Tijucamérica

Tijucamérica José Trajano




Resenhas - Tijucamérica


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Letra Capitular 25/07/2017

Tijucamérica
A pena saudosa do jornalista e escritor José Trajano produziu um livro digno do realismo mágico de Gabriel Garcia Marquez e das melhores alegorias do mestre Saramago, Tijucamérica uma chanchada fantasmagórica, livro recém lançado pela Editora Paralela, narra a história entrelaçada do bairro da Tijuca e do saudoso time do América, o segundo time de todos nós.

Trajano reuniu os maiores pais de santo, místicos e religiosos para reviver um time do América com os melhores jogadores de todos os tempos, torcedores ilustres, dirigentes, roupeiros e massagistas que viveram os tempos áureos do clube de Campos Sales. Sua história se confunde com as peripécias de garoto no bairro da Zona Norte do Rio e as façanhas dos jogadores do clube rubro da Tijuca.

Sua chanchada fantasmagórica causa alvoroço em conservadores do tradicional bairro e também em concorrentes do campeonato carioca, como o Tal Miranda, até a FIFA e a cartolagem entram na roda, mais isso eu deixo o Trajano contar.

José Trajano em seu livro transformou o medíocre campeonato carioca em um dos mais glamorosos palcos para o futebol mundial, até com a benção do Papa Francisco, com a cobertura dos mais prestigiados jornais esportivos do mundo.

Para provar a genialidade da pena de José Trajano nada mais justo do que um trecho de sua obra sobre o novo Maracanã

“O tempo estava esquisito, um céu de cor de chumbo escurecia a tarde. Fazia um calor abafado e os jogadores suavam bicas.

A turma olhava o ventiário, achava estranho: banheiras térmicas, chuvveiros, armários, espelhos, bancos, iluminação, mesa de massagens. Nada se parecia com o que estavam acostumados a ver em muitos anos de profissão. Começaram a ficar impacientes.

Tá parecendo banheiro de rendez – vous chique, ironizou Romeiro.

Martin Francisco sentiu o clima, ordenou fizessem a oração e fossem imediatamente para o gramado.

Subir as escadas, reencontrar o Maracanã era o que mais desejavam desde que voltaram do além.

A oração foi estranha. De mãos dadas, os jogadores oravam aos gritos, olhos fechados, rostos crispados. Antes de subir para o campo se enfiaram nos cantos, acenderam velas, fizeram promessas.

Ao lodo de Pompeia e Ari puxei uma salva de palmas pelo momento encantado e gritei Saaangue!, todo mundo acompanhou.

E foram para o campo. Pisaram no gramado, cumprimentaram a torcida, e, ficaram balançando a cabeça em sinal de reprovação, deram meia – volta e se retiraram para o vestiário. Eu presenciava tudo de perto, mas sem entender o que estava acontecendo corri atrás deles.

Enganaram a gente. Este aqui não é o maracanã, onde foi parar o maior do mundo?, berrava o lateral Jorge.

Cadê, onde está a geral, meu Deus?, gritava o goleiro Ari.

E a charanga do Jaime e o clarim de talo de mamão do Ramalho também vão desaparecer?, choramingava o grandalhão Leônidas da Selva.

Maneco, que desabava por qualquer coisa, soluçava. Wilson Santos chutava a parede. Orlando Lelé parecia desmaiar. Braúlio implicava com a falta do eco do grito das torcidas, um lado não ouve o que o outro está gritando; Pompeia não entendia que os torcedores não pudessem ir de um lado para o outro para acompanhar o ataque de seu time no segundo tempo. João Carlos dizia que as cadeiras pintadas de azul e amarelo eram para disfarçar, um fingimento para mostrar que o estádio estava cheio.

O meia Lima, do ataque tico – tico no fubá que nem no banco de reservas ficou, era o mais desolado, trabalhou durantes anos no Maracanã depois que encerrou a carreira: cuidava do gramado, das redes, enchia as bolas, chefiava os gandulas, fiscalizava a limpea dos vestiários e controlava a entrada das equipes no campo. Uma espécie de zelador do estádio. Quando deu de cara com o New Maracanã passou mal, desfaleceu. Pai Jeremias e o médico tiveram trabalho para reanimá-lo.

Levei um tempão para explicar que do mesmo jeito que fecharam os cinemas de rua, acabaram com o Maracanã. Contei que foram obras superfaturadas, exigências descabidas da FIFA e ganância, como sempre, das empreiteiras. Era a tal modernização. E que também eu era contra. Mas não havia o que fazer. Era jogar ou jogar.

Os jogadores choravam mais um pouco, deram-se as mãos, rezaram de novo, xingaram. E, liderados por Ari, o mais revoltado, firmaram um compromisso de ganhar o jogo de qualquer jeito. Assim, aplacariam a dor de constatar que o Maracanã que os consagrou não existia mais.

Vamos lá dar uma lição nessa gente. Somos filhos do Maracanã e eles são uns filhos da puta”

site: https://letracapitularblog.wordpress.com/category/jose-trajano/
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