Iuri Rodrigues 28/08/2016
Com grande influência do escritor pós beat, Charles Bukowski, Mundo Cão, romance de estreia do autor Matheus Peleteiro, nos apresenta as "andanças" de Pedro Contino, um jovem que vive com os avós na favela Roda Vida. Mesmo com a ausência dos pais, todas as dificuldades e falta de recursos, ele é apresentado à literatura por Luís, ex professor de Sociologia da Universidade Federal da Bahia, o que faz o garoto ter um senso mais crítico e questionador em relação às coisas à sua volta.
Em sua narrativa, Mundo Cão, nos apresenta várias críticas, não apenas às favelas brasileiras, mas também sobre questões políticas e sociológicas. Com uma linguagem coloquial, e com várias referências da música - Legião Urbana, Gabriel O Pensador, Emicida, entre outros - acompanhamos pelo olhar de Pedro situações que nem sempre estamos dispostos a ouvir, ou simplesmente, pensar sobre.
O livro, por mais que tenha demorado dois ou três capítulos para ganhar ritmo, é muito bem estruturado e é perceptível o talento do autor com as palavras. Isso não quer dizer que não tive problemas com a obra, afinal, é quase impossível um texto ser intocável. Pedro foi um enorme problema para mim, ao mesmo tempo que foi uma colírio para olhos, pois em diversas situações suas ações não condiziam com suas ideias, e em outras ele me sacudia mostrando a realidade das coisas. Algo que me incomodou foi o machismo impregnado em algumas atitudes, como no momento em que ele "proíbe" uma de suas namoradas ir à marcha das vadias com os seios à mostra por considerar coisa de "puta". Consigo entender que em certas partes tive problemas com o protagonista não por culpa do escritor, mas sim, por ele ser um personagem tão real para os dias de hoje, e sei que o real muitas vezes nos incomoda. Pedro é real, Pedro é brasileiro como nós, e é muitíssimo difícil sermos criticados.
O texto flui bastante, e a leitura além de prazerosa é bem rápida. O autor consegue desenvolver bastante o enredo utilizando algumas formas que encontramos também nas obras do autor alemão, Charles Bukowski. Infelizmente, o final fez a obra perder alguns pontos comigo; não pelo desfecho da obra, mas por tudo ter acontecido muito rápido. A sensação é de que as coisas foram apressadas para chegar logo no final, sendo que o ápice da estória já é mais próximo do fim.
Senti também a falta de alguns personagens, que em minha opinião, seriam bastante produtivos para obra, como por exemplo, o Luís. Acho que o autor poderia ter explorado mais este personagem e ter colocado mais diálogos com o mesmo.
Por fim, levando em conta todas as considerações, considero Mundo Cão um bom livro. O meu sentimento ao término da obra, era uma completa confusão de pensamentos, e uma súbita vontade - quase necessidade - de ler tudo novamente e ver se entendi realmente a mensagem que o autor queria passar. Um ótimo texto, que merece sim ser lido e interpretado de forma forma crítica, e não apenas como outro livro qualquer de entretenimento.