TGN 23/02/2020
Resenha escrita por Glauber Oliveira
Com uma proposta de enredo diferente e uma protagonista envolventemente “humana” (uso esse termo para exaltar a simplicidade de criação da personagem), Pamela Redmond Satran nos traz em 'Younger' reflexões e lições para leitores de todas as idades diante do olhar de uma mãe de 44 anos.
'Younger' retrata os acontecimentos da vida de Alice, uma ex-dona de casa de Nova Jersey de 44 anos, que depois de sua separação e a partida de sua filha, Diana, para fazer um intercâmbio na África, não sabe bem que rumos tomar. Para ela, que nos últimos vinte anos, só exerceu a função de esposa e mãe, é uma mudança drástica. Porém, com a separação e a distância da filha, a ex-dona de casa tenta voltar ao mercado de trabalho, mas devido a sua idade, as pessoas não a contratam.
Meses depois de sua separação, em uma noite de Ano Novo em Nova York, Alice acompanhada de sua amiga artista e lésbica (e muito sábia, em minha opinião), Maggie, acaba indo parar no consultório de Madame Aurora e revelando um desejo bastante inusitado: ser mais jovem. Após esse episódio, Maggie decide abrir os olhos de Alice para a sua aparência a fazendo perceber que com algumas mudanças no guarda-roupa, ela conseguiria se passar por uma mulher com menos de 30 anos com facilidade. O primeiro teste desta experiência é feito ainda na noite de Ano Novo, quando Maggie e Alice vão para um bar, onde Alice flerta com um jovem design de games, Josh, que acaba se encantando pela “jovem” e misteriosa mulher que lhe dá o primeiro beijo do ano. Depois de ter a prova que consegue se passar por uma mulher mais jovem, ela volta a procurar emprego e acaba conseguindo a vaga de assistente de Teri Jordan, diretora de marketing da Editora Gentility.
No entanto, todos acreditam que Alice é uma jovem recém-graduada de 29 anos com pouco conteúdo, fazendo com que ela passe a ter que agir como uma jovem garota, porém, por quanto tempo ela vai conseguir manter essa mentira? E quando sua filha voltar da África? Como ela vai explicar para todos que tem uma filha de 22 anos, enquanto todos acreditam que ela tem 29?
Diante de todas essas perguntas sobre o enredo, eu me encontrei maravilhado com as lições que 'Younger' traz para pessoas de todas as idades. Na verdade, a obra de Satran tenta nos mostrar que não há idade para começar, recomeçar, ou até mesmo desistir. Independente do momento cronológico, as mudanças devem ser sempre bem recebidas em nossas vidas, pois a mudança é necessária.
O livro é narrado em primeira pessoa, onde a personagem principal, a Alice, é um ser que transita no universo juvenil com o olhar crítico de mãe. Esse diálogo entre dois mundos/tempos torna a protagonista tão interessante e tão envolvente, pois, percebemos que ela, no início, se prende muito por ser uma ex-dona de casa cheia de pudor, porém, quando começa a se soltar e se permitir, ela acaba fazendo isso demais. A humanidade nos erros da Alice é tão próxima do nosso dia-dia, pois, às vezes pecamos pelo excesso, entretanto, em alguns momentos pecamos pela falta. Tal coisa é tão real na constituição da personagem, pois ela comete erros (como mãe e como jovem de 29 anos) por ambos os motivos (falta e excesso), fazendo com que nós nos aproximemos de sua essência e nos identifiquemos com os seus problemas.
Além disso, relação de Alice com todos os personagens, nos permite que consigamos identificar as diversas facetas que a protagonista possui durante o enredo. Diana, a filha de dela, nos mostra o lado mãe que tenta libertar o filho de suas garras superprotetoras para viver no mundo, por mais que tenha aquele aperto no coração. Lindsay, colega de trabalho, nos mostra uma versão mais jovem da protagonista, permitindo esse diálogo da ex-dona de casa com a sua juventude. Teri, a chefe de, evidencia o sonho do passado da protagonista de trabalhar e conseguir criar os filhos. Josh, o namorado/paquera/”peguete”, nos evidencia o que foi a relação de Alice com o seu ex-marido, os sentimentos dela pelo pai da filha e como ela tem medo de se envolver novamente com alguém. E por fim, Maggie, uma das personagens mais sábias de todo o livro, que parece ter uma visão clara de tudo sempre ajudando Alice com conselhos pontuais (A Verdade Verdadeira), pois, em toda a narrativa Maggie funciona como “a consciência” da personagem sempre tentando manter ela nos eixos.
Todos esses personagens, mesmo, aparentemente, servindo apenas para retratar símbolos da vida da protagonista, possuem a mesma característica humana dela. Na obra de Satran, você não encontra estereótipos de personagens, como: a melhor amiga escudeira, o homem perfeito par romântico da protagonista, a chefe malvada e sem coração, entre outros. Os personagens possuem grande dose de realidade em sua essência, o que torna o enredo com poucas reviravoltas drásticas, porém, o livro é algo instigante de se ler. A narrativa “adolescente” sob a perspectiva de uma mulher de 44 anos é algo que traz para a trama um jeito inovador e diferente de descrever as coisas, pois, em uma única personagem nós temos a “mãe” e a “adolescente” (tal característica da narrativa e do enredo me atraiu bastante).
Sobre a parte material do livro, a capa é interessante, porém, considero um tanto infantil (por mais que seu objetivo seja parecer irônica e reforçar um caráter cômico). A revisão e edição do livro são muito boas, não consegui identificar problemas nesses âmbitos, e a diagramação das páginas segue o padrão comum dos livros, não deixando a desejar.
Minha avaliação do livro será cinco estrelas, pois a obra me trouxe algumas reflexões importantes e aprendi bastante com a Alice em suas aventuras como uma mulher de 29 anos. Indico o livro, principalmente para pessoas que estejam passando por mudanças em suas vidas, pois o enredo do livro lhe carrega durante toda a história lhe trazendo algumas lições e frases de efeitos (que me fez lembrar o livro durante outras atividades de meu dia). Considero 'Younger' ótimo para quem quer refletir sobre a vida e suas mudanças.
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