Larissa 27/01/2015Constragendo senhorinhas nos ônibusEditoras são mesmo empresas comerciais. Como se já não bastasse o brasileiro não saber falar o nome Anaïs de forma correta e o título do livro ser “Uma espiã na casa do Amor”, a editora vai lá e me coloca uma bunda nua na capa do livro. Quer dizer… Vergonha, seu nome é “Larissa lendo Anaïs no ônibus”.
Anaïs (lê-se Anaíssi) Nin é uma escritora francesa, ela é muito conhecida por seu conteúdo erótico, influenciado pela psicanálise (sabendo disso, a capa até tem um pouco de sentido), mas não é um erótico tipo, “Sabrina” ou “50 tons”, é um erótico do tipo “nasci em 1903 e falo sobre sexualidade feminina”. E é isso, comparei Anaïs Nin com E L James, desculpa mundo.
O fato é que a autora fala (e narra) o sexo praticamente como uma arte, ou uma forma de expressão corporal, retirando boa parte de vulgaridade.
Sobre o livro: achei incrível. Mesmo. A autora fala de uma forma tão profunda e sensível sobre o sentimento de culpa que é impossível não sentir um pouco dos medos da protagonista. O livro também defende o fato de que a infidelidade/traição não acontece somente quando se está insatisfeito com o relacionamento. Temos Sabina, que ama Alan, que não imagina viver sem ele e, ainda assim, se envolve em vários outros romances para se sentir completa. Durante toda a narrativa Sabina vive martirizada pelas neuras, medos e sofrimentos causados pela culpa.
“A culpa é um peso que os seres humanos não conseguem carregar sozinhos”
Sabina sofre pelo dor que pode causar em Alan. O homem com quem é casada. O grande amor de sua vida e, ainda assim, o homem que ela trai. Ela não suporta a ideia de ser o motivo de ele ter o coração partido. Não consegue processar a imagem de um Alan irado, que vai desprezá-la para sempre, ou mesmo a ideia de um Alan indiferente, que não se importará com a traição. Ou seja, são muitas ideias, muito sofrimento e ninguém a quem confia-las.
O fato é que ela não tenta se justificar, atribuindo seus atos a falhas de caráter do Alan, ou suas próprias, ela se coloca como uma espiã da casa do amor, alguém que precisa experimentar novas sensações sempre para se sentir completa, mas ao viver essas experiências vive no limite do medo, tentando sempre descobrir quando a situação se tornará inadministrável. E vive seus dias, atormentada pela culpa e pelo medo de ser descoberta.
Como eu disse, acho que o objetivo do livro não foi em momento algum encontrar justificativas para a traição, mas sim uma busca profunda de autoconhecimento e compreensão. Segundo relatos, a própria Anaïs passava por tais dilemas quando escreveu o livro.
Um livro romântico, que trata o sexo como uma arte sensual, uma forma de expressão, retirando todo o pecado e vulgaridade relacionados ao ato. Vale cada página.
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