Marcella.Martha 13/06/2018
Atenção: isso é um rant
Meu troféu grande decepção 2016 tem dono, e com sobras: The Long Way To a Small, Angry Planet.
Esta resenha é uma grande reclamação. Se você amou The Long Way To a Small, Anrgy Planet e quer protegê-lo, prossiga por sua conta e risco. Não diga que eu não avisei.
Se eu tivesse que escolher um termo científico para definir esse livro, seria BURACO NEGRO.
Pontos positivos: diversidade. Acabei de me dar conta de que esse é o único ponto positivo, na verdade. É um livro super diverso, realmente. Personagens de várias etnias, orientações sexuais, tradições, planetas de origem. E todos eles servem à grande metáfora de nos dar uma lição sobre a convivência pacífica entre pessoas diferentes. O que deveria ser ótimo, mas não é porque tem a profundida de um episódio de Lizzie Maguire. A autora quer tocar nos assuntos ~~polêmicos~~, mas se recusa a se aprofundar em qualquer um deles. É tudo muito raso e não causa qualquer tipo de reflexão. Tudo é simplificado como "Ah, são aliens, eles são assim mesmo", o que pra mim parece um jeito preguiçoso demais de escrever.
O outro grande problema é que todos os personagens são chatos e bobões e parecem os ursinhos carinhosos. Todo mundo é feliz, sorridente, simpático, compreensivo, altruísta, divertido, inteligente, bonito, o melhor ever. Os únicos que fogem à regra passam eras sem fazer sequer uma apariçãozinha, a ponto de eu até esquecer que eles existiam. Fora que eu preciso dizer que a tentativa da Becky de dar nomes ~~futuristas~~ aos personagens só ficou parecendo que eles todos saíram de um filme de high school dos anos 90: Sissix, Ashby, Kizzy, Jenks. Não parece um grupo de cheerleaders?
Em ao menos um aspecto TLWTASAP é realmente inovador: esse é o primeiro PWP (plot what plot?) não pornográfico que eu já vi na vida. O plot é inexistente, irrelevante. Absolutamente todos os assuntos que são levantados, sejam eles conflitos pontuais entre os personagens ou ~~pequenas aventuras~~ ou mesmo o que deveria ser o arco maior da história, que é a missão da Wayferer, a nave espacial dos nosso queridíssimos, são absolutamente esquecidos durante centenas de páginas. Sério, é como se nem tivesse acontecido. São dezenas de personagens introduzidos e acontecimentos que não servem pra rigorosamente nada e passam à completa irrelevância em questão de parágrafos. Inclusive interesses românticos.
Quando a autora finalmente se lembra de que ela precisa voltar em algum tópico, o negócio aparece DO NADA . Não existe nenhum, NENHUNZINHO MESMO, acontecimento ~~tenso~~ ou ~~dramático~~ que não dure exatamente três páginas, NO MÁXIMO. Zero te cativa. Zero te deixa angustiado. Zero. Eu caguei baldes para todos eles, achei juvenil at best a tentativa de um Her aqui (por que o leitor deveria se importar com uma AI se 99% dos personagens no livro tem a mesma com relação com ela que eu tenho com o Ok Google?). Chega ao ponto de alguns personagens mudarem TOTALMENTE de personalidade de uma hora pra outra (e por uma página e meia, claro) só porque ¯\_(ツ)_/¯.
Não é de todo mal escrito, eu até consigo ver as boas ideias da Becky passeando pelas páginas, mas claramente esse livro precisava de um tapa bonito de edição e direcionamento que aparentemente não teve. O resultado final é uma história sem nuance nenhuma, zero foreshadowing, um ritmo esquisitíssimo, uma quantidade de infodump insuportável, diálogos dignos de Hannah Montana, personagens cartunescos e totalmente rasos. Não tem nenhuma profundidade emocional ou literária. Eu me sentia lendo o roteiro de uma daquelas sitcoms dos anos 90, onde um episódio não tinha rigorosamente conexão nenhuma com o próximo exceto pelos personagens que se mantinham os mesmos, tirando o fato de que não era engraçado e os personagens não eram bons, então eu passei uma boa parte do tempo me perguntando por que eu ainda estava lendo. A autora usa de plot devices de conveniência e uns POVS COMPLETAMENTE RANDOM E SEM SENTIDO só porque sim que chega dá vontade de chorar largada.
De verdade, eu já li fanfictions de Doctor Who que tinham basicamente o mesmo ponto de partida que TLWTASAP e eram muito mais bem escritas, estruturadas e emocionalmente ricas.
Seria importante lembrar à Becky que ter um pouco de MAL e MALEMOLÊNCIA na história não é necessariamente RUIM! Um livro onde todo mundo é a pobre camponesa de nobre coração que vai todos os dias ao bosque recolher lenha é o ó. Para uma space opera que se propõe a tratar de diferenças ser tão raso nesse ponto, tão preto ou branco, tão maniqueísta, é bem lamentável. Nem todo mundo é libriano, Becky; os satanáries também existem nesse universão.
Como vocês podem perceber pela rating altíssima, eu estou entre a minoria que detestou TLWTASAP, portanto não deixe que a minha review te assuste e tire suas próprias conclusões. A minha é que eu não consegui extrair nenhuma desse grande nada.