Blog Imaginação 25/01/2016
A Mão Que Me Acariciou Primeiro
Não, esse livro não é sobre a maternidade, embora seja esse o estopim para que as tramas dessa envolvente história desenrolem. Também não é sobre os efeitos bombásticos que dar à luz a uma nova vida causa sobre nós, mulheres (Falo com conhecimento de causa, pois sou mãe de um pequeno rapaz de 4 anos que transformou minha existência e passou a ser a luz dos meus olhos), na minha humilde visão esse livro é sobre quem somos de verdade, como agimos e reagimos quando coisas realmente grandes, como a maternidade nos acontecem.
A autora Maggie O’Farrel venceu importantes prêmios literários com sua escrita particular e em algumas críticas a essa obra especificamente importantes veículos do cenário literário dizem que a irlandesa Maggie ‘disseca’ a alma feminina através dessa obra...eu concordo.
Particularmente, esse livro foi um desafio, já que tenho uma pequena implicância com livros que retratam personagens centrais em épocas diferentes, praticamente já começo a leitura com o nariz torcido rsrs não sei por qual motivo, inclusive com autores que eu gosto muito, quando vejo passado, futuro e presente todos num livro só, contando histórias de pessoas distintas, em séculos diferentes já fico meio assim... Particularidades de leitora, vocês sabem como é. Demorei infinitamente mais do que o normal para ler, alternei com outros três, mas terminei e confesso, me ganhou.
Primeiramente pela escrita da Maggie, que é rica em detalhes, em diferentes nuances e até mesmo em ritmo, o que me faz aplaudi-la de pé porque alternar capítulos dessa forma variada sem se perder é de um talento, de uma habilidade incrível.
A história é alternada entre Lexie e Elina, Lexie inicia o livro como Alexandra, uma jovem de uma cidade do interior, em meados da década de 1950 é expulsa da universidade por se recusar a pedir desculpas por algo que não fez, assim , retorna à sua pacata família de muitos irmãos, onde claramente não se encaixa. Despretensiosamente conhece Innes Kent, jornalista, que é praticamente a representação de tudo o que Lexie quer para si, uma nova realidade, numa nova cidade, um desafio para a inspirada Lexie.
Lexie se muda para Londres, começa seu trabalho na Elsewhere como jornalista, escrevendo sobre arte e descobrindo o amor e suas desventuras com Innes. Porém, Elina descobre que Innes apesar de separado ainda é oficialmente casado e sua ex esposa não aceita muito bem esse fato, descobre também que ele é pai de uma menina envenenada com o ódio da mãe... e descobre a própria maternidade,pois, decide sem hesitação ter seu bebê sozinha.
Já a história de Elina inicia de forma angustiante, pois ela está sem memória, não se recorda do parto, dos três dias de dor para que o bebê nascesse, não sabe o motivo de ter apagado de sua memória fatos tão marcantes. Então fica a distorção, já que Elina que é retratada através de seus poucos vislumbres de memória, como uma mulher satisfeita com a gestação, com seu trabalho como pintora e com seu relacionamento com o namorado Ted. Aqui preciso pontuar: quando comecei a leitura fiquei entediada com os momentos de Elina, nada acontecia. E é aí que fica evidenciada a genialidade da escrita da Maggie: essa morosidade do ritmo de Elina é proposital, pra deixar bem marcado o vazio na mente dela, a angústia de não fazer ideia do que ocorreu com suas memórias e ter um bebê nos braços, que apesar de não saber como ele chegou, sente por ele um amor imenso. No mesmo passo que Ted, passa a ter lapsos de memória, visões do passado, tonturas e instabilidade emocional. Confesso que inicialmente, achei desnecessária essas alterações no Ted, mas, depois tudo se explica e se encaixa magistralmente.Fiquem atentos a isso.
"A Mão Que Me Acariciou Primeiro" é um livro de detalhes, tanto na maneira descritiva da escrita de Maggie O’ Farrell quanto na parte visual e tátil. A textura da capa é incrível, é macia, aveludada, parece o toque da mão macia da mãe da gente, já as páginas são um pouco ásperas, já que contam uma história nada suave... E o final, a forma como tudo se entrelaça e se revela, com tudo o que estava angustiante ficando bem acertado, é claramente a afirmação que a autora sabe muito bem o que estava fazendo o tempo todo. Palmas para a brilhante Maggie!
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