Caroline Gurgel 15/07/2015Viciante...Que leitura incrível!! Esse livro foi uma surpresa muito agradável, uma história bem melhor do que imaginei e diferente de tudo que já li. Não é o tipo de livro que eu escolheria na prateleira de uma livraria e talvez nem me interessaria se me contassem a história. Ainda bem que o ganhei e tive o prazer de lê-lo!!
Bullying?! Imaginei uma história batida, previsível e sem graça, daquelas que o garoto popular xinga e humilha o garoto sem jeito, o gordo, o tímido, o nerd, o feio, até que um dia precisa de sua ajuda, percebe que agia errado, se desculpa e muda da água para o vinho. Já li muitas histórias assim e uma hora elas cansam. Juventude Brutal não é nada disso. É cruel, é real! É viciante!
O romance de estreia do americano Anthony Breznican nos leva, aos anos 90, à St. Michael, uma escola particular católica conhecida pelos trotes que os veteranos fazem com os calouros. É lá que nos deparamos com o carismático Davidek, que logo faz amizade com Stein, um garoto cheio de enigmáticas cicatrizes no rosto, e com Lorelei, uma menina linda, mas nada popular, que está disposta a mudar essa situação. São os três personagens principais, todos calouros e meio solitários, apesar de suas qualidades, que irão passar por poucas e boas – ou muitas e ruins! – durante todo o primeiro ano do colegial.
Breznican abre o livro com um prólogo maravilhoso, de tirar o fôlego e aplaudir de pé. Uma das melhores introduções que já li, que trouxe com ela grandes expectativas e algumas teorias. Comparado ao prólogo, os primeiros capítulos são um tanto confusos e me entediaram um pouco. Porém, quando nos habituamos à escrita do autor e entendemos melhor a história que ele quer contar, é impossível largar o livro. Fazia tempo que eu não me deparava com uma leitura tão viciante!
A história é contada em 3ª pessoa e alterna o foco entre os personagens, o que nos aproxima bastante deles e nos permite enxergar tudo por diversos ângulos. A escrita é maravilhosa, feita com um esmero perceptível e um rico vocabulário. A estrutura da narrativa é muito boa, com uma montagem espetacular da personalidade daqueles jovens. Pouco a pouco, serpenteando entre as páginas, vamos descobrindo seus segredos e mistérios, vamos encaixando as peças que moldam suas atitudes e as compreendendo melhor.
Quando o bullying começa passei a me perguntar se tudo aquilo era meio caricatural, tamanha a crueldade. Parece exagerado, mas parei para pensar em casos reais que são noticiados comumente nos jornais e percebi que era, sim, um retrato de uma escola doente, com alunos problemáticos. Era a consequência de pais omissos e professores sem vocação.
Os personagens, mesmo os secundários, são muito bem construídos. Por trás de cada um deles há um porquê, há um motivo para cada atitude, por mais injustificável que seja. De alguns personagens senti raiva, de outros, pena. As histórias de suas vidas são de partir o coração e nos deixa meio melancólicos, como se sentíssemos todo aquele sofrimento. São personagens atemporais, adolescentes carentes de atenção, e, como tais, facilmente influenciáveis.
Preciso ainda dar destaque a Hanna, uma personagem espetacular. Talvez a melhor de todo o livro. Não quero dar spoilers, mas fiquei com uma dor no peito por ela muitas vezes. Aliás, é assim que nos sentimos em muitos, muitos trechos.
E os adultos? O que falar dos adultos desse livro? Todos culpados, todos negligentes! Famílias completamente desestruturadas, pais e professores que preferem se acomodar, que preferem não enxergar a tragédia diante de seus olhos. São injustos, até desumanos, e não param para ouvir o que os adolescentes tem a dizer.
Breznican conseguiu reunir em um só livro histórias terríveis de bullying e trote, histórias de amizade verdadeira, de traição, de mágoa, de segredos e de confiança. Conseguiu fazer uma crítica aos pais ausentes e aos educadores despreparados. Falou ainda em chantagem e seu poder de destruição.
Jovens precisam de bons exemplos, sem isso tudo desanda com facilidade. Eis a mensagem principal dessa história intensa, dura, real e triste.
Como não recomendar um livro que você não conseguia parar de ler? Fiquei sempre curiosa, querendo saber o que aconteceria, querendo entrar naquelas páginas e dar uns bons gritos e alguns conselhos. Esperava um final diferente, mais romanceado, mas, pensando bem, ele não poderia ter sido mais genuíno, mais real. Mesmo com toda dureza, é uma leitura viciante. Já falei isso, não?! :))
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"Os mocinhos nem sempre vencem no final. Às vezes, eles têm sorte de simplesmente continuarem sendo caras legais."
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