Camila Faria 03/10/2016Esse terceiro volume da série é dedicado à infância e a construção da identidade. Esses anos iniciais da vida são especialmente aterrorizantes para o jovem Karl Ove, que tem medo do barulho da água correndo nos canos, medo de assombração, medo do cachorro do vizinho e das raposas selvagens ~ e medo, especialmente, do pai. Conhecemos mais a fundo o universo familiar do autor, na figura benevolente da mãe e na figura tirânica do pai.
Eu praticamente respirei os três primeiros livros da série. Karl Ove (como ele prefere ser chamado) escreve sobre si mesmo de maneira tão honesta e devastadora , que é impossível não sentir empatia ~ e também uma espécie de identificação, mesmo que os fatos narrados estejam tão distantes da sua realidade. O New Republic resumiu muito bem essa sensação quando disse que “ler Minha Luta é como abrir o diário de alguém e encontrar os seus próprios segredos“.
No universo de Knausgård, as fronteiras entre a memória e a ficção se misturam a tal ponto que a sua própria vida é recriada e ressignificada. Saltos no tempo, digressões (longuíssimas) e flashbacks pontuam os diferentes momentos da narrativa, demonstrando o total controle e talento do autor. Não se engane, você não vai conseguir parar de ler.
A série tem sido de rodeada de controvérsias, a começar pelo título Min Kamp, deliberadamente emprestado da autobiografia de Adolf Hitler Mein Kampf ~ e cujos paralelos foram esmiuçados nesse artigo do The New Yorker. Knausgård também enfrentou ameaças de processos e indignação por parte de familiares e amigos, que não gostaram nem um pouco de ter suas vidas expostas de maneira tão incisiva e impiedosa. Mesmo que, no final das contas, quem acabe completamente exposto é o próprio autor.
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http://naomemandeflores.com/karl-ove-knausgard-minha-luta-1-2-e-3/