Bia 07/03/2017Terci nunca decepciona!Às vezes viajamos para alguns lugares e sentimos aquela tremenda vontade em voltar. Já aconteceu com vocês?
Comigo acontece sempre, mas existe uma cidade; um bairro para ser mais específica, que meu retorno era certeiro. Eu fiquei contando os dias para viajar novamente pra lá, pois minha primeira estadia foi extremamente prazerosa.
Estou falando de O Bairro da Cripta, que infelizmente (ou felizmente, depende do ponto de vista), é um lugar que só existe na ficção. O livro foi tão bem escrito que consegui visualizar exatamente o local, imortalizar histórias e personagens em minha memória. Na minha imaginação, existe e ponto final.
Para quem não conhece a série, trata-se de uma pentalogia de livros de horror, que traz contos horripilantes que ocorreram num tal da Bairro da Cripta, localizado na cidade fictícia de Tebraria, interior de São Paulo.
“Mas, você sabe como são estas cidades pequenas, não? Cheias de superstição e mitos de toda espécie sobre bruxos, fantasmas e outras coisas inomáveis.” – página 77.
A leitura do livro é realmente uma viagem. Geralmente, quando gostamos muito de uma obra que está em seu primeiro volume, ficamos com receio dos próximos que virão, afinal de contas há um raciocínio de que o volume a seguir deverá superar ou se manter igual ao primeiro.
Eu não tive esse sentimento. Quando soube que teria mais livros do conto, fiquei feliz em saber que poderia “retornar” à esse lugar tão mal afamado.
No segundo tomo, temos a oportunidade de rever alguns personagens, mas as estórias são inéditas. Ainda temos o prazer em conhecer novos moradores e até mesmo turistas do bairro.
Assim como ocorreu durante a leitura do primeiro, o segundo tomo também me prendeu por completo. Fiquei envolvida pelo livro como um todo, sendo difícil falar sobre os contos que mais gostei, já que todos eles foram deliciosos em ser lidos.
O autor explora muito nossa imaginação, bem como nossos sentidos. Sua narrativa não é apelativa, o medo muitas vezes fica com um quê de subentendido.
O livro não precisa ser lido na ordem. Podemos ler aleatoriamente, mas prefiro seguir o método tradicional. Como todos os contos tem basicamente o mesmo local, eles acabam se interligando de alguma forma. É possível reencontrarmos personagens, como por exemplo, o Velho Ari, coveiro que recebeu a alcunha de prefeito da Cripta.
Esse personagem é aquele que tudo sabe; testemunhou a maioria (se não todos) os mistérios do local. E ainda conhece todos os moradores do bairro (dos vivos aos mortos).
Vou falar um pouquinho sobre alguns dos contos:
Fuga da cidade do rádio seria aquele que eu indicaria até para os que não gostam de horror. Com uma linguagem completamente poética, talvez possa ser delírio desta leitora, mas o considerei apaixonante. Surpreendente e tristemente apaixonante. É um conto triste e curto, mas acredito que independente do tipo, qualquer leitor ficaria preso e surpreso à ele.
Desde que concluí a leitura de Caídos sabia que reencontraria Aknoth nesse tomo. Ele aparece no conto Aknoth – A Serpente. De todos os personagens que já conheci do autor, Aknoth é realmente o mais traiçoeiro. Mesmo amando sua essência, sempre sinto medo em suas aparições. Aknoth é muito poderoso e sabe disso. Neste conto, uma mulher misteriosa chamada Karen, sente curiosidade em conhecer os mistérios dessa serpente. Não posso trazer muitos detalhes, mas diante de um dos personagens mais fascinantes de Terci, Karen acabou tendo toda minha atenção. E acredito que ela mereça mais aparições (na mitologia Terci tudo é possível).
“(...) Karen não frequentava igrejas. A doce garota entendia que o Reino de Deus estava dentro do coração dos homens e que instituições mundanas serviam apenas para modelar o ser e deturpar seus corações, imputando-lhes o que é certo e o que é errado.” - página 35
Uma voz na escuridão foi pra mim o conto mais perturbante. Senti medo, aflição. Apesar de terem a mesma essência, cada conto tem sua particularidade. E neste, o medo do desconhecido foi colocado em jogo.
O Campeão também foi um conto delicioso. Imaginem uma luta contra o próprio demônio?
“Nada na vida vem fácil! Quando isso acontece é provável que mais tarde pague o mais caro dos preços.” – página 119.
Não é que exista um conto favorito, mas teve um que foi tão incrível, que talvez beire o meu favoritismo. Acreditam que me sinto mal em confessar isso? (rs).
O relógio Capadocci, em minha opinião, foi o que trouxe mais fantasia ao livro. É mais um que agradaria um amplo público de leitores. Só para que vocês tenham uma noção do que se trata o conto, temos um relógio “mágico” muito poderoso. Ele está nas mãos de uma pessoa que não conhece seu valor. Qual seria o poder desse utensílio?
Acredito que o autor poderá explorar tal utensílio em muitas outras histórias.
Muito suspense ronda o livro. O autor tem uma capacidade incrível em prender, instigar e surpreender. Na maioria dos livros de contos, não lemos numa toada só, eu sinto uma necessidade em parar para absorver, entendem? Neste caso, mesmo com os desfechos sem pontas soltas de cada estória, ficamos ansiosos por mais, somos tomados por aquela vontade em avançar páginas e ao mesmo tempo não queremos que o livro acabe. Por sorte, é uma série.
Recomendadíssimo!
“Guardarei sigilo do que vi neste pandemônio sitio, jamais revelarei a natureza dos ritos que testemunhei. Devo queimar estas anotações.” – página 89.
site:
http://lua-literaria.blogspot.com.br/2017/03/resenha-o-bairro-da-cripta-os-epitafios.html