Euflauzino 24/02/2018Aponte um lugar no planeta e lá haverá alguém sofrendo
Cá retornamos ao rico e complexo universo de Wild Cards e eu já estava com saudades. Em Ases pelo mundo – Livro 4 (Leya, 544 páginas), além da narrativa das histórias em si, há entremeado aos acontecimentos o ponto de vista conflituoso da “repórter” Sara Whitman e do prefeito do Bairro dos Curingas, Xavier Desmond, através de seu diário de bordo, ambos sutilmente manipulados pelo poder oculto do senador.
Após a desastrosa comemoração dos 40 anos do Dia do Carta Selvagem, acidente que espalhou o vírus pelo planeta, a Organização Mundial de Saúde e o senador Gregg Hartmann, “defensor” dos infectados pelo vírus, um ás que oculta seu poder de todos com intenções pra lá de sombrias, um lobo em pele de cordeiro com ambições presidenciais, planejam às pressas uma viagem ao redor do mundo para conhecer de perto os problemas dos atingidos e implantar um programa humanitário que seria de grande valia para a plataforma política do senador.
Entre os convidados estão representantes de ases, curingas, imprensa e políticos. Aos poucos vão sendo reveladas as verdadeiras intenções do senador e a sombra vultosa de seu adversário, o pastor Leo Barnett, um fanático religioso, começa a ganhar forma e força junto aos “limpos”.
E é nesta viagem que os autores acertam em cheio ao mesclar o universo ficcional à realidade. Temos tantas personalidades históricas que vamos lentamente fazendo uso do velho e bom google para rememoramos ou tomarmos conhecimento de nomes como Baby Doc (Jean-Claude Duvalier) e seus Tonton Macoute, no Haiti; a rivalidade entre ladinos e quiches, na Guatemala; Idi Amin, ditador de Uganda; os conflitos bíblicos em Jerusalém; a organização guerrilheira Baader Meinhof, na Alemanha; entre tantas outros acontecimentos, personalidades, culturas e mitologias peculiares.
“Era uma câmara de tortura, decorada com dispositivos antigos que pareciam bem-cuidados e recentemente usados. Uma dama de ferro estava recostada, meio aberta, contra uma parede, os espetos em seu interior cobertos por cascas de ferrugem ou sangue. Uma mesa cheia de instrumentos, como atiçadores, cutelos, escalpelos, esmaga-dedões e esmaga-pés, estava perto do que Crisálida imaginou ser um cavalete de tortura. Ela não sabia ao certo, porque nunca tinha visto um, nunca pensou que veria, nunca, jamais queria ter visto um.”
É o mundo cão mais uma vez dando as caras. É natural que os curingas sejam a mola que impulsiona todas as histórias, afinal de contas o preconceito está na raiz de todo o universo de Wild Cards.
“Sou curinga desde o início. Quarenta anos atrás, quando Jetboy morreu nos céus de Manhattan e espalhou o carta selvagem sobre o mundo, eu tinha 29 anos de idade, era consultor de investimentos em um banco, tinha uma esposa adorável, uma filha de 2 anos e um futuro brilhante. Um mês depois, quando finalmente recebi alta do hospital, eu era uma monstruosidade com uma tromba de elefante cor-de-rosa crescendo no meio do rosto, onde antes havia meu nariz.”
Temos histórias de heróis poderosos na Marvel ou na DC (só para citar dois dos mais famosos), tanto quanto em Wild Cards, mas anti-heróis cheios de problemas, deformidades físicas e psicológicas e como isso afeta os que estão ao seu redor você encontra em poucos lugares. Aqui temos histórias para gente grande.
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