Carissinha 07/08/2015Há quem goste de livros recheados de ação, com muitos acontecimentos surpreendentes e surreais, com fatos distantes da realidade da vida. Eu mesma tenho meus momentos de leitura desse tipo, que me fazem fugir da realidade. Ainda assim a maioria das minhas leituras mais marcantes são de histórias que são tão "realistas" que chegam a deixar o leitor com uma dorzinha no coração, porque na vida real as coisas não são sempre satisfatórias. A vida não é um conto de fadas com felizes para sempre. A cada dia é uma nova luta e após uma realização acontecem fracassos.
Os livros do David Nicholls são assim. Histórias de pessoas comuns que tem inúmeros defeitos e, muitas vezes, qualidades não apreciadas. Que sorriem e choram como você e eu.
Em "Nós" conhecemos Douglas, o narrador do livro. Um homem de 54 anos que com a proximidade da ida de Albie, seu filho adolescente, à faculdade, resolve fazer uma viagem em família antes do garoto se mudar. Apenas ele, Albie e sua esposa, Connie. Detalhe: um dia, no meio da noite ela decidiu dizer a Douglas que deseja se separar após o filho sair de casa.
Douglas, com um otimismo que chega a ser irritante, parte com os dois e acaba descobrindo muito sobre seus relacionamentos durante a viagem.
Virei fã do David ao ler "Um Dia". "Nós" só confirma meu amor por este escritor. Com um tom que me soa mais leve que o do livro anterior, ele cria um personagem que apesar de pessoalmente não ter nada a ver comigo, eu acabei me apegando. Douglas é cientista, metódico, extremamente organizado, sem imaginação e sem muito entendimento artístico, o que é um problema para Connie e Albie. E talvez, na vida real, pudesse ser um problema para mim, já que tenho uma formação artística e não compreendo bem quem não tem apego à arte. Curiosamente não foi. Acabei achando Douglas bastante carismático. o mesmo não posso afirmar de Connie. Apesar de, ao terminar a história, não detestá-la, não posso dizer que gostei dela. Muito bem construída, a personagem é o oposto do marido. É artista, festeira, bastante sociável e muito egoísta. E o Albie segue a mesma linha.
O livro segue esses personagens pela Europa, alternando a viagem e o passado, desde quando Douglas e Connie se conheceram. Assim ficamos sabendo de cada acontecimento importante nos vinte anos que os dois passaram juntos.
Acredito que o autor consegue ter uma fluidez na escrita. Valeu a pena esperar cinco longos anos por um livro novo. Com capítulos bem curtos, a história passa rápido, mas faz você pensar, sem jamais perder o tom de "vida".
Pessoalmente foi uma excelente experiência. Agora espero não ter que passar mais cinco anos para ter um novo livro do Nicholls.
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http://www.sopaprimordial.com.br/2015/07/nos-david-nicholls.html