Leonardo 12/08/2015
Uma terra onde sonhos e pesadelos ganham vida...
Tarklidght. Mundo de heróis perdidos, bruxos corruptos, criaturas místicas e cientistas envolvidos em pesquisas escusas. Um plano onde a magia coexiste com a tecnologia, propiciando tanto o surgimento de excêntricos manipuladores de poder arcano quanto de inescrupulosos tiranos industriais. Um território vasto, com cultura e mitologia próprias, que faz divisa com dimensões além da compreensão comum. Um convite para a aventura. Este é o cenário que permeia "O Mago de Naminaroth e a Fênix", primeiro livro de autoria de Bruno Davi Kretzmann.
Na obra, acompanhamos a trajetória do jovem Mago, um menino repleto de sonhos, ingresso na Corte dos Bruxos do condado de Naminaroth, local onde passa a viver e que, ao longo dos anos, acaba por moldar sua visão de mundo e sua própria obsessão. Como revela a sinopse, o Mago depara-se com um poder maior do que poderia imaginar ao realizar um ritual envolvendo uma transfusão sanguínea com um dragão. No entanto, junto com o potencial mágico ele acaba absorvendo também parte da personalidade e das mazelas da criatura, fomentando uma situação de iminente conflito entre duas almas de grande ambição. E só essa premissa já é algo que assombra e encanta nas mesmas proporções.
Narrado em primeira pessoa, o livro constrói a personalidade do Mago como a de alguém de grande sagacidade e coragem, porém ainda um tanto imaturo, fato que nos impele a enveredar por suas experiências e a contemplar a própria evolução do personagem (nem sempre concordando com suas atitudes, diga-se, mas ainda assim na expectativa pela próxima virada de página). Assim, acompanhar essa história nada mais é do que vivenciar a jornada do protagonista, revisitando seu cotidiano na infância, perpassando seus dias na Corte até sermos levados aos acontecimentos que o motivaram e que mudaram os rumos da sua vida.
No decorrer da trama, o Mago também acaba desenvolvendo laços de amizade tão incomuns quanto verdadeiros (sejam estes amigos uma jovem necromante, uma dupla de bandoleiros desafortunados ou uma bela fênix, que lhe aparece cheia de significado em seus tempos de reclusão) e tem que lidar com o apoio e o ressentimento de seu primo Phillip (um parceiro de aventuras na infância, mas um adulto amargurado pelo poder que almejou e pela posição que conquistou) e com eventuais conflitos de personalidade, ao passo que o consciente e as memórias do dragão ganham espaço e manifestam-se de forma cada vez mais pungente.
Vale a pena mencionar que o carisma destes personagens é um elemento construído de forma tão despojada e particular que é quase impossível não se importar com o que acontecerá a eles, deflagrando momentos de empatia, raiva e até impotência em determinadas situações em que o leitor se vê obrigado a simplesmente aceitar os fatos, os erros e o acaso que permeia as experiências de vida de cada um, bem como as consequências que ecoarão num futuro repleto de incertezas. E é nesses momentos que a história cresce e nos mostra a verdadeira proeza do livro: provocar emoções e captar a atenção do leitor.
Paralelamente, "O Mago de Naminaroth e a Fênix" apresenta outros méritos: mesmo herdando algumas características típicas de partidas RPG (o enredo foi inspirado pelas jogatinas mestradas pelo autor) e bebendo de outras fontes para construir o todo, o livro consegue surpreender e sair do lugar comum, flertando com mudanças da narrativa, que transita entre a fantasia, o romance e o terror sem perder a coerência, presenteando o leitor com reviravoltas intensas e situações de prender o fôlego.
O trabalho também merece destaque pelas belas artes de Adalberto Souza, que soube transpor com riqueza de detalhes certos elementos marcantes do texto, o que só deixou a experiência com um gostinho de “quero mais”.
Por fim, concluo dizendo que "O Mago de Naminaroth e a Fênix” consiste numa leitura prazerosa, apoiada em um roteiro consistente e em personagens interessantes que cativam pela sua “humanidade” (mesmo que estes não sejam propriamente humanos). E considerando que o livro é o primeiro de uma saga, só nos resta aguardar pelos próximos capítulos e torcer para que os véus da realidade caiam mais uma vez com estrondo, revelando toda a sorte de texturas, nuances e personagens que fazem parte de Tarklidght, uma terra construída com alma e erigida na imaginação, onde sonhos e pesadelos ganham vida, refletindo mundos e planos sobre os quais só podemos especular.
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