamentos do futuro, acabam na cadeia, e no poucos dias que passam lá encontram um grupo de índios de circo, encarcerados não se sabe bem por que. Esses nativos da América do Sul veem no amigo do português, um semelhante. E o amigo, de nome Pierre, por sua vez também sente um reconhecimento. Aqui a faísca, no fundo de uma cela francesa, acende o fogo da peregrinação que vai chegar até a bacia Platina.
Com poucas pistas Pierre desvenda parte da sua infância, e quer saber mais. O português, e assim o chamo, pois os livros em primeira pessoa tem essa peculiaridade de não nós dá o nome do narrador, apenas alguns atributos e informações segundarias. E quando a alcunha do sujeito aparece na boca de algum personagem não se sabe de quem esta falando!
Bem, o português que tem mania de escrever, não vai perder essa chance de andar pelo novo mundo bárbaro e registrar no papel o ligeiro conflito surgindo nas bordas do império lusitano. E seguindo de rastro o Monsieur Índio vem à estória da escravidão, do fim das comunidades indígenas, da aspereza da terra, da ilusória riqueza das capitais, das batalhas perdidas, na falta de bom censo dos governantes, dos imigrantes, da crença universal de um salvador e da morte de milhares pessoas de todas as idades e gêneros por causa de chão e agua.
O livro ficou extenso em demasia devido à fuga compassada que o escritor sempre dá do centro nervoso dos acontecimentos históricos e das coisas mais relevantes para o bom andamento da estória. Romance de poucos diálogos e muitas reminiscências. Eu fiquei com a impressão que o autor escreveu o livro pensado em poder futuramente transforma-lo em serie televisiva. Forçadamente existe um par romântico no enredo, que é dispensável, mas pode ser adaptado para um gosto mais novelesco se um dia O Rastro do Jaguar for personificado por atores badalados. A guerra do Paraguai resultou em pobreza extrema para os poucos sobreviventes do país de Solano Lopes, e foi o começo do fim da monarquia portuguesa no Brasil.