A Coragem do Primeiro Pássaro

A Coragem do Primeiro Pássaro André Dahmer




Resenhas - A Coragem do Primeiro Pássaro


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Elder F, 29/05/2015

Amor, Raiva e Saudade em A Coragem do Primeiro Pássaro
Em 2013, quando pela primeira vez entrei em contato com a poesia do Dahmer, encantei-me com a leveza e simplicidade com que o cartunista fazia poesia e me arrancava risadas de página em página em Minha Alma Anagrama de Lama. No entanto, André Dahmer, que é famoso por suas tirinhas politicamente incorretas e por seu humor ácido, já deixou escapulir por entre um sarcasmo e outro nas suas tirinhas um pouco de angústia e dissabor. No seu terceiro livro de poesia, A Coragem do Primeiro Pássaro, ele decidiu enfim colocar tudo isso para fora em três eixos temáticos principais, amor, raiva e saudade, que se modificam e se metamorfoseiam no outro conforme a leitura (ou a vida) prossegue.

Com a sua poesia, Dahmer percorre os caminhos do amor de acordo com a perspectiva do tempo que conduz e modifica as diferentes fases de um término de um relacionamento. Nas primeiras páginas, um eu-lírico imerso em ilusões que se despedaçam em sua volta se defende: "antes de virar essa coisa eu ria sorria gargalhava". Por meio das lembranças, a obra transpira uma saudade que nutre a crença em um amor que ainda pode acontecer, que ainda pode da escuridão se fazer de novo luz, pois o amor "ainda mora no meu coração". A primeira parte do livro, intitulada "Vocês não me conhecem", deixa explícita a dor de quando o amor termina e captura o leitor para o sofrimento tão comum a quem já amou.

Sem perder completamente o humor tão típico do Dahmer, a segunda parte da obra, "Agora é guerra", já começa me arrancando risadas. Esse sorriso inicial vem como boas-vindas ao que parece ser um novo momento, uma fase onde o eu-lírico deixou de acreditar que "ninguém deve perder a vida fazendo poesia" e agora tira poemas da miséria, dá casa, banho, comida e com eles recomeça a vida. "Hoje dói bem menos" e, de repente, quem já se viu na mesma situação vai se entregando, entendendo e vendo a própria história ser contada. No meio da raiva que transmuta para saudade, Dahmer cria esse ambiente de melancolia e nostalgia.

Quem já amou sabe como é difícil lidar com o término de um relacionamento, pois quando a gente julga o amor superado, de repente ele surge assim a partir da falta que o outro faz, do silêncio que o outro deixa. Dahmer faz com que o leitor viva essa ausência a partir da sua poesia e o nos leva para a noite escura em que o eu-lírico habita. Como já disse Drummond, "a ausência é um estar em mim" e nesse estar o eu-lírico vislumbra a escuridão que já faz parte do seu eu tão saudade, tão melancolia. No entanto, em alguns momentos o pessimismo ultrapassa o desengano amoroso para se constituir em uma visão um tanto quanto "maldita" do mundo, chegando até mesmo a mostrar um apelo da morte.

Na última parte da obra, "Ela era pra ser", uma aceitação branda se anuncia e, quando menciono branda, quero dizer que o amor ainda existe, mas a certeza do fim parece mais evidente e agora só restam os sentimentalismos. Descartando a resposta mais comum que se dá aos dramas amorosos (a de que tudo vai ficar bem), a obra finaliza com a máxima de que "não existe final feliz ou é final ou é feliz", pois a saudade sempre aperta junto com a solidão, ainda que em doses menores a cada dia. Com os temas privilegiados pelo autor pertencendo todos ao campo sentimental, às vezes fica a pergunta se as poesias não tem um teor confessional e analítico.

Diferente das outras obras do Dahmer, A Coragem do Primeiro Pássaro me surpreendeu por apresentar um lado mais denso e, até certo ponto, sombrio do autor. É como se você tivesse acesso ao diário daquele seu amigo mega engraçado e de repente se surpreendesse ao constatar que os sorrisos na verdade escondem melancolia e dor. Por causa disso, comentei com um amigo que eu andava lendo poesias que estavam resgatando alguns desencantos pessoais antigos, que estavam abrindo antigas feridas, jogando sal em cima e pressionado com o dedão indicador. Como resposta ao meu comentário, ele respondeu sem meias-palavras: "Esse escritor deve ser bom, então. Quem é?"

site: oepitafio.blogspot.com
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Thábata 01/03/2022

Na falta de árvores, abrace um poste
Nesse recado da morte, André Dahmer me presenteou com um livro delicado, que sedimentou um tijolo a mais na relação que eu, aos poucos, estou construindo com a poesia.
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Renata 23/07/2022

Vale a leitura
Amor que cega
Amor que deixa mudo
Amor que paralisa
Amor que move o mundo

Não é meu tipo de leitura, mas posso dizer que gostei.
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