Ricardo 28/09/2015
O reinado do Czar Pedro pode ser resumido em: "Enfrentou uma guerra de 21 anos, construiu uma frota naval do zero, uma nova capital, novos portos e canais sem a ajuda de um único empréstimo ou subsídio estrangeiro (de fato, era ele quem pagava subsídios a aliados, como a Augusto da Polônia). Cada copeque foi levantado com o trabalho e o sacrifício do povo russo no espaço de uma geração. Não usou empréstimos internos para que as gerações futuras arcassem. Tampouco desvalorizou a moeda emitindo papel-moeda, como Goertz fez em nome de Carlos XII da Suécia. Em vez disso, lançou todo o peso sobre seus contemporâneos. Eles fatigaram, lutaram, se opuseram, praguejaram. Mas obedeceram".
Pedro foi um dos primeiros russos a maltratar o povo "ignorante" que não queria se modernizar, mas deixou a Rússia como potência europeia no fim de seu reinado. Evidentemente, a um custo alto e contra a vontade de muitos, que não tiveram seus direitos de escolha respeitados.
A personalidade de Pedro foi muito afetada por uma Revolta dos Streltsi, que matou vários nobres e afastou sua mãe Natália. Os Streltsi eram os guardiões do Kremlin e responsáveis pela tradição, e facilmente atacavam o poder constituído quando visse uma perda das tradições russas. Uma segunda revolta, quando Pedro já era czar, foi debelada com um massacre: torturas (engraçado que havia clubes de tortura russos, e os que mais aguentavam eram promovidos. Assim, a tortura foi ineficaz, mas quando tratados com ternura, abriam o bico), execuções diárias...
Pedro era fascinado por questões militares, e principalmente pelo mar. Queria uma saída para o mar e vislumbrou tanto a opção Mar Negro ao Sul como Mar Báltico ao Norte. Um era controlado por Otomanos, o outro pela Suécia, a grande potência da época.
Outro fato marcante foi que Pedro procurou modernizar a Rússia enviando filhos de nobres ao exterior para aprender de tudo. Ele mesmo visitou vários países ocidentais duas vezes, e importou vários estrangeiros para trabalhar na Rússia.
Não só modernizou o exército como atacou os costumes também: a) todos deviam raspar as barbas, exceto camponeses e padres, sob pena de multa; b) todos deviam se vestir à moda ocidental, exceto camponeses, sob pena de multa; c) cunhagem de moedas de cobre, ouro e prata; d) obrigação de selo oficial em contratos, para aumentar renda do governo; e) criação da ordem de Santo André, para economizar nas condecorações; f) mudança do calendário para Juliano.
Pedro passou a maior parte do reinado em guerra com a Suécia, de quem conseguiu tomar os territórios no Báltico onde fundou São Petersburgo. E a Suécia tinha um exército invencível, que Pedro conseguiu destruir via diplomacia (sempre teve aliados para distrair os suecos, como Polônia, Dinamarca e Estados do Norte da Alemanha) e via militar, com seu exército novo em folha e uma nova marinha.
Durante os anos finais de seu reinado, Pedro se concentrou em levar museus, bibliotecas, galerias de arte e até um zoológico para S. Petersburgo. Garantiu que os museus fossem gratuitos para educar o povo, e até oferecia café e vinho em nome e pago por ele.
Seguiu o conselho de Leibniz, fundou a Academia de Ciências, até hoje a instituição proeminente da Rússia, e fundou a Academia Russa, mesmo que, por ironia, não houvesse escolas de primeiro e segundo grau.
Outro problema grave que Pedro via era o poder da Igreja Ortodoxa em defender a tradição e ficar contra suas reformas modernizantes. Atacou a igreja com uma reforma que aboliu o Patriarcado e o substituiu por um colégio, e "anexou" a Igreja ao Estado. Das palavras de Alexander Soljenítsin: a história da Rússia teria sido "incomparavelmente mais humana e harmoniosa nos últimos séculos se a igreja não tivesse entregado sua independência, mas sim feito sua voz ser ouvida entre o povo, como ela faz, por exemplo, na Polônia". A Igreja ficou tão servil ao Estado que qualquer oposição a ele naturalmente não buscaria a Igreja como aliada, pois ela era o Estado.
Muitas das suas reformas continuaram, até o Estado ser completamente modificado com os bolcheviques.