Thamyres Andrade 05/02/2017Independente do que aconteça, não pare de marcharEsse livro tava parado na minha estante fazia uns meses, até que, sem mais nem menos, resolvi desencalhar. E me deparei com um festival de tapas na cara.
Varke é uma cidade pequena, isolada das outras por um muro enorme e sem fim. Os militares que estão no poder agem de forma opressora e pessoas começam a aparecer mortas da noite pro dia, justificadas pelo Governo como casos de suicídio. Um toque de recolher é criado e regras severas são impostas. Aquele que desobedece, some misteriosamente. Simples assim. Então, enquanto todos os moradores parecem apáticos e conformados com essa situação aterrorizante, Kyia resolve ir atrás de explicações, investigar os militares e se arriscar a fim de proteger o povo, evitando mais desaparecimentos. Até descobrir que ela e sua família correm muito perigo.
Preciso dizer que o início da narrativa não me prendeu muito. Não sei dizer bem porque. Nada de muito extraordinário acontecia e algumas cenas estavam sendo um tanto previsíveis. Mas me forcei a continuar e ele foi engrenando aos poucos.
Achei que o desfecho foi muito bem elaborado e me prendeu bastante, tanto que terminei sem sentir. Algumas cenas me causaram certa agonia e desconforto e fiquei visivelmente angustiada. Reviravoltas excelentes foram acontecendo e a impressão que deu foi que a autora veio cozinhando o leitor em água morna desde o começo pra poder soltar uma enxurrada de informações no fim.
Não sei até que ponto isso foi positivo, porque se a escrita da Esther não fosse tão boa e dinâmica, talvez eu tivesse desistido no meio do caminho. Mas ainda bem que insisti, porque o desenrolar da história acabou suprindo o que faltou no início.
Devo ressaltar também a ausência de explicações fundamentais - pelo menos pra mim, sobre o motivo de determinados acontecimentos. Cheguei à última página acreditando que iria encontrar algumas respostas, e nada. Se a ideia da autora era deixar algo no ar, não funcionou. Porque no ar só ficaram dúvidas mesmo.
Contudo, não dá pra enumerar as reflexões contidas em todos os capítulos, além de temas polêmicos terem sido abordados. Até onde você iria por amor a alguém? Será que ariscaria a sua vida pra salvá-la? Tentar proteger a si próprio é egoísmo ou sensatez?
Adorei a força e coragem de Kyia e achei Asir, companheiro dela, um frouxo. Odiei com todas as minhas forças o Governo ditador e o Major Gowon. Falaria poucas e boas pra ele, se tivesse oportunidade. As críticas sociais presentes em "A marcha dos javalis" são inúmeras. Muito mais do que as se encontram escritas, explícitas. Certamente esse é um livro pra ser lido nas entrelinhas. A lição que fica é: independente do que aconteça, não pare de marchar. Nota 4.