MiCandeloro 18/06/2015
Delicado, reflexivo e tocante!
ALERTA! Esta resenha pode conter spoilers do livro A extraordinária garota chamada Estrela. Leiam por sua conta e risco!
Estrela foi embora. Depois de ter sido espezinhada pelos estudantes do seu antigo colégio, abandonada por Leo e ter seu coração despedaçado, sua família se mudou do Arizona para a Pensilvânia. Todo recomeço é difícil, ainda mais quando se carrega uma enorme saudade no peito. Saudade dos momentos felizes e daquilo que nunca se viveu.
"(...) nossos corações são saudosistas. Ansiamos por sermos encontrados, desejando que aqueles que nos procuram não tenham desistido e ido para casa."
Por causa de Leo, Estrela conheceu o amor, mas também a dor. Por causa de Leo, Estrela voltou a estudar em casa, se tornou uma pessoa insegura e comedida e passou a questionar as coisas simples da vida. Por causa de Leo, a carroça da felicidade da menina ficou sem seixos. Por causa de Leo, Estrela teve que aprender que a vida segue em frente, e que temos que ser fortes para continuar sorrindo mesmo quando só queremos chorar.
O importante é que Estrela nunca esteve sozinha. Além dos seus pais que sempre a amaram e ficaram ao seu lado, a garota fez verdadeiras e duradouras amizades, a começar por uma linda e sapeca criança de 5 anos chamada Dootsie, que ajudou a alegrar seus dias.
Além dela, nessa nova cidade, Estrela conheceu Charlie, o viúvo que nunca saía do lado do túmulo da esposa, Betty Lou, a vizinha agorafóbica que não botava os pés para fora de casa fazia 9 anos, Alvina, a pré-adolescente que de odiava os garotos e batia em quem quer que aparecesse no seu caminho, e Perry, um jovem que já havia sido preso por roubo, que tinha um harém e que, pela primeira vez em muito tempo, fez seu coração bater mais forte.
Em meio a tantos desafios, descobertas e aprendizados, será que Estrela conseguirá ser feliz novamente?
Querem saber o que vai acontecer? Então leiam!
***
Quando li A extraordinária garota chamada Estrela, confesso, não compreendi bem a história, apesar de ter gostado do livro. Fiquei aturdida por me deparar com Estrela, uma personagem tão diferente de tudo que já tinha lido e que beirava ao surreal. Estrela não podia ser de verdade, e Leo concordava comigo. Durante toda a leitura, eu só queria saber mais dessa menina que me fascinava, me atraía, mas ao mesmo tempo me confundia e, justamente por isso, me irritei profundamente com a narrativa de Leo, de tão imatura e egocentrista. Eu não queria saber dele, queria saber dela.
Portanto, quando descobri que Com amor, a garota chamada Estrela seria lançado, fiquei muito ansiosa para conferir o que Jerry Spinelli havia aprontado. Num primeiro momento, pensei que se trataria da mesma história do primeiro livro, contudo, sob o ponto de vista de Estrela. Depois, descobri que não, que abordava uma nova trama, mostrando o que havia acontecido com Estrela depois dela se mudar para a Pensilvânia.
Inicialmente, não gostei da ideia, porque também não queria saber de sua nova vida, novos amigos, novos amores. Queria saber o que havia se passado na cabeça dela enquanto esteve em Mica, mas, mal sabia eu que estava totalmente enganada e que este livro superaria todas as minhas expectativas!
Com amor, a garota chamada Estrela é narrado em primeira pessoa, por meio de cartas! Cartas que Estrela escreve para Leo no decorrer de um ano, contando absolutamente tudo sobre o que acontece no seu dia-a-dia, quase que num formato de diário, mas dialogado. As cartas, apesar de nunca terem sido enviadas, foram a forma que Estrela encontrou de desabafar suas decepções, tristezas e frustrações, tentando entender o que houve de errado em seu relacionamento com Leo e com o tempo em que morou no Arizona.
Neste volume, Estrela continua bem humorada, abnegada e com desejos ousados, mas dessa vez pudemos conhecer o seu lado "normal", que me interessou muito mais do que a visão "extraordinária" que Leo tinha dela. O que mais me encantou na personagem foi perceber que Estrela poderia ser um de nós, que um dia ousou em ser diferente, que preservou sua alma infantil, curiosidade, coragem e impertinência, e que pagou um preço muito alto por não se enquadrar nos retrógrados e preconceituosos padrões sociais.
Por mais fiel que ela fosse às suas próprias crenças, Estrela era humana, e igualmente frágil, como todos nós. Quando se viu sozinha e abandonada, com seu estilo de vida questionado por quem não a compreendia, a dúvida e o medo fincaram raízes no seu coração, abalando as suas estruturas e deixando-a irreconhecível. Eu queria pegá-la no colo e dizer que tudo ficaria bem, eu queria que ela voltasse a ser uma inspiração para a gente, nos banhando com luz e não com lágrimas, mas também sabia que Estrela tinha uma longa jornada pela frente até superar a sua dor.
Mas não foi só Estrela que arrebatou meu coração! Jerry foi capaz de criar personagens secundários tão cativantes, ricos e complexos quanto a sua protagonista. Foi impossível não aprender lições de vida com cada um deles e não torcer pelos seus finais felizes.
Apesar de parecer um livro triste, ele não é melancólico. Com amor, a garota chamada Estrela tem um texto delicado, reflexivo e muito crítico, propondo uma quebra de paradigma ao que conhecemos como "certo", "normal" e "aceitável" nos dias de hoje. O autor não só nos mostra a importância de sermos diferentes, como enaltece àqueles que têm a coragem de ser feliz ao seu modo, independente do que os outros pensam ou esperam, recusando-se a manterem-se presos a uma rotina ou a receber rótulos desnecessários. Não preciso nem dizer o quanto me identifiquei com tudo isso!
"Relógios nos prendem aos minutos, fazem rodas-gigantes guiarem todos nós, nos manejam de novo e de novo de número a número, cortam o tempo de nossas vidas em pequenos pedaços até que os pedaços sejam tudo que conhecemos e a única pergunta importante de se responder seja: “Que horas são?"
Nunca levei tanto tempo para conseguir escrever uma resenha como essa. Este livro mexeu tanto, mas tanto comigo, que travei em absoluto. Eu não podia e acho que falhei na minha tentativa de racionalizá-lo e de botar a minha opinião no papel. Como gosto de dizer, existem coisas que precisam ser sentidas, vivenciadas, e essa história é uma delas que, na minha opinião, devia ser lida por todos. Infelizmente, nada do que eu venha dizer aqui será o suficiente para explicar essa obra a vocês ou chegará aos pés dela. Mas espero ao menos ter aguçado a sua curiosidade.
Com amor, a garota chamada Estrela fala sobre perdas, medos, superação, amizade e esperança. Um livro com uma escrita preciosa, inteligente e tocante que pode transformar as suas vidas! Abram o coração e abracem a Estrela que habita cada um de nós.
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