Deserto de ossos

Deserto de ossos Chris Bohjalian




Resenhas - Deseto de ossos


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Rafaela 01/06/2015

O ano é 1915, e o cenário mundial é marcado pela Primeira Guerra Mundial. Nesse período, o Império Otomano acaba realizando uma brutalidade: o genocídio de milhares de armênios. Buscando eliminar a cultura e a religião do povo armênio do Império, o governo autorizou a deportação e morte da população dessa origem. Surge então a pergunta que não quer calar: ''Como um milhão e meio de pessoas morrem sem que ninguém veja?''. É em meio a esse cenário desolador que acompanharemos a trama de Deserto de Ossos.

Elizabeth Endicott é uma garota americana, filha do banqueiro Silas Endicott. Ela e seu pai deixam a América rumo a cidade de Alepo, na Síria, com a missão de ajudar as vítimas do genicídio que ali estão. Apesar de ter apenas um curso básico de enfermagem e pouca fluência no idioma armênio, Elizabeth se voluntariou para trabalhar no hospital e informar a organização Amigos da Armênia sobre a atual situação vivida no local.

E é em Alepo, dias depois de sua chegada, que ela conhece Armen Petrosian. Ele é um engenheiro armênio que perdeu a esposa e a filha recém-nascida, quando elas foram deportadas e guiadas pelas areias do deserto. Quando Armen e Elizabeth se conhecem a atração é instantânea. Após se conhecerem melhor e estarem a ponto de viver esse romance, Armen acaba tendo que ir embora, pois se alistou no exército britânico a fim de lutar contra os turcos e vingar sua família. Elizabeth continua então em Alepo, e os dois começam a se corresponder por cartas, apesar do receio de talvez nunca se reencontrarem.

Quem nos leva a conhecer essa história quase um século depois é Laura, escritora e neta do casal. Após ver fotos e publicações que reportavam ao passado de sua família, ela se sente atraída a descobrir a história de amor de seus avós, desvendando também um frágil segredo escondido por anos.

A narrativa é realizada tanto em 1ª como em 3ª pessoa. Os capítulos são formados por diversos trechos. O primeiro trecho de cada um deles é narrado em primeira pessoa pela Laura, que vai contando ao leitor algumas de suas experiências de vida e de sua descendência armênia, ao mesmo tempo que vai mostrando como ela encontrou as cartas, diários e escritos de sua avó, que as motivaram a contar tal história. O restante do capítulo é então narrado em terceira pessoa, contando os acontecimentos de 1915 e a guerra que Armen vivenciava enquanto Elizabeth era voluntária no hospital, além dos demais fatos que estavam sendo vivenciados pelos protagonistas secundários em Alepo.

Apesar de termos Elizabeth e Armen como principais protagonistas da história, há também outros personagens que merecem destaque na obra. Como exemplo temos os alemães Helmut e Eric, que não concordam com o posicionamento do seu país e tentam, através das fotografias, mostrar ao mundo a barbárie que ali ocorre.

Outro relato que conquista o leitor ao longo do livro é o de Nevart e Hatoun. Nevart chegou a Alepo com um grupo de deportadas, e apesar de não ter filhos, ela sentiu que era sua missão maternal proteger Hatoun, uma garota dentre as deportadas que viu a mãe e irmã serem assassinadas durante a longa marcha pelo deserto.

A obra conta com algumas cenas fortes sobre a guerra e a deportação, e é impossível não se sensibilizar com o que alguns protagonistas tiveram de enfrentar. O problema é que foi apenas nesses momentos que consegui nutrir algum tipo de afeição por eles, fazendo assim com que o livro não me arrebatasse da maneira esperada.

Ainda que o romance seja fictício, o autor introduziu na obra elementos do seu próprio aprendizado como neto de armênios. Seus avós vivenciaram o massacre, sendo que o enredo é fortemente marcado por esse pano de fundo.

O que mais impacta o leitor é a questão do genocídio e a forma como os turcos são impiedosos em suas ações, matando os homens e forçando as mulheres a caminharem por um deserto sem fim, direto para a morte iminente. Apesar da brutalidade, esse tema usado para dar vida a história foi o mais encantador para mim, pois não tinha conhecimento sobre, e o livro acabou me trazendo diversas novas informações históricas.

Chris Bohjalian soube mesclar muito bem ficção com realidade e trazer ao leitor perguntas fundamentais, nos fazendo questionar se as guerras entre raças e religiões que tentam demonstrar-se superiores algum dia irão ser dignas de todas as mortes inocentes que foram geradas.

Uma leitura recomendada para todos, que traz em seu título sinônimo de tristeza. Deserto de Ossos fará você refletir sobre aquela pergunta feita inicialmente, e o quão desoladora pode ser sua resposta.

''De qualquer modo, a resposta curta para aquela primeira pergunta – Como um milhão e meio de pessoas morrem sem que ninguém saiba? - é realmente muito simples. Você as mata no meio do nada.'' Pág. 319

site: http://eterna-leitora.blogspot.com.br/2015/06/resenha-deserto-de-ossos-chris-bohjalian.html
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