O rosto de um outro

O rosto de um outro Kobo Abe




Resenhas - O Rosto de Um Outro


13 encontrados | exibindo 1 a 13


Nifrido 14/07/2021

Transgressor e perturbador
Aqui conhecemos o protagonista sem nome, que, após uma explosão, acaba ?perdendo? seu rosto.
De maneira secreta e obcecada, se põe a criar um novo rosto. Conforme lemos as anotações, fica clara a metáfora das máscaras usadas por todos os seres humanos durante sua existência.
O livro é perturbador e não muito fácil de ser lido. A esposa do protagonista é a peça chave da trama, e, após a criação da máscara, o personagem principal se põe em uma situação extrema: tenta seduzir a própria esposa com a nova máscara, fingindo ser outra pessoa, e, como ele mesmo narra, criando um triângulo amoroso em que ele mesmo é dois personagens.
Sendo um livro do pós-guerra, esse é um tema que será abordado na obra com maestria e elegância.

Um excelente horror psicológico, que vai te deixar pensando sobre suas próprias máscaras, e provavelmente machucará sua alma com suas próprias reflexões.
comentários(0)comente



Dankar 28/05/2015

O Rosto de Um Outro foi o primeiro livro que encomendei logo na pré-venda, pois já ansiava por sua tradução brasileira desde o ano passado, quando vi a primorosa adaptação dirigida pelo Hirsohima Teshigahara e roteirizada pelo próprio Kobo Abe. A verdade é que eu tinha poucas esperanças de que isso acontecesse em breve. A única tradução de um livro do Kobo Abe (que é considerado um dos grandes escritores japoneses do século XX) que existe por aqui é a d'A Mulher da Areia (que também foi adaptado pro cinema por Teshigahara), mas é uma edição muito antiga, lá dos anos 60, de forma que fiquei com muito receio de que a tradução fosse péssima.
E então, um dia, por acaso, vi que a Cosac Naify estava para publicar uma tradução de O Rosto de Um Outro. Por algum tempo, visitei o site da editora diariamente, procurando informações sobre o assunto, e quando o livro finalmente saiu para pré-venda eu não tive outra opção além de comprá-lo na mesma hora.
Apesar de toda minha empolgação, admito que eu tinha um pouco de medo de me decepcionar. Havia a possibilidade de que a obra tivesse sido melhorada na adaptação (é algo raro, mas acontece), ou mesmo de que o livro perdesse força quando já conhecemos seu enredo. Mas o caso não era esse: primeiro porque o filme e o livro possuem focos diferentes, além de algumas diferenças na própria história; e, segundo, porque Kobo Abe é um desses escritores que escrevem tão bem que a narrativa sobrevive com toda sua força mesmo se o lermos com seu enredo decorado do começo ao fim.
O Rosto de Um Outro é um desses casos raros em que filme e livro são obras distintas ao mesmo tempo em que se completam. Algumas das melhores cenas do filme não existem no livro, por exemplo, da mesma forma que os melhores recursos narrativos de Abe (como as longas dissertações do narrador, que funcionam praticamente como estudos sociológicos à parte) seriam intraduzíveis para o cinema.
Kobo Abe faz questão de nos obrigar a manter, durante toda a obra, nossos olhos bem abertos para assuntos como a alienação do indivíduo nos centros urbanos modernos ao mesmo tempo que nos faz sempre ter em mente os ataques de Hiroshima e Nagasaki, cuja memória preenche toda a atmosfera do livro. Durante toda a leitura nos sentimos inevitavelmente perturbados, e, quando chegamos em seu final, não restam dúvidas de que se trata de uma grande obra-prima.
E que venham mais livros do Kobo Abe para o Brasil!


"O Sr. K, dos órgãos artificiais, falara de soldados que perderam o rosto em campos de batalha e se suicidaram, e se tais fatos aconteceram mesmo, eu, que passei a maior parte da minha juventude num país de guerra, conheço-os muito bem. Em nenhuma outra época o preço do rosto caiu tanto no mercado. Nos momentos em que a morte nos parece mais próxima do que nossos companheiros, que sentido teriam as vidas de comunicação com estranhos? Um soldado que avança, baioneta em riste, não precisa de rosto. Realmente, aquela talvez tenha sido a única época em que um rosto envolto de bandagens pareceria belo.
Em minha imaginação, sou um artilheiro e disparo contra tudo o que meus olhos veem. E em meio à fumaça da fuzilaria, eu adormeço."
comentários(0)comente



Glauber 27/03/2021

Angustiante
Conta a história de um homem que tem o rosto desfigurado por um acidente no laboratório onde trabalha.

Após isso, inicia sua saga na busca de fazer uma máscara para esconder a deformação do rosto. Acompanhamos tudo a partir de cartas que ele escreve para a esposa.

Como em um labirinto, a narrativa segue os caminhos dos pensamentos e reflexões desse homem, que põem à mostra o papel do rosto na sociedade humana.

Adentrando nas angústias do personagem, somos levados a situações surreais (há até páginas de cabeça para baixo no final), em um ritmo lento e, por vezes, tedioso. É preciso paciência e estômago para essa leitura.

O autor é um dos principais escritores japoneses pós-guerra. Há, nesse livro, alegoria fortemente presente dos efeitos da guerra na condição humana.

O autor também trabalhou na adaptação desse romance para o cinema. Aliás, no livro, já há traços cinematógrafos.

E o final é daqueles que te deixam em silêncio por minutos.
Luciana 29/03/2021minha estante
Interessante, colocar na lista!




Alexandre Kovacs / Mundo de K 21/12/2015

Kobo Abe - O rosto de um outro
288 páginas - Editora Cosac Naify - Tradução Leiko Gotoda - Lançamento no Brasil 2015 - Capa e abertura: Fotogramas do filme Tarin no Kao (The Face of Another), dirigido por Hiroshi Teshigahara, roteiro de Kobo Abe. Japão, 1966.

Lançado originalmente em 1964 por Kobo Abe (1924 - 1993), romancista e dramaturgo do movimento da vanguarda japonesa do pós-Guerra, este livro pode induzir uma (errada) impressão de simplicidade com base unicamente no resumo simples da trama principal. O protagonista e narrador é desfigurado por uma explosão em seu laboratório, o efeito devastador faz com que ele passe a viver com o rosto encoberto por bandagens, mas após sofrer a reação cruel da sociedade ao seu aspecto, recorre secretamente aos próprios conhecimentos científicos para construir uma máscara perfeita que passará a ser o seu novo rosto, no entanto a máscara acaba afetando a sua personalidade e induzindo um comportamento violento que foge ao controle. O argumento poderia até ser confundido com um típico roteiro de filmes de horror classe "B", mas serve como ponte para uma análise difícil e perturbadora do autor sobre o comportamento humano e a importância e influência da aparência na identidade das pessoas. O leitor é orientado por três cadernos de diários que o protagonista sem nome escreve para a esposa contando todos os detalhes do processo de confecção da máscara e a consequente transformação que ocorre no seu comportamento, como descrito no trecho da carta abaixo que acompanha os diários e que cita o seu desvio de personalidade como um outro personagem (não sei se 'ele' me destruiu ou se eu 'o' destruí):

"Você sentirá raiva e humilhação mas, peço-lhe, contenha com firmeza o olhar que por vezes tenta projetar-se para longe deste papel e continue lendo. Você não faz ideia de quão intensamente desejo que supere este momento com segurança e dê um passo mais em minha direção. Não sei se 'ele' me destruiu ou se eu 'o' destruí: seja como for, o fato é que aqui cai o pano sobre a mascarada. Penso em matá-lo, em me apresentar espontaneamente como sendo o assassino, em confessar tudo sem nada ocultar. Quero que você continue lendo, não importa de movida por complacência ou por sentimento oposto. Àquele a quem foi dado o direito de julgar, cabe também o dever de ouvir a confissão (...) Como você mesma pode ver, o manuscrito em questão é o registro dos fatos ocorridos durante um ano inteiro, anotado em três cadernos grandes. Escrever, apagar, corrigir e transformar as minhas anotações em algo compreensível na proporção de um caderno por dia foi um trabalho insano." (págs. 10 e 11)

A esposa é um elemento chave no romance porque, apesar de continuar devotada ao casamento e cuidando do marido, segundo as conclusões da mente atormentada do protagonista já não consegue manter a mesma relação anterior ao acidente (o que é de certa forma normal, apesar de injusto). Sendo assim, o triste cientista desfigurado desenvolve um plano minucioso para se apresentar à esposa com a nova face, iniciando um processo de sedução que lhe trará ainda mais sofrimento devido ao surgimento de um improvável triângulo amoroso (ciúme dele próprio) e também das ações audaciosas e violentas que ele passará a tomar sob influência do novo rosto. A esposa representa portanto a falta de ligação do protagonista com o mundo exterior e a sua reconquista lhe trará o desejado convívio e volta à "normalidade". Será que existe uma solução para o impasse existencial do narrador?

"E essa onda de fortes emoções era ciúme. Ciúme que brota da imaginação eu já experimentara diversas vezes em ocasiões anteriores, mas aquele era diferente. Aquilo era uma vibração carnal, algo vívido a ponto de não me ocorrer de imediato um nome para designá-lo. Talvez seja mais correto chamá-lo de movimento peristáltico. Anéis entorpecentes de angústia me subiam em espasmos uns após outros desde os pés e escapavam pelo topo da cabeça. Imagine a movimentação dos pés de uma centopeia e terá uma ideia aproximada. Realmente, o ciúme era um sentimento bestial, capaz até de induzir a assassinato, pensei. Parece-me que existem duas correntes de pensamento em torno do ciúme: a de que é um produto da civilização e a de que é um instinto primitivo inerente a animais selvagens. Pela experiência daquele momento, penso que seria quase com certeza a segunda." (pág. 169)

A descrição das deformações e lesões formadas por queloides em todo o rosto após o acidente é impiedosa e perturbadora, tais como: uma massa rastejante de sanguessugas, de um preto avermelhado, emaranhadas e intumescidas. Este estilo torna o romance um desafio para o leitor que passa a partilhar do cotidiano do protagonista aprisionado nas bandagens ou na máscara, uma sensação francamente claustrofóbica. Não é uma leitura fácil e pode deixar marcas na alma (que mais podemos esperar de uma boa obra literária?).
comentários(0)comente



Adriana Scarpin 08/01/2016

O fato do narrador levar o conceito de persona amalgamando-o à literalidade criando uma tensão constante que haverá uma ruptura de tabu e no exato momento que isso vai se concretizar o livro acaba. Eu diria que é de fato uma grande obra, mas passar por todas as minúcias presentes no texto é um trabalho um tanto quanto árduo, para não dizer entediante.
comentários(0)comente



Aa 21/01/2018

Este é, provavelmente, um dos romances mais difíceis que já li. A premissa em si não é muito complicada: homem "perde" o rosto, o que resulta na perda do seu contato com o mundo, por isso cria uma máscara para recuperar o mundo, e descobre que a máscara é um outro "eu" dele, e aí começam os conflitos. Dá pra classificar o livro como uma história de terror, com ecos psicológicos de A Metamorfose do Kafka, e poderia até ser um thriller, não fossem as divagações do narrador-personagem. Aliás, essas divagações são o que tornam o livro difícil: embora sejam justamente o que é elevado como maior qualidade do livro, elas são variáveis em qualidade e bastante cansativas. Talvez esse efeito sonífero seja causado pela tradução ou pela própria mentalidade japonesa, que encontra dificuldade em se expressar numa língua estrangeira, mas o fato é que atravessei o meio do livro com considerável dificuldade. Mas não me arrependo: sai-se da experiência com uma visão mais abrangente do mundo,

Não foi uma leitura fácil,
comentários(0)comente



Rodrigo 13/04/2017

Um suspense escrito de uma maneira tão refinada, que alcança esferas além da narrativa da história em si. Existencialista, surreal, nos leva a uma experiência tão intensa que o coloca inegavelmente na categoria de obra prima. Me impressiono com o fato desse autor não ser tão conhecido aqui no ocidente. Acabei de descobrir que o autor trabalhou em conjunto com um diretor japonês, produzindo o filme do livro, disponível no link IMDB abaixo.
Simplesmente genial.

site: http://www.imdb.com/title/tt0061065/?ref_=nm_knf_i3
comentários(0)comente



Lucas Canabarro 08/09/2017

O livro aborda muito bem a crise do personagem principal, e o assunto identidade. Há passagens onde a temática é muito bem abordada, e o drama inicial nos prende na leitura.
Porém, foi uma leitura difícil de pegar ritmo; isso porque o autor (e aqui eu falo do personagem) se alonga demais em linhas de pensamento que fogem da trama. Há quem goste desses momentos filosóficos, mas para mim foi bem desgastante.
comentários(0)comente



AndreCF 01/02/2021

Lutei com esse livro por meses. A leitura é difícil mas o enredo é recompensador. Kobo Abe discorre de forma magistral a respeito da identidade do indivíduo e das inúmeras máscaras que nós criamos para viver em uma sociedade de aparências. As reflexões do protagonista que perpassam diversos temas, a sutileza com a qual o autor transmite os desejos da personagem, como no episódio do abaixo assinado no laboratório, e o desfecho do livro são simplesmente brilhantes. É uma pena que o autor tenha apenas dois livros traduzidos para o português. Recomendo muito para quem gosta de Kafka e Akutagawa
comentários(0)comente



Hildeberto 25/02/2024

Reflexivo, mas enfadonho
"O rosto de um outro", de Kobo Abe, narra a história de um homem que, após ter seu rosto deformado em um acidente de laboratório, produz uma máscara hiperrealista para voltar a se inserir na sociedade e se reaproximar de sua esposa.

O enredo suscita várias reflexões sobre identidade, preconceito, aparências, verdade, relações humanas, sentimentos, entre outros. São pensamentos interessantes, alguns particularmente incomuns. Por outro lado, há um excesso de divagações que deixa o livro meio arrastado e pedante, a narração não avançando, tornando a leitura um pouco chata.

Seja como for, a edição da Cosac Naif é impecável!
comentários(0)comente



Caio.Silas 04/11/2023

O homem que quis ser Kafka
A temática do livro é original e muito promissora, um cientista que perde o rosto em um acidente e que passa a se empenhar doentiamente na concepção de uma prótese para reavê-lo. Essa prótese, entretanto, só pode ser conseguida mediante o modelo de um rosto pré-existente, e é daí que se dá o desenrolar da história, quando o cientista, devido à situação enfrentada, começa a se perder em monólogos a respeito da identidade de cada um, do papel do rosto nessa identidade e da sina em carregar uma condição única em relação à toda uma sociedade.

Até aqui tudo bem. Mas onde está o desmérito então?

Está mais do que claro que o autor quis simular a prosa labirintica de Kafka, sem, contudo, sê-lo. O resultado é terrivelmente desastroso, um texto emaranhado, perdido em retalhos que não consegue desenvolver, completamente forçado e sem qualquer resquício da espontaneidade com que Kafka conseguiu produzir seus enredos. A obra, apesar de tudo isso, tornou-se cult, muito provavelmente pela riqueza e impacto da ideia pela qual foi concebida, e também certamente mais pela repetição de um discurso do que pela compreensão e leitura do conteúdo.

O livro é dividido em três cadernos, os quais são endereçados pela personagem principal à esposa. Lê-los, a cada um, é quase uma tortura, tamanha a quantidade de ninharias irrelevantes e a incapacidade do autor, ao menos nessa obra, em construir um roteiro. Pelo que sei, o livro está esgotado e sendo vendida a mais de 150 reais por sebos. Ouça o meu conselho, não desperdice tanto dinheiro assim com essa obra, a não ser que pelo simples ato de colecionar, caso contrário, pode ter certeza de que vai se decepcionar.
comentários(0)comente



13 encontrados | exibindo 1 a 13


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR