Resenhas - Amor, Pobreza e Guerra

Otávio - @vendavaldelivros 22/02/2021

“O Deus deles já controla o passado e o futuro e tem domínio sobre o paraíso e pistas de como chegar lá. Seu reino, como dizem os cristãos, não é deste mundo. Mas em que mundo a religião realmente cobra obediência? Neste. Quão confusamente estranho.”

Em 2021 o atentado ao World Trade Center irá completar 20 anos. Vinte anos de um ataque terrorista que mudou a sociedade ocidental e pautou as discussões sócio-políticos de pelo menos toda a década seguinte. Para quem viveu esses anos, era impossível não saber quem era Osama Bin Laden, o Talibã, a Al-Qaeda e, posteriormente, Saddam Hussein. Revisitar esses períodos traz um ar de nostalgia, ainda mais nas palavras de um dos principais articuladores e jornalistas da época, Christopher Hitchens.

“Amor, pobreza e guerra” reúne diversos ensaios do autor sobre três principais temas, ao longo dos anos, até 2003. Nos ensaios sobre o “amor”, Hitchens fala sobre sua paixão pela literatura, faz resenhas sobre clássicos ou autores específicos. Ainda que com alguns bons textos, como o ensaio sobre “Admirável mundo novo” e o texto sobre James Joyce, essa talvez tenha sido a parte mais arrastada do livro. Prolixo demais, Hitchens acaba perdendo a mão e, até quando acerta falando sobre Churchill, exagera em explicações e conjecturas que não agregam informações para o leitor.

Já nos ensaios sobre “pobreza” Hitchens “nada de braçada” falando de uma de suas principais características: O ateísmo crítico em relação às instituições religiosas e seus dogmas. Além disso, mostra seu posicionamento de esquerda não convencional e dá uma aula sobre os absurdos propagados por David Irving e a negação do Holocausto. No ensaio sobre Madre Teresa, uma mostra de verdades conhecidas pela própria Igreja, mas negadas em prol de uma beatificação acelerada.

Por fim, são nos ensaios incluídos em “guerra” que Hitchens atinge o auge, como um crítico veemente das políticas norte-americanas que precederam o 11/09 e que alimentaram grupos terroristas como a própria Al-Qaeda com treinamentos, armas e informações. Sua vivência in loco torna tudo muito mais nítido ao mesmo tempo que mostra como o que acreditamos é só uma pequena janela para a realidade.

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