Daniele 28/04/2015
E se nos fosse permitido nunca fracassar?
Você já deve ter ouvido falar do telegrafo ou do Código Morse, mas o que você não deve ter ouvido falar é que Samuel Morse era um artista, um pintor de uma determinação que impressiona. Viveu ouvindo comentários humilhantes e brutais sobre sua produção artística, mas alcançou o sucesso e seu objetivo de ser “tão inovador quanto Rembrandt” numa outra área, que não a artística.
Apesar do titulo em português sugerir que se trata de uma coletânea de historias com pessoas e situações mal sucedidas para que você possa se sentir compelido a dar a volta por cima, não é exatamente isso que Sarah Lewis apresenta em seu livro. Essa curadora de artes, crítica da faculdade de Artes da Universidade de Yale faz algo mais sutil, provocador, interessante e producente do que esperei a primeira vista. Considerei interessante como ela iniciou seu livro, contando sua experiência ao observar um treinamento do time de arqueiros de uma faculdade dos Estados Unidos. Ali ela nos mostra o quanto o fracasso e o sucesso estão juntos e não são opostos, como todo mundo tende a pensar.
Ela nos traz conceitos pouco explorados como “maestria” e “proficiência”; ao se aprofundar nesses conceitos, ela desvenda o que esta por trás do que se chama vulgarmente de fracasso. Sua narrativa interessante pontua exatamente o quanto uma trajetória bem sucedida é pautada em erros, desencontros, mas acima de tudo, de um objetivo claro aliado ao senso de oportunidades, de percepção ao mundo exterior e fortemente de auto-observação e contato com essa ação de autoconfiança em que tornar-se imune aos julgamentos de si próprio e dos outros tem um papel fundamental na construção e algo, ao mesmo tempo em que manter o critério interno de aprimoramento contínuo, dando espaço à tolerância de reconhecer seus erros e ajustá-los para alcançar a maestria.
“O Poder do Fracasso” pode ser considerado um livro de negócios. É um livro que fala sobre pessoas buscando suas próprias trajetórias, seja através da arte do esporte ou de empresas. Sejam histórias individuais ou histórias de um conglomerado ou grupo. Em seu livro ela abre espaço para a criatividade e ludicidade em espaços que usualmente são mais austeros, como os laboratórios de Física e Psicologia ou as salas de reunião envidraçadas em altos prédios executivos de Nova York, como por exemplo, uma conferência ministrada por altos executivos de grandes empresas do Vale do Silício criada apenas para se falar de seus fracassos profissionais.
Em ultima instância entendo que intenção de Sarah em seu livro é nos alertar que o fracasso não é algo dissociado do sucesso, e que, inevitavelmente, vamos fracassar em algum momento e em tudo o que fazemos, seja nos pormenores da subsistência cotidiana ou nas grandes tarefas, projetos e propósitos em que nos lançamos na vida. Isso é sintetizado na frase de John Baldessari citada na página 177: “É preciso experimentar as coisas. Você não pode ficar sentado, com pavor de estar errado, dizendo: ‘Não vou fazer nada até produzir uma obra-prima”.
É um livro instigante, que desperta no leitor uma vontade de realizar algo, ou ao menos se questionar. Ele inspira!