Gabi 25/08/2021
Porta de entrada e incentivo para persistência em estudos sobre as cidades
A autora inicia a introdução dizendo: “Este livro é um ataque (...)” JACOBS (2000, p. 1), e assim, anuncia as críticas que a mesma virá a fazer aos fundamentos modernistas do planejamento urbano, no decorrer da leitura. Mas não é qualquer ataque, Jane Jacobs, ativista, escritora, jornalista e acima de tudo, cidadã que sempre cobrou seus direitos e cumpriu com seus deveres, participando ativamente da vida social urbana, escreveu em Morte e Vida das Grandes Cidades um verdadeiro guia de como nós, estudantes de arquitetura e urbanismo, futuros profissionais, devemos nos comportar perante nossos estudos. Jacobs nos mostra a importância de nos posicionarmos de maneira crítica frente aquilo que está posto, nos ensina como deve ser a postura de um verdadeiro pesquisador na área de planejamento urbano. Para isso, a escritora não apenas apresenta suas observações com base em sua vivência, mas conta detalhadamente como era quando visitava os bairros, com quem conversava, como obtinha as informações que gostaria, como observava as contradições e também as coerências dos lugares por onde passava, tratando a cidade, como ela mesmo descreve, como “um imenso laboratório de tentativa e erro” JACOBS (2000, p. 5) .
Um dos pontos mais críticos da leitura é uma simplificação que a autora faz de problemas muito complexos. Se uma mulher passa por um bar enquanto vai para sua casa e é assediada nesse trajeto, qual benefício essa movimentação traz? Será que as pessoas em volta defenderão a moça? Infelizmente, sabendo que vivemos em uma sociedade cada vez mais machista, diria que muito dificilmente. Então, o que adianta toda essa movimentação sem questionar problemas estruturais como este?
É insuficiente tentar resolver problemas de segurança urbana, sem questionar o contexto social. E se um casal LGBT transita por essa via e nesse percurso demonstra algum afeto? Qual a chance da movimentação salvar ao invés de prejudicar esse casal? Para pessoas que precisam se esconder por medo, a movimentação nem sempre é a melhor solução. O ponto aqui não é deslegitimar a segurança que o fluxo de pessoas pode trazer, mas questionar um pouco além disso. Ir contra a """superficialidade""" na análise.
Ademais, dificilmente seria possível uma vida em comunidade sem uma revolução para atingi-la. Claro, é pertinente e válido citar a história de vida da autora, que é uma história de luta, manifestações e busca pelos objetivos nos quais acreditava. Entretanto, lutando por uma reforma urbana e não por uma reforma de todo o sistema. A reforma urbana sozinha não é capaz de solucionar problemas graves como ela propõe. O livro nos incentiva a pensar sobre isso, então pode ser considerado um enorme “primeiro passo”.
É possível afirmar que a maior herança de Jacobs neste livro foi ter ensinado aos seus leitores a pensarem de forma crítica a respeito da cidade, independente de sua formação, e aos planejadores urbanos a considerarem a vivência dos lugares antes de realizarem algum projeto. Isso é um enorme legado. Morte e Vida das Grandes Cidades tem o poder de nos fazer pensar sobre cidadania, sobre direitos e deveres e principalmente sobre coragem de fazer a diferença. Jane Jacobs foi um expoente para o Planejamento Urbano. Existe muito a aprender com a leitura, com as análises detalhadas da autora, muito a aprender com sua vivência. Este livro é uma ótima porta de entrada e incentivo para persistência em estudos sobre as cidades.