Desenhando em Letras 10/06/2015
Realmente, encantador
Quando nos deparamos com um livro que aborda a homossexualidade como assunto principal, sentimos um certo receio em ler. Em parte, alguns pensamentos negativos se permeiam em nossa mente pelo fato de que em nosso subconsciente associemos a homossexualidade diretamente à promiscuidade, o que não é verdade. Todavia, devido a diversos fatores - sejam sociais, culturais, religiosos ou educacionais -, essa é uma das frases que passarão pela nossa cabeça: haverá vulgaridade no enredo.
Àqueles que se arriscam um pouco mais, saem de sua zona de conforto uma hora ou outra, indico o livro Entre Garotos, de Pablo Torrens. Não faço a indicação levando o gênero da obra em consideração, mas o apresento por seu conteúdo.
Embora a história narre o amor proibido entre dois garotos, o autor não se prendeu ao tema do homossexualismo na criação da história; há diversos conflitos pessoais e familiares que muito se assemelham aos vividos por heteros também.
Entre Garotos conta a vida de Elder, um membro d'A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (aqui devo deixar meus parabéns ao autor, que abordou de forma muita clara alguns dos muitos ensinamentos dos mórmons), que vive um conflito interno muito gritante: ele tem apenas dezoito anos, sua família é extremamente tradicional, ele é convocado a servir em missão pela sua religião em outro país e, como se tudo isso já não fosse o suficiente, sentimentos confusos acerca de sua sexualidade acabam aflorando em seu âmago.
Através de uma escrita muito sucinta, o autor faz uma reflexão profunda a respeito do que sempre julgamos essencial, o quanto estamos dispostos a arriscar para seguir nossos princípios e também o que fazer diante de uma situação adversa que nunca imaginamos que poderia ocorrer.
Ente Garotos, arrisco a dizer, é uma obra que quebra os paradigmas do "romance" propriamente dito, pois apresenta não apenas uma relação entre duas pessoas, e sim estabelece uma conexão com o próprio leitor, que, além de observar de perto os sentimentos do protagonista, se identifica com diversas situações mostradas.
Não poderei me prolongar sobre enredo, pois a história é curta e o romance é evidenciado – diria – somente como um plano de fundo: a narrativa é feita em primeira pessoa, portanto conhecemos todos os pensamentos de Elder, e contá-lo tiraria parte do encanto da leitura.
O livro é indicado para todos, pois não há uma linguagem esdrúxula, não são apresentadas cenas de violência, de sexo tampouco.
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