JeffersonCevada 26/08/2016Entre a fé e a violência há o presságioUma mulher evangélica que perde a fé. Um pastor que se encanta por essa mulher. A família dela, pacífica – um refúgio pra ela. A dele, disfuncional – uma brutalidade. Ambos “levam” a vida. Os personagens, em geral, não têm nenhuma perspectiva – por isso o mundo emocional aparenta estar sempre abafado? Ou isso é, na verdade, o efeito? Causa e efeito se confundem. A mulher e o pastor, tão diferentes mas tão iguais quando submetidos aos efeitos das preocupações da vida numa metrópole.
“Precisa parecer sério e respeitoso. Sim. Mas que preocupação é essa. Se precisa parecer, é por não ser. Não. Precisa ter calma, ainda que tudo seja assim tão inesperado, irreal.”
Eda Nagayama cria um clima de tensão por meio da sua linguagem. As frases são cortadas, desconstruídas em sua estrutura formal. “Entrava pra observar e procurar. Deus. A fé. Nas pessoas, nos ritos”. A linguagem estilhaçada é a metáfora do modo de viver contemporâneo. Há parágrafos compostos de uma ou duas palavras:
“E se.”
Me encantou o olhar apurado da autora para detalhes da alma aflita numa época em que a violência cotidiana (e quase cristalizada!) das grandes cidades é suficiente pra criar presságios em relação àqueles que amamos. Poético num clima de suspense.
site:
https://www.youtube.com/watch?v=kC9Ou1f8Y9k