jota 14/01/2013Quero ser John FanteEspere a Primavera, Bandini (1938) é o romance de estreia de Fante; primorosa, por sinal. Depois, Arturo Bandini, que aqui é um garoto de apenas 14 anos, filho de imigrantes italianos (como o próprio Fante), ganha destaque em Pergunte ao Pó (1939), o livro mais conhecido do autor.
Arturo Bandini é o alter ego de John Fante e todos os livros do autor, em maior ou menor grau, têm traços autobiográficos. Aliás, Arturo não gosta de seu nome; gostaria de se chamar John e que sua família fosse americana, não italiana. Ele sonha com o dia em que, entre outras coisas, terá uma cama somente para si; não precisará dividi-la com August. E poderá tomar banho de banheira, não de tina e caneca...
A família Bandini - Svevo, o pai, Maria, a mãe, e os meninos Arturo, August e Federico - vive em Rocklin, Colorado (mesmo estado do autor) nos anos 1920. Os meninos estudam em uma escola católica e têm uma professora, uma freira, que tem um olho de vidro - motivo para maldosas reflexões de Arturo. Estão em pleno inverno, perto do Natal, sem dinheiro, com pouca comida e carvão para aquecimento.
São os anos que prenunciam a derrocada da economia americana, que ocorrerá em 1929. A mãe é uma santa (toda mamma italiana se comportava como uma ou pensava ser uma, então) e o pai, meio trabalhador e meio malandro igualmente (gosta de charutos, beber e jogar) - foi visto pelos dois filhos mais velhos, em atitude suspeita, dentro do carro de uma viúva ricaça para quem estaria reformando a casa; Svevo é pedreiro. E no Natal não há o que comemorar – há uma briga terrível entre os pais e Svevo sai de casa.
Mas nem tudo é pra baixo, no entanto; os meninos sempre acham um jeito de tocar a bola pra frente, arranjar alguma diversão para passar o tempo, especialmente Arturo, que não hesita muito em roubar algumas moedas debaixo do colchão da mãe para ir ao cinema - diversão barata naqueles dias. Depois vem o arrependimento - afinal de contas, eles são católicos e quase tudo é pecado aqui.
Mas Arturo não se emenda, ele não para de mentir e roubar a mãe. Num momento se arrepende, noutro manda tudo para o inferno e rouba novamente. Mas se arrepende, teme Deus por uns tempos e depois volta a roubar a mãe... Rouba até mesmo uma joia dela para presentear Rosa, sua paquera da escola, que não gosta dele, no entanto. E esse amor não correspondido se encerra tragicamente um dia...
São pequenas histórias tristes e alegres dentro de uma história maior, a de uma família que deve ter muito da própria família do autor. Isso faz de Espere a Primavera, Bandini um romance muito simples e verdadeiro, ao mesmo tempo risonho e comovente. Não tem como não dizer que é ótimo. Ou excelente, pensando melhor.
Lido entre 08 e 14/01/2013.