Camila Lobo 26/03/2017Resenha dupla: Uma Canção para a Libélula - Partes I e II (Por Livros Incríveis)PARTE I
Renomada pianista, Vanessa foi levada para Londres muito cedo. Entretanto, ela precisa voltar para o Brasil, onde seu passado a fará reviver seus fantasmas com mais intensidade, quando finalmente reencontra a mãe que a odeia e revive a morte do irmão mais novo. Com isso, ela finalmente conhecerá a quem chama de Vilã Cinzenta, que insiste em puxá-la para baixo.
Eu leio muitos livros que tratam da depressão, e até hoje, todos os que li foram muito bons, a cada um eu lia um pouco de mim mesma. Entretanto, a experiência que eu tive com Uma Canção para a Libélula foi um tanto diferente de qualquer outra que eu tivesse tido com outra obra.
Meu primeiro contato com Juliana Daglio foi muito positivo. Não sabia o que esperar de suas obras, mas sempre tive vontade de ler tanto esses como a trilogia O Lago Negro, devido às sinopses e capas belíssimas.
Dividido em duas partes, ambas funcionam como um divisor de águas na vida da protagonista; a primeira é regada a melancolia, onde as cores da capa de fato combinaram com o teor do conteúdo, que aborda a depressão voltando e apossando-se da protagonista, conforme situações complicadas vão "explodindo" ao redor dela.
A autora escreve muito bem, tratando um assunto denso com muita sutileza e intensidade, demonstrando muito entendimento do assunto (Juliana Daglio é formada em psicologia) e explorando bem a depressão e suas características, quase que em uma conversa indireta com o leitor.
"Era um peso que ficava cada vez mais fortefazendo com que eu afundasse mais e mais a cada minuto. Cada vez mais para baixo."
A cada página lida, o leitor sente na pele o sofrimento de Vanessa. Os medos, a tristeza, tudo é sentido, e ao final do primeiro volume, a angústia é palpável. Para completar, como dito no início, as partes são como um divisor de águas na vida da jovem mulher, o que significa que a Parte I termine em um momento crucial, tendo um enorme gancho, me deixando bem ansiosa para o que aconteceria. Portanto, caso vá ler Uma Canção para a Libélula, recomendo que faça como eu e adquira logo os dois volumes. Depois não diga que não avisei.
PARTE II
A luta continua contra a Vilã Cinzenta. Vencida uma importante batalha, Vanessa precisa permanecer forte se quiser se ver quase inteiramente livre dela. As feridas de uma morte precoce começam a cicatrizar e a pianista prodígio descobre-se mais poderosa do que nunca, ainda que precise finalizar assuntos inacabados e descobrir coisas indesejadas.
"Meus gritos eram mais altos e mais fortes do que eeu poderia controlar. Vinha de dentro de minha alma, de uma profundidade que eu nunca pude acessar, mas que estava emergindo com tamanha força que não havia mais como parar."
Ao contrário do primeiro volume, o segundo trata-se de recomeços, de renovação, de esperança.
Contendo o dobro de páginas, a segunda parte narra as descobertas de Vanessa sobre ela mesma, sabendo quem ela é e pelo que deseja lutar. É também sobre o perdão, tanto para si, quanto para as pessoas que ela magoou. Felizmente todas as questões que ou foram deixadas em aberto, ou foram superficiais no primeiro volume, são respondidas e aprofundadas agora, o que o tornou bem mais explicativo e detalhado.
Eu acho que o melhor da trama criada por Daglio está nos diálogos. Tanto na parte I quanto na parte II, há diálogos emocionantes, repletos de conteúdo. Sabe quando um livro tem diálogos que não parecem acrescentar muito ou às vezes parecem até mesmo vazios? Esse não é o caso de Uma Canção para a Libélula. São conversas carregas de sentimentos e sutilezas, mas fortes na medida certa. Que abrem nossa mente e nos fazem crescer na história junto da protagonista.
O único ponto que me incomodou ao longo da história foi a personalidade de Vanessa e o que eu chamaria de Síndrome do Floquinho de Neve. Por muitas situações, a protagonista só olhava para o próprio umbigo, momentos em que só ela poderia sofrer e sentir raiva, sem sequer compreender os motivos dos demais personagens. Isso levava a personagem a uma infantilidade extrema, que me deixou frustrada em muitos momentos. Felizmente, os diálogos - conforme dito anteriormente - a traziam de volta para a Terra, e logo Vanessa ficava interessante novamente.
Resumindo, é um livro inspirador, e mais denso do que qualquer outro que eu tenha lido sobre a depressão, principalmente a parte I. Portanto, fico receosa de indicar a história para quem está passando pelo ápice da doença no momento. Entretanto, indico animadamente para quem convive com a "Vilã Cinzenta", que está sob controle; pra quem gosta da temática e para quem quer ler um um ótimo livro.
Sobre a duologia:
Uma Canção para a Libélula foi dividido em partes I e II, e ambos foram lançados em segunda edição pela Editora Arwen em 2015 e 2016.
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