Bruna 27/05/2016À flor da pele foi o primeiro livro que li de Helena Hunting, uma autora muito recomendada por várias amigas, e é um romance adulto que fala sobre perdas, traumas e superação. O livro é o primeiro de uma duologia, e foi publicado no Brasil pela Suma de Letras. Para quem não curte ficar esperando continuações, se alegre, pois Marcados para sempre, o segundo volume, já está nas livrarias.
Tenley Page é uma jovem tímida e quieta, que se mudou de cidade para fazer mestrado. Ela trabalha na loja de antiguidades e confeitaria da tia de Hayden Stryker, um tatuador que tem um estúdio de tatuagem do outro lado da rua. Logo no início do livro nos damos conta do quanto Hayden está interessado em Tenley, e sempre procura desculpas para ir a loja da tia, para ver a moça. Isso rende cenas ótimas, pois ele dá altos vacilos perto dela, na tentativa de chamar atenção, o que difere completamente do comportamento de outros protagonistas ditos badboy dos livros do gênero.
Tenley também se sente interessada por Hayden, mas a intensidade do rapaz a intimida. Ela faz amizade com Lisa, que é namorada de Jamie, sócio de Hayden, e também quem coloca piercing no estúdio. Ao decidir fazer uma tatuagem nas costas, Tenley procura Hayden, e isso os aproxima.
Aos poucos, enquanto acompanhamos a evolução do relacionamento de Hayden e Tenley, vamos mergulhando no passado dos protagonistas, e vendo como suas experiências moldaram o comportamento atual. Tenley é a sobrevivente de um grave acidente que matou todos a quem ela amava, e as cicatrizes dessa perda são muito mais profundas do que as físicas. Filha de pais conservadores, e noiva de um homem ainda mais, ela se sente culpada pela atração que sente por Hayden, que é muito mais forte e visceral do que a que sentiu pelo falecido noivo. O interessante da personagem é a sua dualidade, entre a jovem tímida, mas que tem um quê de rebeldia, e que sabe ser ousada e sexy quando finalmente se deixa levar pela atração que sente por Hayden.
“Parecia que eu estava sendo despedaçada, arrastada para o passado enquanto lutava para permanecer no presente.”
Pag. 262
Hayden faz todo o tipo badboy, com suas tatuagens, jeito turão e passado regado a drogas e outros vícios. Porém, ele é o típico exemplo de pessoa julgada por um esteriótipo. Adorei essa abordagem da autora, de mostrar a forma como ele intimida alguns, e gera preconceitos em outros baseado em sua aparência. Porém, ele é, na verdade, um cara bem sensível, com TOC para organização, que lê clássicos literários e filosóficos, e que se tornou fechado e reservado devido a seus próprios traumas. Tenley é a primeira pessoa para quem ele se abre em anos!
O livro pode parecer clichê, por abordar a questão de protagonistas traumatizados, mas é mais profundo do que isso. Os traumas de Tenley são muito recentes, e ela os traz na pele, literalmente. Enquanto isso, a vulnerabilidade demonstrada no comportamento de Hayden, desde o início, o diferencia de outros protagonistas do gênero. O livro ainda abordar outras questões decorrentes dos problemas dos protagonistas, como o abuso de poder de pessoas em posição de autoridade sobre outras que se encontram em momentos de fragilidade. A questão da tatuagem e modificação corporal como arte que cura e abranda a dor e o sofrimento, foi outro ponto alto.
“- As pessoas não mudam.
- As pessoas se adaptam. Você era novo. As escolhas que você fez na época não são as mesmas que você faria hoje. Tenley é a prova disso. Isso se chama crescimento pessoal.”
Pág. 202
Os personagens coadjuvantes de destaque foram os sócios de Hayden, Chris e Jamie, sua amiga Lisa, e Sara, a vizinha de Tenley. Ainda temos o detestável Trey, um detestável parente do falecido noivo de Tenley, que vive pressionando a jovem e usando e abusando da culpa (de sobrevivente) que ela sente.
A escrita da autora é gostosa e flui bem, com narração em primeira pessoa intercalando capítulos de Tenley e Hayden. O livro tem uma carga dramática bem acentuada, mas que não apaga o teor mais adulto e sensual, com cenas de sexo bem feitas, nada vulgar, porém não recomendada para menores, ou pelo menos menores de 16 anos. A diagramação do livro é bem feita e não percebi erros de revisão ou tradução, e a capa é muito bonita, embora a tatuagem da modelo seja simples, diante da linda, complexa e profunda imagem que Tenley criou para si mesma.
Gostei muito de À flor da pele, mas não foi um livro que eu tenha amado profundamente. Não sei explicar, pois apesar de ter adorado a história, não cheguei a me apaixonar pelos protagonistas. Mas isso não muda o fato de que foi uma leitura muito agradável, que me surpreendeu por ter uma profundidade maior do que eu esperava.
O final do livro é bem conturbado e deixa o leitor bem curioso para saber o que há por vir e como alguns problemas serão resolvidos. Ainda bem que eu já comprei o segundo livro, então não preciso morrer nessa curiosidade, rs. Além do livro 2, Marcados para sempre, também há um conto da série, que narra acontecimentos anteriores ao primeiro livro, chamado Doce tatuagem, e publicado exclusivamente em ebook.
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