maria vt 04/09/2015
Desapontamento e revolta.
2.5
Esse livro teria sido incrível. O melhor da saga. Mas então o núcleo principal foi transformado numa fanfic ruim, forçada e muitas vezes engraçada com suas cenas sem sentido.
Diferente do terceiro livro da série que pecava em acontecimentos, sendo monótono em sua grande parte até o final, Queen of Shadows não teve esse problema, mas deixou uma trilha de defeitos imperdoáveis do começo ao fim.
Antes de começar a apontar o grande defeito do livro - seus personagens fora de caracterização - preciso ao menos apontar o único traço positivo de real evolução na nossa principal. Para a metade do livro vemos Aelin traçar planos e planos e alguns deles realmente inteligentes e dignos da assassina que foi, diferente do que acontecia nos livros passados, onde jus não era feito ao título. Mas é apenas isso que temos, pois Aelin se transformou em alguém que não conhecemos, como se fosse uma personagem completamente nova inserida ali.
Mais cabeça dura do que nunca vemos ela se desdobrar para achar modos de culpar as pessoas ao seu redor, julgando e julgando sem querer analisar os fatos e deixar sua postura mimada de lado. E quem mais ela julga é a pessoa que ela parece ter nunca conhecido, Chaol. É como se ela nunca tivesse vivido os acontecimentos passados, nunca tivesse sido sua amiga e amante, nunca tivesse perdoado e entendido os erros dele, nunca tivesse passado um livro separada se curando e entendendo que ela e ele não continuariam juntos pelas diferenças e porque mudaram. Não. Não foi um término bom e aceitável pra duas pessoas que clamavam se amar e se importar um com o outro, foi um odiando o outro e falando coisas que nunca falariam.
Os personagens foram resumidos a um fator: a nova obsessão da Sarah J. Maas, Rowan. Aelin foi moldada a tratar os outros de forma que o Rowan fosse o único que estivesse lá para ela, que a entendesse. Chaol foi moldado a ser alguém perante a ela que nunca foi. Alguém que faz certas coisas que não coincidem com seu personagem. (Como ter tido sexo sem compromisso com uma mulher um ano antes dos acontecimentos de Throne of Glass. Oi? Estamos falando do mesmo homem que não conseguia flertar com uma mulher sem se enrolar todo?)
Chaol, que cresceu odiando a magia e seguindo a lei, pode ter tido seus momentos onde não aceitou quem ela era, mas esse homem, que matou pela assassina e virou um traidor entrando em sua causa muito antes dos acontecimentos finais de Heir of Fire, ele nunca trataria ela assim sem mais nem menos. Por mais revoltante sua vida tivesse se tornado, nós conhecíamos aquele personagem e alguns meses não mudariam seu carácter a tal ponto. Mas, aparentemente, tudo é preciso para fazer o nosso querido babaca abusivo Rowan parecer melhor perante aos olhos dos leitores.
Queen of Shadows praticamente gritava para você o odiar, mas não era possível quando estava evidente que as atitudes ali não eram dele. Mas, em compensação, vemos um personagem focado em salvar seu povo e seu lar, se importando e salvando os civis de Adarlan diferente de certa rainha que escolhe comodamente a quem salvar.
E então, depois de brutalizar seus personagens, Sarah nós apresenta capítulos e capítulos sobre como Rowan Whitethorn é lindo e maravilhoso e forte e poderoso e bom e por aí vai. Nós não temos mais aquela relação platônica entre Aelin e ele, que poderia ser aceitada e apreciada em certos momentos, não, nós temos intermináveis páginas da Aelin poeticamente descrevendo cada movimento que seu mais novo amor fazia. Porque obviamente ela não podia ter apenas se envolvido romanticamente (esteja implícito que eu não estou julgando qualquer relação da Aelin e sim a necessidade da autora em a colocar com um interesse amoroso a cada livro.) com três homens em cada um de seus livros, ela precisava de mais um!
Rowan Whitethorn, o famoso eu te maltrato porque na verdade te amo. Ótimo exemplo pra todo mundo. Se um cara te socar na cara e disser que o mundo teria sido melhor se você tivesse morrido, NAMORE ELE!
Ele, totalmente moldado para ser o clichê dos livros adolescente em Queen of Shadows.
Sem sentido algum, aquele guerreiro grosso que a violentou (fora dos treinos) e abusou psicologicamente dela, agora estar apaixonado por ela! Sim, um guerreiro de 300 anos (alô pedofilia!) apaixonado por uma garota de 19 anos que não mostrou nada a mais do que entrar numa causa que ele nem simpatizava antes, que continuava a mesma garota que ele com sua arrogância e poder começou a destruir, sem se preocupar com o que fazia até ser avisado. Pois, de qualquer forma, pedindo desculpas, abuso psicológico feito por simplesmente PODER, pode ser esquecido e transformado em amor, né?
Não há sentido, sinceramente, que ele do nada tenha descoberto esses sentimentos, da maneira mais dramática possível, eu lhes garanto. Não tem onde Rowan amar Aelin além da causa que ela adentrou e da rainha que vai ser, ali vive a honra dele e o juramento que fez.
Mas tudo bem, o livro não foi só seus defeitos, pois nós temos personagens novos! Que, sinceramente, salvaram o livro de ser o maior desastre literário que eu já vi. Não sei se aguentaria 672 páginas dele com apenas Rowan e Aelin, ainda bem que não foi um Heir of Fire...
SPOILERS
Lysandra, a cortesã que conhecemos em Assassin's Blade e que tinha uma antiga rixa com Aelin. Ela volta e está incrivelmente maravilhosa! Conhecemos mais sobre ela e sobre o que aconteceu depois que Celaena foi mandada para as minas e então temos Lysandra se juntando secretamente a causa para derrubar Arobynn e o rei. E, sério mesmo, ela é incrível. Divertida, inteligente, com um passado e tanto e plots incríveis, ela foi a melhor adição do livro.
Aedion, que já conhecemos no terceiro livro, agora volta e reencontra sua amada Aelin e eu devo falar que foi uma das coisas mais bonitas da série. A relação dos dois é incrível, apesar da Aelin estar mal escrita. Aedion continuou sendo cativante e maravilhoso, sendo mais um personagem carismático que salvou o livro.
Manon e as treze voltam também e com uma adição ao seu núcleo, Elide, a filha de Lady Marion que sacrificou sua vida por Aelin. Nós vemos o que aconteceu com Elide e como ela se transformou em alguém fascinante, inteligente e manipuladora em suas maneiras e como sua história se entrelaçou com Manon.
Numa relação bem construída nós vemos as duas personagens crescerem muito. Elide descobrindo coisas sobre si mesma, achando sua força e lutando por si mesma. Manon descobrindo a rede de mentiras que passou a vida acreditando. Uma ajudando a outra. Uma ensinando força e a nunca se curvar. Outra mostrando sentimentos e humanidade. E tudo feito brilhantemente, apenas com as duas convivendo pelos capítulos. E por isso o núcleo da Manon foi meu favorito esse livro, diferentemente do terceiro.
Também temos outras personagens positivas e interessante e a volta de uma personagem com um plot incrível! Sério mesmo, se você nunca simpatizou pela Kaltain antes, esse livro vai ser o momento.
Fora dos personagens o livro te apresenta bons momentos. Cenas de ação muito boas, que moveram o livro para suportável e um plot interessante. O único problema é que, devo dizer em minha opinião pessoal, o melhor personagem do livro é resumido a ser uma ferramente para a história. Dorian está sendo mantido aprisionado pelo príncipe Valg e tendo curtos e raros capítulos onde não é ele mesmo, não se lembra de quem é e sofre ao ver as atitudes do demônio que controla seu corpo. Ele está lá apesar para ser resgatado, o que é triste para um personagem que podia ser muito mais.
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O livro tem momentos finais incríveis, de realmente tirar seu folego ao fazer você gritar. Momentos fortes, momentos lindos. Despedidas e recomeços, personagens que evoluíram, personagens que vão descobrir seu modo de sair da escuridão, de recomeçar.
Por esse final e por esses personagens e essas cenas de ação incríveis o livro ganhou essa nota. Um livro é movido por seus personagens e a autora desprezou tudo que escreveu para partir num rumo revoltante, transformando o núcleo principal numa coisa quase insuportável. Mudando seus personagens e traindo sua essência para outros poderem se destacar. Isso não se faz. Isso é uma das piores coisas que um autor pode fazer. Sarah J. Maas esqueceu o profissionalismo e se auto inseriu na história para brincar com seu novo favorito numa fanfic interminável e isso fez esse livro perder qualquer crédito que poderia ter, ele seria um livro nota 1 se não fosse por essas três coisas acima, o que é uma pena.
Esperar algo similar a isso para o quinto livro é pior ainda.