Os Ricos Também Morrem

Os Ricos Também Morrem Ferréz




Resenhas - Os Ricos Também Morrem


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Literatura Policial 18/06/2015

Ferréz quer que a voz da maioria seja ouvida, e trata de falar por ela
Tenho acompanhado a produção literária de Ferréz desde o sucesso de Capão Pecado, em 2000. De seu livro anterior, Fortaleza da desilusão (1997), não tive conhecimento. A seguir veio Manual Prático do Ódio (2003), Amanhecer esmeralda (2005), Ninguém é inocente em São Paulo (2006), Deus foi almoçar (2011), O pote mágico (2012). Agora, este livro de contos, numa linha de trabalho que se distingue por uma série de razões, mas que vai muito além da literatura: dois CDs dentro do hip hop, poemas, colaboração em roteiros de cinema e TV, contos quadrinizados, confecção de roupas, e animação cultural. Seus livros foram traduzidos para vários idiomas, e ele participou da Feira Internacional de Frankfurt, em 2013. Nem todos os contos (curtos, sempre) se encaixam no gênero policial, mas muitos, sim.

O paulistano Reginaldo Ferreira da Silva adotou o pseudônimo FERRÉZ para simplificar seu contato com o público de periferia, o seu povo, seu mundo. E é neste mundo que ele transita, é para este mundo que produz, e é este mundo que deseja mostrar para quem se situa do lado de fora dele. Porque é o mundo onde vivem 2/3 da população paulistana, em 2/3 ou mais de seu território. É o mundo da maioria. Mas este é o mundo que é considerado “marginal”. Marginal por razões de rótulo, dado pela minoria que se diz culta… Ferréz quer que a voz dessa maioria seja ouvida, e trata de falar por ela.

Mas aqui, nesta obra, o que lhe dá distinção é a epígrafe: “Tem quem diz que é preto, tem quem diz que é viado, tem quem diz que é caipira, eu digo que sou do crime. É isso. E pronto.” (João Carlos da Rosa – que ninguém sabe quem seja, um ‘marginal’). Os Ricos Também Morrem abre com um prefácio em que o autor faz questão de esclarecer as razões de sua literatura participante, engajada, sim, e em justa causa. Em certo ponto, diz, depois de listar os locais em que se apresentou, mostrando seus contos, suas histórias:

“A cada colégio das quebrada que passava e lia os textos, lembrava da frase que mais ouvi durante minha caminhada na literatura marginalizada.

– Eu que num sou doido de ir nesses lugares.

Discurso nojento, de quem não pode amar o que faz.

Se fosse pensar assim, sequer escreveria uma linha, não iria para uma quermesse nessa vida, não passaria em presídios, colônias de pescadores, associações de moradores, não teria tido tantos abraços nos movimentos de ocupação, nas favelas por onde li os contos, arranquei sorrisos e gritos de revolta.” (p. 19)

São 40 contos sem índice, contos que cobrem amplo espectro da criminalidade exercida por/ exercida sobre a periferia, belamente ilustrado por Alexandre de Maio. Muitos críticos afirmam que o romance policial é a narrativa realista da atualidade. Ferréz mostra isso com clareza, com força, com variedade, sem fugir, sem se esconder, tratando de braços da repressão como a PM, a ROTA, a escola… até o Senado brasileiro. Usa nomes reais, em muitos casos, mas não vamos entrar na discussão do ficcional, o que de fato é.

Há tipos tocantes, como Nêgo Jaime, que não se conforma com a limitação da vida que leva por ali, e sonha sonhos diferentes, que tenta concretizar. Eternamente desrespeitado, acaba se enforcando em árvore do Parque da vizinhança, sintomaticamente chamado Santo Dias, que “contam que lutou por algo de valor.” E ninguém percebe que Nêgo Jaime também faz isso…

Ferréz, nos contos que classifico como policiais, mostra a visão pelo lado da periferia, como aqueles personagens sobre os quais a polícia tripudia. Como “Zé”, que muda de epíteto conforme a agressão dos PMs aumenta – apesar da recriminação do povo ao redor. Em “O país dos calças bege”, o egresso da penitenciária tenta retomar a vida, e encontra os mesmos obstáculos de sempre. Mas mostra: “entrei por assalto e me formei em homicídio, isso é que é faculdade.” (p. 60) Há certa tragicidade em quase todos, mas o cômico extrapola e faz o tom de “Meu querido crime”, narrador criminoso desastrado, uma obra prima, que nos faz rir com gosto.

Todo o universo da quase desconhecida periferia preenche o livro: crianças ignoradas pelos pais, nunca ouvidas, nunca acarinhadas; mulheres usadas pelos maridos para o sexo ou o trabalho doméstico; outras, impedidas de estudar. Ferréz não entra nunca no universo das religiões, não sei a razão, talvez não queira desrespeitar os leitores. E no amplo espectro de narradores, jamais entra um PM. Me parece meio irônico, já que a maioria deles deve ser também habitante de periferia. Trata ainda, e sem comentário algum, puro relato, do preconceito a que ele mesmo – autor reconhecido, livros traduzidos no exterior – é submetido. O conto, ” Filma eu” (p. 103-6) me causou forte revolta. Narra o tratamento que recebe de um repórter de TV que vem gravar entrevista com ele, e a todo momento lhe repete as coisas, “para ter certeza de que você entendeu”…

Recomendo que não percam “Relógios”, “Sebastião”, “Bananas”, “Pensamentos de um ‘Correria'” , “Negócios”. Mas especialmente “Círculo”, e depois me respondam: quanto vale uma nota de R$ 100,00 ?

A registrar, ainda, o belo trabalho que ele tem feito com o registro da LINGUAGEM dessa camada da população. Não, Ferréz não escreve bem, se nos pautarmos pelos critérios que elegem a língua padrão como a norma. Mas lembro que isso não se exige do literário. E ele resgata as gírias, os termos, as estruturas sintáticas, muitas vezes até a possível divisão em parágrafos, num estilo que deve ter deixado de cabelos brancos as duas revisoras: no que mexer, o que manter? E faz mais e melhor: institucionaliza o “num” como a negação oficial da periferia. Maravilha!

Saiba tudo sobre literatura policial no nosso site:
http://www.literaturapolicial.com/

site: http://literaturapolicial.com/2015/06/15/ferrez-os-ricos-tambem-morrem/
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Sancha 21/09/2020

Periferia é Cultura!
O livro "Os ricos também morrem" do escritor Ferréz que cresceu e viveu na periferia de São Paulo onde sua vivência é traduzida em seus contos. Este livro contém textos que te levam a realidade do dia a dia em comunidades das grandes cidades, pontuando em seus trabalhos a violência, as relações, os trabalhos, crimes, o descaso social entre outros, fazendo forte crítica social revelando a falta de políticas públicas que visam mudanças nestes contextos. Neste livro 3 contos me chamaram a atenção, embora todos levem a uma reflexão.
1- O.M.N.I.( Objeto matador não identificado) Simplesmente um soco no estômago para a urgência deste olhar para as comunidades, já que a violência do cotidiano acaba matando os sonhos.
2 - Zé
Quantos Zé existem de fato?
O Zé da pá, o Zé fudido, o Zé Ninguém, o Zé Bahia, o Zé humilhado entre outros tantos o "Zé" que leva todos os rótulos da sociedade se jogam no meio da multidão para amenizar as dores de ser só mais um Zé.
3- Círculo
Resumidamente, revela a hipocrisia que existe dentro das igrejas e como torna-se um círculo de consumo perverso entre a fé e o dinheiro.

Enfim... o livro é direto, não tem muitas pausas durante a leitura, relata explicitamente a realidade das periferias.

Sobre o Ferréz:
"Mostrar a verdade de ser em vez de ter"
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@cheiade9h 30/04/2015

Os Ricos também morrem
Os ricos também morrem é o mais novo trabalho do autor Ferréz lançado pela Editora Planeta. Eu "conheci" o autor graças a um amigo meu do estágio e quando vi esse lançamento das news da Editora não pensei duas vezes em pedir o novo livro do autor para conhecer a sua escrita e só posso dizer: curto, reto e grosso.



Os Ricos também morrem é um livro de causos sobre a periferia. Já começamos bem porque eu gosto muito de ler causos/contos/crônicas, mas a grande novidade foi ser incluída como leitora numa realidade que não é minha, a periferia. Ferréz é curto e direto pra me contar de como é a realidade de um dono de barzinho na favela, pra me contar como a população é iludida pelos vampiros (lê-se: políticos) de quatro e quatro anos, me conta do tráfico, me conta sobre a hipocrisia da religião e mais um monte de situações com a visão periférica.

Nesse novo livro do autor, há também ilustração em alguns dos contos pelo Alexandre de Maio, abaixo vocês podem ver uma dessas ilustrações. Elas complementaram os causos deixando a leitura mais fantástica.

site: LEIA MAIS EM http://www.livroterapias.com/2015/04/resenha-os-ricos-tambem-morrem.html
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Camila L. Oliveira 22/03/2020

O olhar do povo
Muito se vê nos jornais sobre as periferias, mas não se vê crônicas sobre como o povo está sobrevivendo a elas.

Este trabalho de Ferrez é uma crônica sobre o dia a dia do povo nas periferias.
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BooksBi 11/04/2020

Os ricos também morrem
Literatura marginal. Só quem é da periferia conseguirá capturar as personagens de cada conto e o significado de cada história.
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Marcão 09/10/2020

Ferréz sendo Ferréz
Excelente livro . Ferréz como sempre excepcional ...a verdade nua e crua da periferia
Parabéns
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Elton 23/09/2021

Literatura marginal mais uma vez narrando as mazelas e nos trazendo informação. Muito bom hoje em dia termos essa oportunidade e estar compartilhando esse tipo de leitura.
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Rodolfo 07/09/2023

Necessário!
Ferrez traz contos, contos reais de uma realidade social esquecida, ignorada e violentada diariamente.
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Rafael 18/11/2022

Ferréz não perde tempo
Textos rápido, com pancadas, mas alguns bem brandos também pra a realidade que Ferréz costuma escrever. É sem dúvida um dos meus autores favoritos, não somente por esse livro que corre, mas por toda a história do autor, o que ele significa pra a literatura brasileira e mais especificamente pra a literatura marginal. Ferréz não tem erro, é leitura certa.

Os contos são tomados pela realidade, pela dificuldade do brasileiro comum, que vive do outro lado do conto de fadas da elite do país. Cada narrativa grita uma dor ou uma ideia, e é essa voz que fica ecoando por toda a leitura.
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