Renata (@renatac.arruda) 18/07/2015
quatro perspectivas, dois pontos de vista e apenas uma verdade
Em 2007, a morte da britânica Meredith Kercher chamou a atenção dos jornais do mundo todo devido a sua brutalidade e circunstâncias misteriosas. Kercher foi encontrada seminua, claramente devido à violência sexual, com a garganta cortada e mais 47 facadas, no apartamento em que dividia com a americana Amanda Knox havia um mês na cidade de Perugia, na Itália. Knox e seu namorado na época, o italiano Raffaele Sollecito, foram acusados do crime, ao lado do traficante Rudy Guede. Guede foi prontamente condenado ao ficar comprovado ter sido ele o autor do estupro, mas as provas contra Knox e Sollecito apresentaram controvérisas e após duas condenações e um anulamento, a suprema Corte italiana acabou inocentando Amanda Knox neste ano. O caso deu origem a dois filme (Amanda Knox e Face of an angel) e um livro (Waiting to be heard, escrito pela própria Amanda) e o caso segue ainda obscuro. Descartada a hipótese de uma orgia que não deu certo, acredita-se que Knox, Sollecito e Guede tenham preparado uma emboscada para a britânica: drogados, deixaram com que Guede a estuprasse, na intenção de humilhá-la e a mataram para que ela não os denunciasse. Não tenho detalhes sobre o caso, mas me parece que 47 facadas é por demais cruel para se culpar a droga e as circunstâncias. O crime tem ares de ódio e psicopatia.
Com uma realidade cujo enredo mais parece ficção, o crime inspirou a jovem escritora Jennifer duBois a escrever este A Estrela, lançado no Brasil no início deste ano. O livro finalista do Young Lions é um daqueles thrillers capazes se deixar o leitor grudado em suas páginas mas não por artifícios baratos: a escrita de duBois é inteligente, se utilizando de um vocabulário de alto nível, e capaz de tocar em questões políticas (como em seus comentários sobre a América Latina, por exemplo) e sociais ("Andrew achava que tudo aquilo era um pouco demais para uma só vida, embora ele devesse contrabalancear esses reveses com seus privilégios socioeconômicos, sua saúde, o fato de ser do sexo masculino, branco, heterossexual, cidadão americano e por aí vai"), mostrando o quanto a autora não só se preocupa com os debates do seu tempo, como também sabe abordá-los e encaixá-los em seus personagens, como Andrew, o professor de relações internacionais que enxerga Buenos Aires, a cidade onde ocorre o crime da trama, com a superioridade americana, ou Lily, a jovem estudante de intercâmbio "sujeita a uma tendência irritante de tentar aplicar a filosofia à vida diária, em termos bastante puristas e militantes".
Leia mais no Prosa Espontânea:
http://www.prosaespontanea.blogspot.com.br/2015/07/a-estrela-jennifer-dubois.html