spoiler visualizarSunny 15/02/2023
Serei julgada, tenho certeza, mas decidi resenhar mesmo assim.
Costumo ler livros mais curtos e leves bem rápido, isso quando o enredo me interessa e me envolve de tal maneira que mergulho naquele universo a ponto de ficar pensando nos personagens por dias ou até semanas, mas não foi o caso.
Li 3 livros de As Mais para vencer o preconceito que tenho contra histórias desse tipo porque a verdade é uma só: tudo gira em torno de ser bonita, famosa e, claro, ter um namorado. Não à toa TODAS as MAIS têm de repetir umas mil vezes a palavra "namorado", o que é bem irritante.
Parece idiota dizer que tive gatilhos durante a leitura das 3 obras da série porque...
1) Ser solteira é tido como um "crime" porque ao longo do primeiro volume TODAS arranjaram um namorado, que, claro tinha olhos azuis ou verdes;
2) Tudo gira em torno de ter um namorado, o que é meio óbvio, não pela idade das personagens, mas porque esse era o parâmetro de sucesso e competência;
3) As personagens são meio forçadas e parecem pensar igual demais, às vezes as falas não condizem com o que diriam meninas reais da faixa etária, até porque adolescentes fazem merda, é inevitável, faz parte de crescer, quebrar a cara e aprender;
4) A Ingrid é muito forçada: ninguém é tão boazinha, tão zen e tão melosa O TEMPO TODO, tão melosa que dá enjoo, isso sem falar naquela forçação de barra infinita sobre ser menina;
5) Ninguém tem espinhas, celulites, nada;
6) Os pais da Susana se separaram e, tipo, em pouco tempo ela já estava falando sobre superação, quando na verdade, mesmo com todas as diferenças, a separação dos pais é uma mudança muito grande na vida da criança/do (a) adolescente e está tudo bem se sentir triste porque é normal, aceitável, justo, mas me parece que nesse livro não foi assim;
7) Só em livro teen mesmo que uma menina de 15 anos que escreve pensamentos num diário e a toque de caixa teve livro publicado porque isso não é verdade, como também não é tão simples assim escrever, editar, publicar um livro, o que dirá vender, sem falar no quanto a beleza padrãozinho é enaltecida, todos têm que sempre babar o ovo da Ana Paula e da Susana, que são altas, magérrimas, peles perfeitas e só têm virtudes;
8) E quanto à Mari? Ela mal começou a fazer curso de teatro e apareceu em comercial, blá-blá-blá, como se tudo fosse assim tão fácil? Bom, talvez pra quem tem beleza padrãozinho seja mesmo;
9) Eu me senti presa àquelas novelas adolescentes dos anos 2000 que incentivavam transtornos alimentares, depressão e insatisfação com a própria vida por mostrar uma realidade restrita a muito poucos ou então irreal de uma vez por todas, vai?;
10) Meninos querendo dizer como meninas devem agir para agradá-los e o tempo todo os 4 casais estarem sempre juntos, como se não tivessem vida própria além do namoro;
11) Todos os adolescentes já têm seus reconhecidos e certeza do que farão no futuro, sendo que na vida real muita gente não sabe o que fazer com a vida, e está tudo bem, até gente decidida pode mudar de ideia, não tem uma regra específica incentivando isso ou refutando aquilo, só que eu podia ter ideia do que curtia, mas muitas vezes também não tinha tanta certeza assim, o que dirá os meus amigos;
EU SEI E RECONHEÇO que a autora não prometeu "militância", nem é essa a questão porque minha expectativa não foi pautada em questões políticas, pelo menos na superficialidade do julgamento.
Ao que se diz respeito da narrativa, todos os fios ficam bem amarradinhos e a autora entrega sim o que promete, dentro do proposto, mas para mim, foi uma experiência bem ruim, ainda mais porque mexeu com gatilhos pesados, mesmo não parecendo.
Enfim, eu nunca tive um grupinho só de amigas de infância, só consegui fazer amizades verdadeiras depois da 8ª série, não tive grupinho para ir almoçar no shopping depois da aula, tudo porque eu sofria bullying e era excluída, então ler essa série fez eu me sentir culpada pelo desastre que foi o ensino fundamental em um saldo sincero. Pode parecer exagero para quem teve algo parecido com as personagens e está tudo bem, viu? Você não precisa se sentir mal por ter sido abençoada.
Quanto a publicar livros, eu comecei a escrever quando era criança, mas não gostava de mostrar para ninguém porque não me sentia confortável, morria de medo de ser julgada, ridicularizada e humilhada, só consegui vencer aos poucos essas dificuldades quando encontrei amigos que me motivaram a chegar aqui hoje, então nada foi fácil que nem foi para a Aninha, que o professor best-seller leu, mostrou para um amigo e a guria publicou um livro com direito a sessão de autógrafos no shopping e tudo em, tipo, um TRÊS meses, sendo que até hoje ser publicada da forma tradicional é uma utopia e eu nem pretendo encanar com isso...
Eu nunca namorei. Nunquinha. Não vivi altas histórias como as meninas, cometi o crime de não namorar na adolescência e, portanto, ao ler eu me senti horrível por sempre ter sido sozinha ou porque as pessoas interessantes ou vão embora ou nem olham na minha cara (isso não mudou muito hehe) e esses gatilhos ficaram martelando na minha cabeça até eu refletir a respeito do que realmente importa.
Para quem curte livros com cara de série teen e que tudo termina sempre bem, só tenho um conselho a dar: vai fundo, pois você vai amar.
Não é só porque o livro não serviu pra mim que não pode servir pra mais ninguém.