Naty__ 02/07/2015Injustiça é a palavra que define bem o mundo secreto, estranho e terrível que é viver dentro da prisão. A obra retrata uma longa jornada de Daniela Arbex para descobrir o destino de um guerrilheiro, além de derrubar a farsa de que um jovem militante político cometeu suicídio.
Arbex mostra, com maestria, como as pessoas, constantemente, lutam pela construção de uma sociedade livre e democrática, aqueles que sobreviveram à ditatura brasileira. Pode passar o tempo que for, todavia, o período mais conturbado por eles jamais será apagado; podem sepultar qualquer coisa, entretanto, a verdade jamais pode ser enterrada.
A história escrita pela a autora é real, o que torna qualquer sentimento multiplicado. A emoção contida na jornada de trabalho da repórter consegue emocionar a todos. Vivemos em um país cercado de injustiças; o que se declara, em nossa Constituição Federal, como um direito fundamental, não é visto e tratado de modo real. Como diria Dimenstein, tudo fica apenas no papel, mas a realidade é outra.
Em 1967, um militante político foi preso e nunca mais foi visto. Nesse período, isso poderia ser considerado comum, visto que no período da ditadura as prisões, torturas e mortes aconteciam de modo excessivo. No entanto, a obra de Arbex visa contar, com exclusividade, a história de Milton Soares de Castro. Ele foi integrante do primeiro e frustrado grupo de guerrilha pós golpe de 64.
A verdade é que Milton foi assassinado de forma cruel, enquanto estava na Penitenciária de Linhares. Os próprios militares forjaram documentos para fazer a população acreditar que tudo não passara de um simples suicídio. Entretanto, algo estranho acontece: o corpo está desaparecido. A ideia de Arbex é justamente esta: reconstituir o calvário de Milton, de seus companheiros e de sua família até sua morte e desaparecimento.
Embora seja um livro de cunho jornalístico, a história é narrada de modo a impressionar o leitor e emocionar-nos a cada descoberta. É possível contemplarmos como os seres humanos são tão cruéis a ponto de fazer tamanhas barbaridades. Mais do que um livro informativo, ele nos faz enxergar que o homem é capaz de fazer de tudo pelo seu próprio bem estar, nem que para isso seja necessário tirar a vida de outra pessoa e simular um suicídio. A que ponto chegamos? Arbex sabe nos dizer.
O título do livro é bem curioso e se encaixa perfeitamente à história. Além da capa bem trabalhada, a Geração cuidou da diagramação de modo belíssimo. Em seu conteúdo, somos contemplados com diversas imagens e cartas.
Este é o segundo livro da autora, o primeiro foi “Holocausto Brasileiro” - destaque no Brasil e em Portugal com mais de 100 mil livros vendidos.
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http://www.revelandosentimentos.com.br/2022/06/resenha-cova-312.html