Patty Santos - PS Livros 15/06/2015The Walking Dead by Jamie McGuirePassamos por mais pessoas, sem saber ao certo quem estava fugindo e quem estava perseguindo. Vi pais carregando filhos pequenos e puxando pelas mãos as crianças mais velhas. Algumas vezes, gritaram para eu parar, imploraram ajuda, porém, nos filmes, parar sempre significava morrer, e eu mal havia completado dezoito anos. Eu não sabia quanto tempo conseguiríamos sobreviver, mas tinha certeza de que não morreria no primeiro dia da droga do Apocalipse zumbi. (Miranda)
Sendo fã de carteirinha da autora Jamie McGuire, afinal ela me deu o Travis, quando eu soube do lançamento de Red Hill é claro que fiquei curiosa sobre o livro e decidi que iria lê-lo antes mesmo de ler a sinopse, que por sinal me chamou muito a atenção. E apesar de eu não gostar muito do cenário pós-apocalíptico zumbi, "The Walking Dead" não é minha praia, resolvi sair da minha zona de conforto e embarcar nessa história.
Red Hill é narrado em primeira pessoa, com três pontos de vista distintos. Os capítulos são intercalados entre Scarlet, Miranda e Nathan, que em um primeiro momento tem histórias separadas e com o desenrolar dos fatos essas histórias acabam se cruzando. Achei bem interessante os artifícios utilizados pela autora para cruzar as histórias dos personagens, não ficou algo forçado, mesmo sendo histórias diferentes, pessoas que nunca tinham se encontrado acabam de alguma forma se unindo para lutar contra uma ameaça comum.
Desde sempre somos bombardeados com superproduções hollywoodianas sobre ataques de zumbis, mas você já parou para pensar no que faria se isso realmente acontecesse? A realidade é que ninguém está preparado para encarar uma realidade dessas, seus mortos voltando à vida e se virando contra você, aqueles a quem você ama virando monstros, e a única saída é matar ou morrer. Sobreviver é a palavra de ordem.
Scarlet é uma técnica em radiologia que só consegue pensar nas duas filhas que deveriam passar o final de semana na casa do pai. Ao deixar o hospital no qual trabalha e que está um caos, em meio a um ataque de zumbis, Scarlet só pensa em encontrar as filhas e procurar um lugar seguro para ficar com as meninas, que são sua razão de viver. Uma personagem forte, capaz de atos de bravura, amizade, força e acima de tudo coragem.
Nathan é um bom pai, após tentar manter a calma em meio ao caos espalhado nas ruas com a notícia divulgada pelas autoridades, ele busca sua filha Zoe na escola e quando chega a sua casa descobre que sua mulher tinha ido embora e lhe deixado uma carta de despedida, dizendo que não tinha nascido para ser mãe. Nathan só pensa em salvar Zoe, uma menina inteligente, fofa e que trás um toque de humanidade a história, como se ainda existisse esperança no meio de todo aquele horror.
Miranda e a irmã Ashley com os namorados estão indo passar o final de semana com o pai no rancho da família, um lugar chamado Red Hill, quando são surpreendidos pelo surto de ataque de zumbis da cidade. Os quatro começam uma viagem turbulenta em meio aos zumbis, arriscando suas vidas para chegar ao rancho e ter uma chance de sobreviver.
As histórias dessas três pessoas em algum momento se interligam e todos acabam lutando por sobrevivência no rancho Red Hill, amizades são travadas, vidas são perdidas, amores surgem, lealdades são postas em jogo.
Eu imaginava esse momento umas cem vezes por dia: elas estariam exaustas e imundas, porém bem vivas. Eu nem me importava com o fato de que a chegada delas significaria que eu voltaria a conviver com Andrew. Se significasse ter minhas filhas de volta, eu daria as boas-vindas a isso.
Todas as noites, minhas esperanças eram frustradas e meu coração se partia. Eu nunca desistia até ficar escuro demais para viajar em segurança. E foi mais ou menos nessa hora que as lágrimas vieram. Cutuquei o pequeno graveto em minhas mãos, lutando contra o desespero e a impotência que me invadiam.(Scarlet)
Red Hill é um livro intenso, tenso e perturbador. No começo do livro eu fiquei um pouco confusa e demorei em me adaptar com a narrativa alternada em três personagens, com histórias tão diferentes.
Não consegui me apegar aos personagens, achei as primeiras 180 páginas, muito cansativas, repetitivas. Sempre a mesma coisa, os três personagens fugindo e lutando contra os zumbis, tentando sobreviver, pessoas morrendo, e eu não conseguindo me apegar a ninguém e nem me comover com a história de ninguém.
A história ganhou um novo ritmo quando eles chegam a Red Hill e as histórias se interligam, acho que foi a partir desse momento que para mim a história ganhou corpo, vi o envolvimento dos personagens, suas frustrações. Amizades surgindo, um novo horizonte sendo redesenhado. Algo como uma esperança no final do túnel. Mesmo no meio do caos, a humanidade prevalece, a esperança está lá pra alguns. E o que parece impossível acontece, as pessoas não esquecem que são pessoas e tentar viver o mais próximo do normal possível, mesmo tendo um inimigo a ser combatido.
Uma observação que não posso deixar de fazer é sobre a narrativa da Jamie McGuire, ela sabe envolver o leitor, mesmo não sendo meu estilo preferido de leitura, e me tirando da zona de conforto, eu não consegui desistir do livro, e precisei ir até o final pra saber o que iria acontecer com cada personagem.
Sei que existem pessoas que são vidradas nesse estilo de leitura, essa foi minha primeira experiência, posso dizer que foi no mínimo interessante, adorei o Nathan ele é sem sombra de dúvida um personagem adorável. Foi uma experiência gratificante poder conhecer esse outro lado de Jamie McGuire, e aqui fica minha dica, se você como eu só conhece a autora de Belo Desastre e não tem muito intimidade com o cenário de zumbis, entre nessa leitura de mente aberta, só assim a experiência será válida.
Cada noite era uma escalada rumo ao momento em que eu finalmente teria colhões para tocá-la. Às vezes eu brincava dando um cutucão ou um tapinha na perna, e ela não se incomodava quando eu deixava a mão ali. Infantil, mas ela era muito intimidante... e perturbadoramente bela. Eu achava difícil não encará-la e ficava feliz com a parca luz após o sol se pôr e com o fato de a escuridão me dar uma desculpa para me concentrar em sua boca enquanto ela falava. (Nathan)
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http://www.coracaodetinta.com.br/2015/06/resenha-193-red-hill-jamie-mcguire.html