Luiza 15/02/2023Coletânea de reclamaçõesComprei esse livro por indicação de uma colega do meu (antigo) Instagram de livros depois de uma propaganda meio enganosa, pois comprei achando que ia ser com livro com um estudo e uma crítica fundamentada em estudos sociais, históricos, econômicos e até alguma coisa saúde da mente x tecnologia, já que o autor é psiquiatra. No entanto, esse livro pareceu aqueles momentos que você senta com profissional na mesa de um bar, que ele deixa profissão de lado, e começa a falar um monte de asneira depois de ter bebido umas.
Até o penúltimo capítulo, tudo é conectado de forma muito abrupta, difícil de relacionar entre si (e não é ?ain nossa que complexo?, é ruim mesmo e provavelmente foi feito pro leitor se perder). Também não tem nenhum estudo ou fonte que corrobore com as informações jogadas para o leitor. Além disso, ele vem jogando problemas da sociedade e colocando a culpa na educação, mas ele claramente não sabe como funcionam as metodologias de ensino (e uma citação aleatória de Montessori não vai me convencer de que ele sabe, ou talvez eu seja uma sentimentalista, opa). Ele não desenvolve nenhuma das críticas jogadas, só vai emendando um assunto no outro, com comentários que fazem o leitor menos atento a acreditar.
Ainda não pesquisei sobre o que ele falou sobre o vício de heroína, mas como ele é médico, achei aquela informação muito perigosa. Acho estranha essa posição de falar que se tornar viciado em alguma substância exige esforço. Ele é um psiquiatra, deveria, no mínimo, desenvolver para o leitor as causas que levariam a pessoa a se tornar viciada (sim, a pessoa é que ingere a substância, mas ela não chega nesse ponto sozinha).
O único capítulo que eu achei muito interessante foi o do culto da vítima, ele trouxe umas histórias bem cabeludas (já tinha visto uma desse tipo que se desenrolou até em crime - uma mulher que fingia ser vítima do 11 de setembro e também virou líder de um grupo de vítimas). Aqui, o autor finalmente proporcionou assuntos para ficar refletindo depois.
Para finalizar, dois apontamentos: 1. Acho que o título poderia ser trocado, tem pouco a ver com o miolo, poderia deixar só ?Sentimentalismo Tóxico?; 2. Na apresentação o Pondé fala que as casas editorais brasileiras (e implicitamente academias brasileiras) só trabalham com textos de tradições marxistas e, por isso, o leitor brasileiro fica defasado para pensar sobre a sociedade atual. Sobre isso, desenrolo o item 2.1: Dalrymple não é um filósofo, é ok ter livros dele por aí, mas não tem como ter o mesmo prestígio de um Foucault, porque simplesmente o nível de discussão e encadeamento de ideias não chega no mesmo nível (e eu não sei se o próprio Dalrymple tem essa pretensão); 2.2: as teorias marxistas são ótimas bases para se pensar na sociedade atual, é só pegar uma obra do Adorno que você consegue traçar a situação do Brasil atual em âmbitos políticos; mas, claro, nem por isso devemos deixar de trazer pensamentos de outras correntes para o leitor brasileiro (mas preferiria que fossem autores com mais responsabilidade - a parte da heroína é bem difícil de engolir e tem outras também: páginas 24, 33, 38, 40 (nota), o capítulo 1 todo.