Lígia Colares 29/01/2017Resenha de E o que vem depois?Adrian descobre que existe uma doença mais rápida e cruel que o Alzheimer. Professor, doutor em psicologia, decide que o suicídio é o melhor caminho. Porém, ao chegar em casa, observa uma cena curiosa: uma menina é rapidamente colocada dentro de um furgão, e a única lembrança que fica para trás é seu boné. Será que é algo a se preocupar? Ou foi apenas uma cena normal que ele viu com outros olhos? Com essa pergunta na cabeça, Adrian não consegue finalizar seu plano inicial, e decide que vai ao menos descobrir quem é a dona do boné rosa.
Logo em seguida conhecemos dois sequestradores que possuem uma ideia genial: um reality show com cenas reais, em que o espectador pode interferir diretamente no trama por votação. A sensação de poder e empatia do programa os torna cada vez mais ricos, e cada vez mais ousados. A nº 4 deve ser uma temporada digna de um Oscar, e assim eles investem em artifícios que a exponha e crie empatia com o público.
O livro é narrado em primeira pessoa, com dois pontos de vista principais, Jennifer, ou Nº 4, que é trancada em um quarto escuro sem nenhuma noção de tempo, e Adrian, o professor que acaba se envolvendo nessa história juntamente com suas alucinações e todos os sintomas de sua doença. Temos também, de vez em quando, algumas observações da Detetive que investiga o caso e está num conflito entre intuição e protocolos, e os espectadores de um site bizarro.
A leitura se torna envolvente a cada momento em que Adrian declina. Sentimos o desespero dele de querer ajudar, mas também a dificuldade entre diferenciar o real da imaginação, perdendo um pouco de sua credibilidade com a polícia. Ou, mais que isso, estranhamos como ele aceita essas duas coisas como parte dele. E enquanto acompanhamos esse processo, nos desesperamos com Jennifer, que se mostra uma adolescente muito forte, mas que está em uma situação extrema… Até onde uma pessoa pode aguentar a perda do próprio mundo, e até da própria personalidade? Será que ela vai ser resgatada? Será que Adrian conseguirá ajudá-la?
E o fato de termos dois personagens que não possuem noção de tempo, o leitor também se encontra perdido, um artifício que achei genial. Temos então capítulos intercalados com pontos de vistas diferentes, mas não podemos mensurar exatamente quanto tempo se passou. Assim, a angústia se torna cada vez mais… Porque cada flash de lucidez de Adrian pode ser o último, e é impossível saber quanto tempo se passou entre eles…
O final é digno de um thriller. Confesso que fiquei chocada com o final, e até, porque não, um pouco orgulhosa… Mas claro, para que vocês entendam, só lendo para saber!