iammoremylrds 15/04/2021
Assim como na própria capa do livro diz, é a história real de um crime hediondo e de três meninos condenados injustamente. No ano de 1993, os adolescentes Damien Echols, de 18 anos, Jason Baldwin, de 16 anos e Jessie Misskelley Jr., de 17 anos, foram acusados de assassinar brutalmente três crianças, Stevie Edward Branch, Christopher Mark Byers e James Michael Moore, todos de oito anos. Em meio a um julgamento repleto de polêmicas e incertezas, eles foram condenados, e após uma longa batalha judicial, foram soltos em 2018.
Com certeza é um caso que revolta e muito, já que, se analisarmos de um todo, temos 6 vítimas, 3 crianças brutalmente assassinadas e 3 adolescentes que foram condenados sem prova alguma, com a acusação baseada em achismo, sem provas concretas e nem nada do tipo. Acredito que se tivesse ocorrido uma investigação séria sobre o caso, talvez poderia ter se identificado logo o possível assassino ou até assassinos. Foi uma investigação repleta de incertezas e praticamente não se usou provas. Apenas se usou um embasamento nada relacionado com o ocorrido, baseado apenas em estereótipos e achismo, como por exemplo o tipo de música que ouviam, as roupas que vestiam, até mesmo uma religião diferente do que a sociedade considera convencional. Durante o julgamento, a promotoria afirmou que as crianças foram mortas como parte de um ritual satânico, sem apresentar prova alguma disso.
Os depoimentos são contraditórios, cada um tem a sua versão. Incluindo o fato de praticamente toda a culpa ter caído para cima de Damien Echols, que foi colocado como o principal envolvido do crime, mesmo já deixando claro que não tinha nada a ver com a história. E parte dessa “culpa” parte de um pressuposto baseado em estereótipos, que definitivamente não definem se uma pessoa é ou não criminosa ou voltada para o crime. Tanto que se mostrou que a acusação sequer havia estudado sobre e sua acusação partiu de coisas sem embasamento algum. Em diversos momentos vidas são praticamente arruinadas por conta de mentiras, fofocas e coisas inverídicas. Não somente um dos três acusados sofreu com isso, mas praticamente todos, à sua maneira, de acordo com a “culpabilidade” que foi concedida e julgada por toda uma sociedade.
Outro ponto importante a se ressaltar é a menção ao “Mr. Bojangles”, um homem negro como suspeito alternativo possível estava implícita durante o início do julgamento de Misskelley. Também se foi pego algumas amostras de sangue retiradas do banheiro do estabelecimento. Porém essas amostras sequer foram analisadas, na verdade, foram perdidas, ao que tudo indicou, assim como aconteceu com inúmeras outras provas, a exemplo da amostra de cabelo de Pam Hobbs, mãe de Stevie, assim como de seu padrasto, e enquanto isso, outras “provas” foram forjadas, fabricadas, incluindo ainda o uso de falsas testemunhas. Esse homem identificado como “Mr. Bojangles” nunca foi encontrado.
O julgamento, em si, foi marcado por falsos testemunhos, provas manipuladas e histeria pública, e no ano de 1994, Jason Baldwin e Jessie Misskelley foram condenados à prisão perpétua e Damien foi enviado ao Corredor da Morte, onde aguardaria a sua execução.
Também é revelado que o canivete que estava sempre com Stevie, no bolso dele, que era um presente de seu avô, não foi encontrado com ele e que posteriormente, Pam, a mãe do menino acabou encontrando ele nas coisas de seu marido, um tanto quanto suspeito( para mim ele é um forte suspeito, embora o caso ainda não tenha sido solucionado mesmo após décadas do ocorrido). Além do mais, a polícia também nunca havia analisado a amostra de cabelo de Terry, coletada em 1993, somente em 2006 se conseguiu obter secretamente uma amostra adicional do DNA de Terry. Já em 2007, a defesa analisou a amostra de DNA com o DNA dele e o DNA de Terry foi encontrado em um dos nós usados para amarrar uma das crianças.
Depois de 18 anos presos, os acusados, Jessie, Damien e Jason fizeram uma rara negociação com o Estado de Arkansas. Sob esses termos de acordo, foram libertados em 2011, porém ainda continuam sendo considerados culpados. Enquanto Pam Hobbs, a mãe de Stevie continua a busca pela verdade sobre a morte de seu filho e das outras duas crianças.
Existem algumas maneiras de se lidar com os fatos e os sentimentos envolvidos nesse caso e acredito que tenham escolhido o pior jeito, afinal, o julgamento foi marcado por falsos testemunhos, provas que foram manipuladas. A verdade, embora seja mais dolorosa, daria uma paz maior para as famílias, visto que uma das mães até hoje está buscando a verdade sobre o ocorrido com as crianças. Se está lidando com pessoas, não com objetos inanimados, ainda mais se tratando de famílias em luto pela perda de seus filhos, algo que com certeza vai atingir as pessoas em volta, principalmente em se tratando de se perder um filho de 8 anos assassinado. A verdade sempre vai ser a melhor escolha, além de claro, se fornecer um apoio psicológico, um amparo para as famílias das vítimas, afinal algo assim vai afetar um meio todo, não somente as famílias das vítimas, pode chegar a afetar até mesmo uma sociedade, como um todo.
A investigação foi cheia de erros, que poderiam muito bem ter sido evitados. Assim como não houve nenhuma prova além de se ter uma confissão forçada. Além de ter sido totalmente irresponsável, não somente irresponsável, mas insensível com as famílias das vítimas e ainda condenando três garotos que não tinham nada a ver com a história e baseado em absolutamente nada, nenhuma prova concreta foi apresentada, somente achismo. Três jovens foram condenados simplesmente por não corresponderem ao que a sociedade julga como “normal”, por serem pessoas diferentes, julgadas como estranhas para as pessoas de uma cidade pequena, que por si só, não é um lugar muito acolhedor para o diferente e seguem à risca o mais tradicional. Existem inúmeras falhas, sejam elas envolvendo a investigação, o julgamento e a condenação dos adolescentes em si. Essas falhas ficarão marcadas para sempre na vida de inúmeras pessoas, seja na vida de três adolescentes, na época, que foram condenados por algo que sequer fizeram, baseado em absolutamente nada, resumidamente, foram condenados injustamente, assim como na vida das famílias das vítimas. Fica claro, inclusive, o quanto o preconceito, o desconhecimento e a intolerância religiosa podem, de certo modo, ser superiores às evidências reais de um crime tão assombroso como esse. É assustador ver o quanto o sistema judiciário às vezes pode ser falho e corrupto.